Vista da entrada do edifício Martinelli, que mantém a mesma porta da inauguração em 1929 (Galeria Martinelli/Divulgação)

Edifício Martinelli: do luxo ao mistério, os crimes que marcaram a história do prédio icônico de São Paulo 

  • A partir da década de 1950, o prédio começa a decair, sendo tomado por cortiços e se tornando cenário de crimes
  • Até hoje, há quem diga que o passado trágico do Martinelli deixou marcas que se manifestam em assombrações que rondam o local
Por Bruna Galati 26 de Fevereiro, 2025 - 15:27
Atualizada às 19 de Março, 2025 - 14:57

[AGÊNCIA DC NEWS]. Inaugurado em 1929, o Edifício Martinelli foi um marco arquitetônico e símbolo de modernidade em São Paulo. Com 105 metros de altura, tornou-se a maior edificação da América Latina e um ponto de encontro da elite paulistana. No entanto, a crise financeira enfrentada por seu idealizador, Giuseppe Martinelli, levou o prédio a passar por diversas mudanças de propriedade. A partir da década de 1950, além de sua deterioração estrutural, o edifício se tornaria palco de crimes marcantes, refletindo as transformações econômicas e políticas do Brasil.

A construção do Martinelli coincidiu com a quebra da Bolsa de Nova York, que desencadeou a Grande Depressão e afetou profundamente a economia global. No Brasil, a crise abalou o setor cafeeiro, principal motor da economia nacional. O presidente Washington Luís tentava manter a estabilidade, mas o país caminhava para um período de instabilidade que culminaria na Revolução de 1930 e na ascensão de Getúlio Vargas ao poder. O Martinelli, que inicialmente simbolizava a ascensão econômica de São Paulo, logo enfrentou dificuldades financeiras. Em 1933, Giuseppe Martinelli vendeu o edifício ao governo italiano de Benito Mussolini. Na época, São Paulo se consolidava como o maior centro financeiro e industrial do Brasil, mas o centro da cidade ainda abrigava os principais negócios e residências de luxo.

Durante a 2ª Guerra Mundial, o Brasil rompeu relações com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e, em 1942, enviou tropas para lutar ao lado dos Aliados. Como parte das sanções contra os países inimigos, o governo de Getulio Vargas confiscou bens de cidadãos e empresas ligadas a esses países, incluindo o Martinelli, que foi leiloado em 1944 e passou a ter mais de 100 proprietários. Paralelamente, São Paulo se consolidava como uma potência industrial, atraindo milhares de migrantes e transformando seu centro urbano.

A elite começou a se deslocar para bairros mais afastados, e a ocupação do centro passou por um processo de degradação que culminaria, anos depois, na decadência e crimes que aconteceram no Martinelli. “As histórias sobrenaturais do Martinelli surgem justamente desse aspecto sombrio, marcado por acontecimentos trágicos e perversos que ficaram impregnados no prédio”, afirmou Thiago de Souza, pesquisador e idealizador do projeto “O que te Assombra”, que percorre lugares mal-assombrados de São Paulo.

Para saber mais detalhes sobre os crimes, escute o podcast Histórias do Centro:

As histórias sobrenaturais do Martinelli surgem justamente desse aspecto sombrio, marcado por acontecimentos trágicos e perversos que ficaram impregnados no prédio

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1929 – Inauguração do Edifício Martinelli

  • Giuseppe Martinelli, imigrante italiano, idealiza e constrói o primeiro arranha-céu de São Paulo
  • O prédio se torna símbolo de luxo, abrigando um hotel sofisticado e um cinema
  • Martinelli era conhecido por sua exigência na construção, mas também por seu apoio aos trabalhadores

1933 – Venda para o governo italiano

  • Dificuldades financeiras levam Martinelli a vender o edifício ao governo da Itália

1944 – Confisco e leilão do edifício

  • Durante a 2ª Guerra Mundial, o governo brasileiro apoiou os países Aliados, e decretou o confisco de bens dos países do Eixo, como o Martinelli
  • O prédio é leiloado e passa a ter mais de 100 proprietários

1947 – Assassinato de Davilson Gelisk

  • O corpo do garoto de 14 anos é encontrado no subsolo do edifício
  • A investigação policial é marcada por prisões sem provas, confissões forçadas e teorias não comprovadas
  • Sem evidências conclusivas, o inquérito é encerrado com a classificação de suicídio

1948 – Caso Daise Justo – 27 de maio

  • Daise Justo, de 28 anos, foi arremessada do 10º andar do Martinelli, mas sobreviveu ao cair sobre uma tela de proteção no 4º andar
  • Embora tenha afirmado que alguém a empurrou, a polícia descartou a hipótese de crime e concluiu que se tratava de uma tentativa de suicídio
Capa do Jornal da Noite em 18 de maio de 1948
(BN Digital)

1948 – Vereador flagrado – 18 de setembro

  • O vereador Miguel Russiano, do PSP, foi flagrado tentando abusar de sua empregada de 17 anos em um apartamento do edifício 
  • Detido, alegou ser vítima de uma armadilha política. O caso teve grande repercussão, mas foi abafado
Manchete do jornal Diário da Noite
(BN Digital)

1950 – Degradação do edifício

  • Com o fechamento do Hotel São Bento, o Martinelli se deteriora e passa a ser ocupado por cortiços, atividades ilícitas e clínicas clandestinas

1953 – Corrupção de menores

Reportagem de O Jornal
(BN Digital)
  • Uma jovem foi sequestrada após denunciar dois homens por abuso dentro do Martinelli 
  • Mantida em cativeiro e forçada a ter relações sexuais com homens por dez dias, foi ameaçada até escrever uma carta retirando a denúncia 
  • O caso foi arquivado após a polícia classificá-la como “moça de mau procedimento”

1953 – Suicídio de Elizabeth Gurtler – 11 de abril

  • Elizabeth Gurtler, de 47 anos, se jogou do 8º andar do Martinelli. Posteriormente, descobriu-se que ela tinha câncer em estado terminal
Matéria do Jornal Diário da Noite
(BN Digital)

1965 – Assassinato de Neide Rosa de Souza – 30 de junho

  • Neide, de 17 anos, foi estrangulada e jogada do prédio após um baile
  • A perícia constatou marcas de esganadura e choques elétricos em seu corpo, mas o caso foi arquivado como suicídio
(BN Digital)
(BN Digital)

1972 – Assassinato de Rosa dos Santos – 9 de agosto

  • Rosa, de 17 anos, foi vista com um homem no Hotel São Bento antes de seu corpo ser encontrado no térreo do Martinelli 
  • Sem evidências concretas, a polícia arquivou o caso

1975 – Restauração

  • A prefeitura desapropriou e restaurou o edifício, encerrando seu período de decadência

1979 – Reabertura

  • O Martinelli voltou a abrigar escritórios, restaurantes e órgãos municipais
Prefeiro Olavo Setúbal, em 1979, cortando a faixa de reinauguração do Martinelli
(Galeria Martinelli/Acervo)

2025 – Reforma e novo uso

  • Uma licitação concedeu ao grupo Tokyo a exploração de um espaço no edifício em 2023. O projeto inclui café no térreo, museu, restaurante, observatório e um espaço para eventos nos quatro últimos andares. O prédio foi fechado temporariamente para obras