SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os mediadores das negociações por um cessar-fogo entre Israel e Hamas aguardam, nesta terça-feira (19), a resposta de Tel Aviv a uma nova proposta de trégua na Faixa de Gaza, um dia após o grupo terrorista aceitar o plano apresentado e mostrar disposição para acabar com a guerra que empurrou o território palestino a uma catástrofe humanitária.
Ao longo dos 22 meses de conflito, as duas partes mantiveram diálogos esporádicos que resultaram em duas breves tréguas e na libertação de reféns israelenses em troca de prisioneiros palestinos, mas não conseguiram alcançar um acordo para um cessar-fogo duradouro.
Os esforços foram mediados por Egito e Qatar, com o apoio dos Estados Unidos. Agora, a nova proposta prevê uma trégua de 60 dias e a libertação dos reféns em duas etapas. “A bola está no campo israelense”, resumiu o diretor do serviço de inteligência egípcio.
De acordo com um membro do Hamas, o texto inclui a libertação de 200 condenados palestinos presos em Israel e um número não especificado de mulheres e menores presos em troca da retirada de 10 reféns vivos e 18 mortos de Gaza. A proposta se assemelha a um plano anterior apresentado pelo enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, que Israel já havia aceitado em outro momento.
“O Hamas e as [outras] facções esperam […] que Netanyahu não imponha obstáculos ou barreiras à implementação do acordo”, afirmou Izzat al-Rishq, membro do comitê político do Hamas, à AFP. De acordo com a emissora pública israelense Kan, no entanto, Tel Aviv está exigindo a libertação de todos os 50 reféns mantidos em Gaza.
Desde o início do conflito, Tel Aviv diz que interromperia os ataques se todos os reféns fossem libertados e o Hamas depusesse as armas. A facção, por sua vez, recusa essa última exigência sob o argumento de que só faria isso após o estabelecimento de um Estado palestino.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, ainda não se pronunciou, mas advertiu na semana passada que só aceitaria um acordo “no qual todos os reféns sejam libertados de uma só vez” e segundo as suas condições. Nesta segunda (18), limitou-se a dizer que o Hamas “está sob imensa pressão”, sem comentar as negociações.
O premiê enfrenta pressão internacional e doméstica. No ataque de 7 de outubro de 2023, que deu início ao conflito, o Hamas sequestrou 251 reféns, dos quais 49 permanecem em cativeiro em Gaza, incluindo 27 mortos, segundo o Exército israelense. No começo do mês, o grupo terrorista e seu aliado Jihad Islâmico divulgou vídeos de reféns desnutridos.
Alguns dos extremistas que compõem seu gabinete, como o ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, afirmam que seria uma tragédia se Netanyahu “cedesse ao Hamas”. O anúncio da nova proposta de cessar-fogo aconteceu no momento em que o Exército israelense tenta assumir o controle da Cidade de Gaza e dos campos de refugiados da região.
A Defesa Civil de Gaza relatou pelo menos 37 mortes no território nesta terça, cinco delas em um bombardeio aéreo no bairro de Zeitun e uma em um ataque de drone no vizinho Sabra, ambos localizados na Cidade de Gaza. Segundo testemunhas, uma coluna de veículos blindados estava posicionada em Sabra.
A ofensiva israelense já matou mais de 62 mil pessoas, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território palestino, controlado pelo Hamas. Os dados são considerados confiáveis pela ONU e não podem ser checados de forma independente devido ao bloqueio de Israel à imprensa internacional.
“As explosões não param em Sabra. Os tanques e a artilharia estão atirando em nossa direção, os drones também”, declarou à AFP Hussein al Dairi, morador do bairro.
Desde o início da guerra, Israel cercou Gaza e seus mais de 2 milhões de habitantes, que estão ameaçados por uma “fome generalizada”, segundo as Nações Unidas. Nesta terça, a ONU declarou que não estava autorizada a fornecer tendas aos moradores do território, apesar de os planos israelenses de tomar a Cidade de Gaza exigirem a realocação de seus habitantes para o sul.