Navio de 110 anos que passou por 2 guerras vira hotel de luxo na Indonésia

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SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O navio MV Doulos Phos, construído em 1914 no Texas, tinha destino certo: o desmanche. Mas a embarcação de 110 anos ganhou nova vida e nesta quarta-feira (10) funciona como um hotel de luxo na ilha de Bintan, na Indonésia.

O responsável pela transformação é o empresário singapurense Eric Saw. Ele passou quase uma década e investiu US$ 18 milhões no projeto.

Navio nasceu como SS Medina, batizado em homenagem a um rio do Texas. Era conhecido como o “Navio-Comodoro” de uma frota de cerca de vinte cargueiros. Transportava cebolas, mercadorias e, durante as duas guerras mundiais, também tropas e suprimentos.

Em 1948, foi vendido para a empresa italiana Genaviter e rebatizado SS Roma. A embarcação foi adaptada como navio de passageiros, levando migrantes e peregrinos a Roma.

Poucos anos depois, passou por outra grande transformação. Sob a bandeira da Costa Lines, recebeu um motor a diesel no lugar do motor a vapor, ganhou novo nome, MS Franca C, e entrou para a história como o primeiro navio de cruzeiro 100% de primeira classe do mundo. Em 1977, foi comprado pela organização missionária Operation Mobilization e virou o MV Doulos. Reformado, tornou-se a maior biblioteca flutuante do planeta.

Durante 33 anos navegou o equivalente a 16 voltas ao redor do mundo e recebeu mais de 25 milhões de visitantes a bordo. Foi nesse período que encantou Eric Saw, que levava seus filhos para conhecer o navio sempre que ele atracava em Singapura. “Nunca imaginei que um dia seria dono desse navio, muito menos que o transformaria em hotel”, contou o empresário à Business Insider.

DESMANCHE E DESAFIO DE TRANSFORMÁ-LO EM HOTEL

Saw entrou em leilão e venceu com uma oferta de US$ 1,1 milhão. Isso foi em 2010, quando Doulos já carregava um título histórico: era o navio de passageiros oceânico mais antigo em operação no mundo, segundo o Guinness World Records. Mesmo assim, estava prestes a virar sucata.

“Havia ofertas de empresas e até de sucateiros da China, Coreia e África do Sul. Por sorte, consegui vencer”, disse Eric Saw.

A ideia inicial era atracar o navio em Singapura. Saw passou três anos e meio tentando obter autorização do governo, mas todas as propostas foram recusadas.

Nesse período, ele gastou grandes somas apenas para manter o navio em estaleiros. Até que conheceu Frans Gunara, desenvolvedor de hotéis em Bintan, que ofereceu uma solução: criar uma área de terra firme para abrigar o navio em doca seca, protegendo-o da água.

Saw fez um pedido ousado: que a área tivesse o formato de âncora e foi atendido. “Os camarotes eram pequenos e antiquados. Minha família e eu desenhamos tudo: mesas, interiores e até o espaço da piscina. Reformamos do zero”, disse. No total, a transformação consumiu US$ 18 milhões, entre obras, retrofits e adaptações de luxo.

O HOTEL DE HOJE

Após quase dez anos de obras, o Doulos Phos The Ship Hotel abriu em 2019. O empreendimento conta com 105 cabines, piscina infinita com vista para o mar, academia, spa e restaurantes.

A inauguração coincidiu com a pandemia, o que atrasou os planos de expansão. Mas Saw mantém o projeto ativo e com um propósito maior. “Recebo apenas um salário simbólico de 1 dólar. Todo o lucro é destinado a causas cristãs. Para mim, este navio é uma missão”, afirma. O nome Doulos Phos, em grego, significa “Servo da Luz”, uma homenagem ao passado e ao novo futuro desse navio centenário.

Os chalés do hotel custam entre 1,7 milhão e 3,8 milhões de rupias indonésias (US$ 105 a US$ 235) por noite. Isto é, a acomodação mais cara custa pouco mais de 1.300 reais (na cotação atual).

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