Milhares protestam contra Trump em centenas de cidades dos EUA

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WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Milhares de manifestantes tomaram as ruas de várias cidades dos Estados Unidos em protestos contra políticas vistas como autoritárias do presidente americano, Donald Trump, neste sábado (18).

A manifestação, chamada “No kings” (sem reis) e organizada por vários grupos civis, critica medidas do republicano relativas à imigração, educação, saúde e segurança que estão levando o país por um caminho autocrático, segundo os manifestantes. Entidades participantes esperavam cerca de 2.600 focos de protesto em todos os 50 estados do país.

As marchas —grandes e pequenas, em cidades, subúrbios e localidades menores— ocorrem após outros protestos massivos semelhantes, em junho, e refletem a frustração de parte da população com uma agenda que Trump implementou com velocidade sem precedentes e atropelando mecanismos democráticos desde que voltou à Casa Branca, em janeiro.

Somente na capital, os organizadores do protesto “No kings” esperavam reunir cerca de 100 mil pessoas. Os manifestantes, muitos deles idosos e crianças, tomaram uma das principais avenidas da cidade, a Pensilvânia, e marcharam em direção ao National Mall, no sentido do Capitólio. Grandes cidades como Nova York, Boston, Chicago e Atlanta também levaram milhares às ruas.

Nos cartazes, em Washington, havia uma série de demandas. Desde “proteja os imigrantes” e “pare de matar venezuelanos”, a pedidos por mais atenção ao sistema de saúde e, principalmente, contra o estilo autoritário do presidente americano.

Christine, 30, que preferiu não informar o sobrenome, viajou 6 horas da Virgínia Ocidental à capital para o protesto. Ela foi parte do Exército por 6 anos e deixou o serviço militar há 4. Para ela, Trump tem abusado de seus poderes ao perseguir imigrantes e promover demissões em massa no governo federal.

Ann Apfel, 80, empresária, avalia que Trump tem promovido retrocessos no sistema de saúde. “Ele tem incentivado as pessoas a não se vacinar. Nós havíamos erradicado o sarampo. E agora, com as instruções dele, há chances de diversas crianças adoecerem novamente”, diz, entre outras reclamações sobre o governo.

Wolanda Wilson, 53, também de Virgínia , analista de empresas, diz que Trump está perseguindo ilegalmente moradores do país. “Não queremos as pessoas desaparecendo. Ele está indo atrás daqueles que sustentam nosso país, os imigrantes”, afirma. Na capital, o protesto começou a se dispersar, sem episódios de violência, por volta das 14h30 (15h30 no horário de Brasília).

Os primeiros eventos deste sábado começaram fora dos EUA, com centenas de manifestantes reunindo-se em frente à embaixada americana em Londres e mais algumas centenas realizando manifestações em Madri e Barcelona.

Na manhã de sábado no norte do estado de Virgínia, manifestantes caminhavam em passarelas sobre estradas que levam à capital e várias centenas de pessoas se reuniram próximo ao Cemitério Nacional de Arlington, perto de onde Trump considera construir um arco, semelhante ao Arco do Triunfo de Paris.

Desde que Trump voltou à Presidência, seu governo intensificou a fiscalização da imigração com ações de agentes mascarados e sem identificação, agiu para reduzir o funcionalismo público federal e cortou financiamento para universidades.

Residentes em algumas grandes cidades viram também tropas da Guarda Nacional serem enviadas pelo presidente, que argumenta que elas são necessárias para proteger agentes de imigração e ajudar a combater o crime —a Califórnia e o governo local de Washington, por exemplo, processaram a gestão federal por isso, afirmando que o envio das tropas por esses motivos não tinha base legal.

“Não há nada mais americano do que dizer ‘não temos reis’ e exercer nosso direito de protestar pacificamente”, afirma Leah Greenberg, cofundadora do Indivisible, entidade que é uma das principais organizadoras das marchas No Kings.

Trump mencionou muito pouco os protestos de sábado em declarações recentes. Em uma entrevista à Fox Business transmitida nesta sexta-feira (17), ele disse que “estão se referindo a mim como um rei —eu não sou um rei”.

Mais de 300 grupos ajudaram a organizar as marchas de sábado, diz Greenberg. A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) informou que ofereceu treinamento jurídico amilhares de pessoas que atuarão como coordenadores nas várias marchas, e que essas pessoas também foram treinadas em técnicas para reduzir a tensão em protestos. Anúncios e informações sobre as marchas inundaram as redes sociais para impulsionar a participação.

O senador Bernie Sanders, ex-democrata e agora independente, que se dirigiu a manifestantes em Washington em púlpito, e a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, apoiaram as marchas, assim como a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, que perdeu a eleição presidencial de 2016 para Trump.

Em junho, mais de 2.000 protestos sob o lema “No kings” ocorreram, em sua maioria pacificamente, no mesmo dia em que Trump comemorou seu aniversário de 79 anos e realizou um desfile militar em Washington.

Mike Johnson, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, republicano e aliado de Trump, ecoou na sexta-feira uma mensagem comum entre membros do Partido Republicano sobre os protestos.

“Amanhã, os líderes democratas vão se juntar para uma grande festa no National Mall”, disse Johnson em uma entrevista coletiva na sexta-feira. “Eles vão descer sobre nosso Capitólio para seu tão antecipado, assim chamado comício No Kings. Nós nos referimos a ele por sua descrição mais precisa: o comício de ódio à América.”

Dana Fisher, professora da Universidade Americana em Washington e autora de vários livros sobre ativismo americano, previu que o sábado poderia ver a maior participação em protestos na história moderna dos EUA —ela esperava que mais de 3 milhões de pessoas vão às ruas, com base em registros e participação nos eventos de junho.

“O principal objetivo deste dia de ação é criar um senso de identidade coletiva entre todas as pessoas que sentem que estão sendo perseguidas ou estão ansiosas devido à gestão Trump e suas políticas”, disse Fisher. “Isso não vai mudar as políticas de Trump. Mas pode encorajar servidores eleitos em todos os níveis que fazem oposição a Trump.”

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