Milei aperta operação dos bancos na Argentina e briga com setor após alta do dólar

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BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O governo de Javier Milei elegeu um adversário improvável nos últimos dias ao impor novas regras para os bancos na Argentina, em uma tentativa de controlar a compra de dólares e chegar até as eleições de outubro sem maiores sustos no câmbio.

Uma nova exigência, que aumentou a tensão com um setor geralmente alinhado com o governo, determina que as instituições financeiras mantenham um patamar mínimo de recursos depositados diariamente, em vez de mensalmente, o que reduz a margem de manobra.

Os bancos também eram obrigados a manter 45% dos depósitos no Banco Central, índice que agora sobe para 50%.

As principais empresas do setor estão elaborando um documento para aconselhar o BCRA (Banco Central da República Argentina) sobre possíveis problemas operacionais com a mudança.

As tensões com o setor começaram ainda em julho, quando o governo decidiu reduzir a quantidade de pesos em circulação para conter a demanda crescente por dólares.

Em uma licitação extraordinária, o governo absorveu o equivalente a R$ 25 bilhões em pesos argentinos dos bancos em um único dia, na tentativa de evitar que esses pesos pressionassem o dólar.

Nas últimas semanas, em uma entrevista a um programa de rádio, Milei acusou os bancos de promoverem um cenário de tensão financeira após o fim de um tipo de título de dívida do Tesouro com prazo de um ano.

Nesta quarta-feira (20), o dólar oficial subiu pela primeira vez em 13 dias e voltou a ultrapassar o patamar de 1.300 pesos. Desde abril foi adotado um sistema de bandas para o dólar oficial, cujos limites são corrigidos mensalmente -atualmente, o teto é de 1.447 pesos.

Milei chegou a prometer que o câmbio chegaria ao piso da banda, o que ainda não aconteceu. Em teoria, o BCRA só deveria intervir quando o câmbio ultrapassasse os limites, mas o governo interveio com a venda de contratos futuros quando a moeda se aproximou dos 1.300 pesos.

O conjunto de medidas levantou preocupações sobre a continuidade do controle da inflação e o impacto nas próximas eleições legislativas, em outubro, no programa de ajuste fiscal.

O aumento da taxa de juros -em termos reais, foram para dois dígitos- e os novos requisitos de reservas têm um impacto direto nas margens dos bancos, que, após um período de crescimento rápido do crédito, agora enfrentam custos elevados.

As ações de bancos argentinos enfrentaram queda nos últimos pregões, refletindo a preocupação do mercado com essa nova realidade. As ações do Banco Macro caíram 10,55% em cinco dias; as do Santander, -0,99%; as do BBVA, -13,53%.

Postagens em redes sociais também divulgaram, de maneira equivocada, que o governo havia limitado a quantidade de dinheiro que as pessoas podem sacar.

O BCRA indicou que “o aumento das reservas obrigatórias é um instrumento para gerir a política monetária e, pelo contrário, assegura a devolução dos depósitos por parte das entidades uma vez que são depositados no Banco Central”.

“Embora a estratégia busque conter as pressões cambiais e ancorar a inflação, também aumenta o risco de uma nova desaceleração da atividade econômica e de que o governo vá para as eleições em um cenário de alto estresse financeiro”, adverte um relatório da consultoria Invecq.

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