BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O roteiro já é conhecido pelos argentinos: Javier Milei subiu ao palco do Movistar Arena, agitando os braços e cantando “Panic Show”, canção do La Renga, que o presidente adotou ainda em sua campanha à Casa Rosada, em 2023.
O evento na noite desta segunda-feira (6) era para o lançamento de seu mais recente livro, “La Construcción del Milagro – El Caso Argentino” (A Construção do Milagre, o Caso Argentino).
Enquanto isso, seu ministro da Economia, Luis Caputo, está há quatro dias em Washington, em busca de um apoio do governo de Donald Trump que deve ser anunciado na forma de um swap (troca entre moedas por bancos centrais), para acalmar o câmbio até as eleições.
“A inflação vai ser um problema do passado na metade do ano que vem. A direção no plano fiscal e monetário é correta, tínhamos 57% de pobres e depois que tiramos os gerentes da pobreza [do poder], não só multiplicamos a assistência aos setores mais vulneráveis, tiramos 12 milhões de argentinos da pobreza”, disse o presidente após a apresentação musical.
Milei usa uma simulação dos dados de janeiro de 2024 da UCA (Universidade Católica da Argentina) que foram posteriormente corrigidos para baixo e os compara com as projeções para 2025. “Estamos na metade do caminho, não afrouxem, precisamos atravessar o rio.”
O presidente disse que com uma reforma trabalhista e tributária, o país vai entrar em um ciclo de crescimento que irá reduzir ainda mais a pobreza e criar empregos. “É parte do programa genial de Caputo, que nos está escutando de Washington.”
O livro de Milei faz um balanço de seu governo até agora, exaltando a redução da inflação, o corte de gastos e o superávit das contas públicas.
O lançamento, no entanto, ocorre em meio a uma crise política que sacudiu o governo nas últimas semanas, que levou à renúncia no domingo (5) do principal candidato a deputado de Milei para a província de Buenos Aires, que admitiu ter recebido recursos de um investigado por narcotráfico.
A economia também entrou em estagnação a partir de fevereiro, com a atividade em queda nos últimos dois meses; o risco de investimentos ultrapassou os três dígitos desde que o partido de Milei perdeu as eleições legislativas da província de Buenos Aires, em setembro.
Mesmo economistas com uma visão próxima à do presidente esperam que o governo desvalorize o peso argentino após o pleito de 26 de outubro e não descartam uma mudança na equipe econômica.
O livro, com quase 600 páginas, contém ensaios que explicam as bases econômicas e filosóficas da gestão de Milei. A obra também analisa os primeiros meses de mandato e os desafios enfrentados pelo seu governo desde dezembro de 2023.
Após o evento, Milei dá seguimento a uma turnê pelo país, incluindo Mar del Plata, Mendoza, Santa Cruz, Chaco e Corrientes, antes de viajar para os Estados Unidos, onde planeja se encontrar com Donald Trump.
Javier Milei já lançou outros títulos, antes e depois de se tornar presidente, como “O Caminho do Libertário”, “O Fim da Inflação” e “Capitalismo, Socialismo e a Cilada Neoclássica” -alguns deles com suspeitas de plágio de textos de outros economistas, o que o presidente nunca admitiu ter feito.