BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) cobrou nesta terça (29) os três ministros do União Brasil sobre a falta de apoio do partido e sobre declarações do presidente e líderes da sigla com críticas ao governo. Parte da legenda ameaça entregar os cargos e ir para a oposição quando for formalizada uma federação com o PP para disputa das eleições.
A reunião com os ministros foi convocada no fim de semana, após as falas dos dirigentes do partido, e não constou da agenda oficial do presidente. Participaram Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), Celso Sabino (Turismo) e Frederico Siqueira (Comunicações), além da ministra Gleisi Hoffmann (PT), responsável pela articulação política do governo.
Lula, de acordo com relatos, está incomodado com as declarações do presidente do União Brasil, Antonio Rueda, e do líder do partido no Senado, Efraim Filho (PB).
Rueda fez críticas diretas ao presidente em evento da XP Investimentos, em São Paulo. “O governo Lula é triste. Não consegue entregar à sociedade o que a sociedade precisa. Não consigo enxergar mudança. Não consigo ver nossa sociedade equilibrada e ter alguém que enfrente de verdade os problemas”, afirmou.
Já Efraim recebeu a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) em evento na Paraíba, se lançou pré-candidato ao governo local e avisou que entregaria os cargos que indicou no governo federal, como a chefia da superintendência da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) no estado.
“É inadmissível ver uma condenação cautelar de Jair Bolsonaro e ver o pivô da Lava Jato ser colocado nas ruas livres, por invalidar provas”, afirmou o líder do União Brasil no Senado.
As críticas diretas incomodaram Lula, que chamou os ministros para entender os motivos dos ataques pessoais. O petista não fez ameaças de demissão, segundo relatos de duas pessoas, mas mostrou descontentamento e buscou dar um recado de insatisfação.
O presidente afirmou que compreende o partido querer lançar candidato próprio em 2026, mas que as críticas foram fora do tom e procurará outras lideranças do partido para entender a situação e mostrar seu descontentamento. Ele deve se encontrar com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), na volta do recesso parlamentar.
Integrantes do União Brasil também dizem que Lula deve se encontrar com o presidente do partido. A última conversa entre eles, em julho, foi considerada dura, e ocorreu no dia seguinte ao Congresso derrubar o decreto presidencial que aumentou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), num clima mais beligerante.
Na ocasião, Lula já havia manifestado irritação sobre o desempenho do partido na base de sustentação do governo. Rueda se queixou de não ter sido recebido por Lula nos dois primeiros anos deste mandato, apesar de chefiar um partido da base aliada. O petista, por sua vez, declarou sua insatisfação com o comportamento da legenda no Congresso.
O União Brasil formalizará uma federação com o PP no dia 19 de agosto, o que obrigará os dois partidos a atuarem juntos durante os próximos quatro anos. Rueda e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), tem defendido convocar as bancadas para proibir a participação de filiados no governo Lula, mas outras alas são contrárias ao desembarque.
Lula sabe que não contará com o apoio formal do partido à sua reeleição em 2026. Porém, espera que políticos da legenda o apoiem em alguns estados, e garantiu na conversa que apoiará as candidaturas de Sabino e Waldez Góes ao Senado. Eles vão concorrer pelo Pará e Amapá, respectivamente. Para isso, ambos deixarão o governo até abril.
MDB
Antes do encontro com os ministros do União Brasil, Lula almoçou com ministros e líderes do MDB, mas num clima mais descontraído, para tratar do cenário da eleição de 2026 e fazer uma avaliação sobre os prognósticos do governo.
O MDB possui três ministérios: Renan Filho (Transportes), Jader Filho (Cidades) e Simone Tebet (Planejamento). A ala governista do partido defende uma aliança formal com o petista, e ocupar a vice que hoje é do PSB, mas a maioria da sigla é contra a aliança.
O almoço foi parte da rodada de conversas com os partidos da base organizada pela ministra Gleisi Hoffmann. Na semana anterior, Lula almoçou com o presidente do PSB e prefeito de Recife, João Campos, e com a cúpula do partido.