[AGÊNCIA DC NEWS]. Inaugurado em 1929, o Edifício Martinelli foi um marco arquitetônico e símbolo de modernidade em São Paulo. Com 105 metros de altura, tornou-se a maior edificação da América Latina e um ponto de encontro da elite paulistana. No entanto, a crise financeira enfrentada por seu idealizador, Giuseppe Martinelli, levou o prédio a passar por diversas mudanças de propriedade. A partir da década de 1950, além de sua deterioração estrutural, o edifício se tornaria palco de crimes marcantes, refletindo as transformações econômicas e políticas do Brasil.
A construção do Martinelli coincidiu com a quebra da Bolsa de Nova York, que desencadeou a Grande Depressão e afetou profundamente a economia global. No Brasil, a crise abalou o setor cafeeiro, principal motor da economia nacional. O presidente Washington Luís tentava manter a estabilidade, mas o país caminhava para um período de instabilidade que culminaria na Revolução de 1930 e na ascensão de Getúlio Vargas ao poder. O Martinelli, que inicialmente simbolizava a ascensão econômica de São Paulo, logo enfrentou dificuldades financeiras. Em 1933, Giuseppe Martinelli vendeu o edifício ao governo italiano de Benito Mussolini. Na época, São Paulo se consolidava como o maior centro financeiro e industrial do Brasil, mas o centro da cidade ainda abrigava os principais negócios e residências de luxo.
Durante a 2ª Guerra Mundial, o Brasil rompeu relações com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e, em 1942, enviou tropas para lutar ao lado dos Aliados. Como parte das sanções contra os países inimigos, o governo de Getulio Vargas confiscou bens de cidadãos e empresas ligadas a esses países, incluindo o Martinelli, que foi leiloado em 1944 e passou a ter mais de 100 proprietários. Paralelamente, São Paulo se consolidava como uma potência industrial, atraindo milhares de migrantes e transformando seu centro urbano.

A elite começou a se deslocar para bairros mais afastados, e a ocupação do centro passou por um processo de degradação que culminaria, anos depois, na decadência e crimes que aconteceram no Martinelli. “As histórias sobrenaturais do Martinelli surgem justamente desse aspecto sombrio, marcado por acontecimentos trágicos e perversos que ficaram impregnados no prédio”, afirmou Thiago de Souza, pesquisador e idealizador do projeto “O que te Assombra”, que percorre lugares mal-assombrados de São Paulo.
Para saber mais detalhes sobre os crimes, escute o podcast Histórias do Centro:
As histórias sobrenaturais do Martinelli surgem justamente desse aspecto sombrio, marcado por acontecimentos trágicos e perversos que ficaram impregnados no prédio

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1929 – Inauguração do Edifício Martinelli
- Giuseppe Martinelli, imigrante italiano, idealiza e constrói o primeiro arranha-céu de São Paulo
- O prédio se torna símbolo de luxo, abrigando um hotel sofisticado e um cinema
- Martinelli era conhecido por sua exigência na construção, mas também por seu apoio aos trabalhadores

(Acervo Martinelli/Reprodução)
1933 – Venda para o governo italiano
- Dificuldades financeiras levam Martinelli a vender o edifício ao governo da Itália
1944 – Confisco e leilão do edifício
- Durante a 2ª Guerra Mundial, o governo brasileiro apoiou os países Aliados, e decretou o confisco de bens dos países do Eixo, como o Martinelli
- O prédio é leiloado e passa a ter mais de 100 proprietários
1947 – Assassinato de Davilson Gelisk
- O corpo do garoto de 14 anos é encontrado no subsolo do edifício
- A investigação policial é marcada por prisões sem provas, confissões forçadas e teorias não comprovadas
- Sem evidências conclusivas, o inquérito é encerrado com a classificação de suicídio

(BN Digital)
1948 – Caso Daise Justo – 27 de maio
- Daise Justo, de 28 anos, foi arremessada do 10º andar do Martinelli, mas sobreviveu ao cair sobre uma tela de proteção no 4º andar
- Embora tenha afirmado que alguém a empurrou, a polícia descartou a hipótese de crime e concluiu que se tratava de uma tentativa de suicídio

(BN Digital)
1948 – Vereador flagrado – 18 de setembro
- O vereador Miguel Russiano, do PSP, foi flagrado tentando abusar de sua empregada de 17 anos em um apartamento do edifício
- Detido, alegou ser vítima de uma armadilha política. O caso teve grande repercussão, mas foi abafado

(BN Digital)
1950 – Degradação do edifício
- Com o fechamento do Hotel São Bento, o Martinelli se deteriora e passa a ser ocupado por cortiços, atividades ilícitas e clínicas clandestinas
1953 – Corrupção de menores

(BN Digital)
- Uma jovem foi sequestrada após denunciar dois homens por abuso dentro do Martinelli
- Mantida em cativeiro e forçada a ter relações sexuais com homens por dez dias, foi ameaçada até escrever uma carta retirando a denúncia
- O caso foi arquivado após a polícia classificá-la como “moça de mau procedimento”
1953 – Suicídio de Elizabeth Gurtler – 11 de abril
- Elizabeth Gurtler, de 47 anos, se jogou do 8º andar do Martinelli. Posteriormente, descobriu-se que ela tinha câncer em estado terminal

(BN Digital)
1965 – Assassinato de Neide Rosa de Souza – 30 de junho
- Neide, de 17 anos, foi estrangulada e jogada do prédio após um baile
- A perícia constatou marcas de esganadura e choques elétricos em seu corpo, mas o caso foi arquivado como suicídio


1972 – Assassinato de Rosa dos Santos – 9 de agosto
- Rosa, de 17 anos, foi vista com um homem no Hotel São Bento antes de seu corpo ser encontrado no térreo do Martinelli
- Sem evidências concretas, a polícia arquivou o caso
1975 – Restauração
- A prefeitura desapropriou e restaurou o edifício, encerrando seu período de decadência
1979 – Reabertura
- O Martinelli voltou a abrigar escritórios, restaurantes e órgãos municipais

(Galeria Martinelli/Acervo)
2025 – Reforma e novo uso
- Uma licitação concedeu ao grupo Tokyo a exploração de um espaço no edifício em 2023. O projeto inclui café no térreo, museu, restaurante, observatório e um espaço para eventos nos quatro últimos andares. O prédio foi fechado temporariamente para obras

O Edifício Martinelli foi inaugurado em 1929, após 5 anos de construção

Para provar que o Edifício Martinelli era seguro, em 1928, Giuseppe Martinelli se mudou para a cobertura. Ele levou junto sua família, que até então morava no Rio de Janeiro

As portas e janelas que vemos no Edifício Martinelli hoje são as mesmas da inauguração. Os pisos no terraço são 80% originais. Já no interior do Edifício Martinelli, os lustres são réplicas

Existe uma lenda que diz que o interior do Martinelli é mal assombrado. Essa fama vem dos anos 50, época em que ele ficou abandonado e foi cenário de muitos crimes