Lula jamais se deixará ser humilhado em reunião com Trump, diz Celso Amorim

Uma image de notas de 20 reais

Imagem gerada por IA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assuntos internacionais, disse à Folha de S.Paulo nesta segunda-feira (29) que o presidente jamais se deixará ser humilhado em eventual reunião presencial com Donald Trump.

As diplomacias dos dois países trabalham para que haja um encontro entre os líderes depois de sinalização nesse sentido do presidente americano durante a Assembleia-Geral da ONU.

Há temor, entretanto, de que Lula seja alvo de emboscada, como ocorreu quando outros líderes mundiais se reuniram com Trump. Questionado pela reportagem sobre a possibilidade de haver armadilha ou humilhação quando os dois se encontrarem, Amorim disse: “Lula jamais se deixará humilhar por Trump. Essa possibilidade não existe, pode tirar da cabeça”.

Em fevereiro deste ano, o americano e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, bateram boca diante de jornalistas depois que Trump acusou o ucraniano de tentar causar a Terceira Guerra Mundial e de não ser grato o bastante pelo apoio americano na guerra contra a Rússia.

Além disso, em maio, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, precisou assistir a um vídeo apresentado por Trump no Salão Oval que pretendia mostrar, com imagens tiradas de contexto, a existência de um “genocídio branco” na África do Sul. Já o premiê do Canadá, Mark Carney, precisou ouvir de Trump “nunca diga nunca” quando reafirmou que seu país jamais seria um estado anexado pelos EUA.

Os três episódios, assim como outros momentos de desconforto e atritos entre Trump e líderes mundiais, levantaram o temor de que Lula pudesse ser alvo de constrangimento semelhante, o que motivou a busca do Itamaraty por uma ligação anterior a um encontro presencial -que aconteceria em um país neutro.

Depois de breve contato entre os dois líderes na Assembleia-Geral da ONU no último dia 23, Trump disse em seu discurso às delegações que teve ‘”excelente química” com Lula e que eles poderiam se encontrar em breve. A possibilidade mais aventada, e mencionada nesta segunda por Amorim, é uma reunião em outubro na Malásia, onde os dois comparecerão como convidados à cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático).

O assessor especial reforçou, entretanto, que a data e local do encontro ainda não estão definidos. “Pode ser que a Malásia seja a melhor opção, mas o mais importante é que a reunião seja produtiva, como querem os dois países”, complementou.

Para Amorim, há vontade de Trump e de Washington de que uma reunião se concretize. “O Departamento de Estado não é contrário a uma ligação antes de um eventual encontro. É muito importante que [o governo americano] reconheça que o Brasil é um grande país, que é essencial que tenhamos boa relação e uma boa discussão nos temas em que há desacordo”, afirmou, mencionando questões comerciais -Lula já disse que vai colocar “tudo na mesa”, mas que aspectos como a soberania brasileira são inegociáveis.

O assessor especial, que estava em Nova York para a Assembleia-Geral, ressaltou que, embora no discurso preparado Trump tenha feito duras críticas ao Brasil, quando improvisou, elogiou Lula. “O contato pessoal sempre é muito importante, ele pode mudar tudo”, afirmou, minimizando a conhecida imprevisibilidade do americano. “O mundo é imprevisível, aprendi isso nos meus 83 anos.”

“Não se imaginava que o presidente Lula pudesse ter uma boa relação com o presidente [George W.] Bush, mas foi o que aconteceu”, afirmou, relembrando os contatos amigáveis que o brasileiro manteve com o americano em seu primeiro mandato, apesar de divergências sobre a Guerra do Iraque -na época, a diplomacia brasileira atuou para barrar uma chancela da ONU à invasão do país árabe pelo governo Bush, criando tensão entre Brasília e Washington.

Sobre o plano de Trump para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, divulgado pelo republicano nesta segunda, Amorim disse esperar que o movimento viabilize um Estado palestino. “O Brasil quer uma solução de dois Estados, com palestinos vivendo lado a lado e em paz com israelenses, e acredito que muitas pessoas dentro de Israel também têm essa visão, de que é preciso respeitar os direitos dos palestinos.”

O assessor especial esteve na capital paulista nesta segunda para o evento USP Pensa Brasil, organizado pela Universidade de São Paulo. Na fala, cujo tema era “O Brasil e a nova desordem mundial”, o ex-ministro das Relações Exteriores disse: “Sou otimista. A desordem geralmente é uma transição para uma ordem melhor. Acredito na capacidade da humanidade de fazer esse movimento”.

MAIS LIDAS

Voltar ao topo