SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual, a taxa básica de juros do Brasil (Selic) está exageradamente elevada, dado o descompasso entre as políticas fiscal e monetária.
“Como somos muito expansionistas no fiscal, precisamos de muito juro para conter a inflação […] O juro está 15% [ao ano] para levar para 3% a inflação, que está, vamos dizer, em 4,5%. Não precisa ser um grande economista, coisa que, aliás, eu não sou, para entender que tem um exagero de juro real no Brasil, que custa para todo mundo que está aqui”, disse o banqueiro em evento com executivos do agronegócio, nesta quarta-feira (13).
O Banco Central brasileiro elevou a Selic ao maior patamar desde 2006 para frear o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que acumulou um ganho de 5,23% nos últimos 12 meses.
Segundo Esteves, os juros altos também são prejudiciais aos bancos. “Há até um falso dilema de que isso é bom para os bancos. Não é, não. Esse ambiente de taxa de juros a 15% não é ruim para todo mundo. Claro, para o rentista que age racionalmente, que compra lá uma LCA [Letra de Crédito do Agronegócio], é muito bom para ele.”
O banqueiro também criticou uma postura conflituosa ante o governo dos Estados Unidos, com relação ao tarifaço promovido por Donald Trump.
“Certamente, a postura que nós temos que ter é construtiva. Ter paciência, ter serenidade e operar para que as tensões baixem, e não que as tensões subam”, afirmou Esteves.
O executivo considera um erro a tentativa de ganhar capital político com a sobretaxa dos produtos brasileiros.
“Operar para que as tensões subam será um erro econômico. Apesar de parecer que possa render dividendo político, a história do enfrentamento, eu não concordo com essa visão. Eu acho que é um voo de galinha. Pode ser que o enfrentamento político traga um dividendo, mas eu acho que a sociedade vai cobrar solucionadores e não criadores de confusão.”
Esteves minimizou o impacto econômico da política de Trump sobre o Brasil. Ele prevê que o efeito será deflacionário, com um recuo de 0,1 ponto percentual no IPCA e no PIB (Produto Interno Bruto)
“Até agora, não aconteceu nada, apesar de um headline [manchete] muito negativo e da politização dessa postura ser uma coisa meio exótica ou, de certo modo, difícil de entender ou de aceitar”, afirmou o banqueiro.
O outro alvo de contestação do executivo foi a propaganda do governo federal sobre o agronegócio brasileiro no exterior.
“Estou um pouco decepcionado com a nossa diplomacia […] eu esperaria um pouco mais da nossa diplomacia para vender o agro lá fora, como ele deve ser vendido. É um negócio altamente tecnológico, profissional, competitivo globalmente, que hoje em dia não tem subsídio relevante, e cresce com as próprias pernas, simplesmente pela competitividade natural”, afirmou Esteves.
No início de julho, o governo Lula anunciou R$ 516,2 bilhões para o Plano Safra 2025/2026, com recursos destinados à agricultura empresarial, um acréscimo de R$ 8 bilhões em relação à safra anterior.