Nutty Bavarian lança microfranquia com foco em eventos. "É um mercado imenso", diz Adriana Auriemo
Adriana Auriemo: faturamento de R$ 80 milhões em 2024 e projeção de R$ 87 milhões para este ano
(Reprodução LinkedIn)
Adriana Auriemo, fundadora e CEO da Nutty Bavarian: "As pessoas estão sem dinheiro, sim. E juros altos para vender franquia é difícil"
"O franqueado tradicional monta o estabelecimento e o cliente chega até ele. No caso desse franqueado [do carrinho] ele precisa ir atrás"
Por Edson RossiCompartilhe:
Desde 2014, a ONU determinou o 19 de Novembro como Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino. Para Adriana Auriemo, fundadora e principal executiva da Nutty Bavarian, a data é vista de forma paradoxal: é tanto um dia especial quanto um dia comum. De certa forma, essa junção entre o rotineiro e o fora da curva, entre o comum e o extraordinário, move todos os seus passos profissionais. De um lado, fazendo o que é preciso ser feito para que a operação siga crescendo. De outro, trazendo soluções e inovação. A mais recente é o lançamento da microfranquia móvel (um carrinho para a venda das indefectíveis nuts glaceadas da marca), cujo aporte inicial deve ficar em até R$ 50 mil. Ele foi pensado para operações em eventos. De feiras e congressos a casamentos e formaturas. Com a microfranquia, a empresa pretende tornar o negócio – que hoje é conhecido pelos quiosques fixos em shoppings, aeroportos e rodoviárias –adaptável a diferentes perfis de cidades e mais democrático aos investidores.
Adriana, que já foi vice-presidente (dois anos) e diretora (outros seis) da Associação Brasileira de Franchising (ABF), afirma que para se chegar à novidade houve uma conjunção de fatores. “Esse produto foi criado quase em resposta ao momento da empresa com o cenário macroeconômico. A economia está difícil”, afirmou. “As pessoas estão sem dinheiro, sim. E juros altos para vender franquia é difícil.” Há um terceiro ponto nessa equação. A própria formação de Adriana. Ela é filha de Caio Auriemo, médico e empreendedor por trás da rede de medicina diagnóstica que daria origem à Dasa, e da musicista Dulce Auriemo, criadora do personagem e projeto infantil Espantaxim. Além dos pais, os irmãos também são empreendedores. Nesse ambiente, falar de negócios, criatividade e inovação não é para os Auriemo trabalho, é o dia a dia. E é deles que ela traz a palavra que norteia seus propósitos: respeito. “Respeito pelas pessoas. E sempre se colocar na posição do outro.” A seguir, a entrevista à AGÊNCIA DC NEWS.
AGÊNCIA DC NEWS –Qual a diferença do novo formato, bastante focado em eventos de todos os tipos, para o atual? Até porque vocês já atuam em eventos? ADRIANA AURIEMO – Na Nutty Bavarian, os quiosques (de shoppings, aeroportos, metrôs…) a gente chama de pontos fixos. E existe também a linha de produtos para eventos que tanto é operada por nossos franqueados quanto por nós mesmos. A gente já participou de mais de 1 mil eventos, nos mais diversos formatos, durante esses 30 anos. Aqui eu estou falando desde eventos em que a gente tem quiosque àqueles em que a gente simplesmente tem o produto sendo distribuído. Em muitos casos corporativos, as empresas compram embalagens personalizadas com o logotipo delas. E há também as pessoas físicas, que fazem casamentos, batizados, aniversários e distribuem para os seus convidados os nossos produtos.
AGÊNCIA DC NEWS –Um canal que são os quiosques e outro que são os eventos? ADRIANA AURIEMO – Operados pela franqueadora, a nossa empresa, ou operados pelos franqueados atuais, que já têm um quiosque. E um terceiro canal, o de food service, que é nosso produto como ingrediente de outros produtos. Hoje, sorveterias, docerias, restaurantes usam nossos Nutty Bavarian nas suas receitas. E temos muitas colabs também. E a gente tem também uma linha da indústria, que é o canal off-trade, em que vendemos para supermercados, para farmácias, para locais que vão revender o nosso produto.
AGÊNCIA DC NEWS –Como surge a ideia atual, dos carrinhos? ADRIANA AURIEMO – Embora a marca seja conhecida pelo cheirinho que vem do quiosque no shopping center, no metrô, percebemos que ela acaba sendo muito mais uma marca de eventos. Um produto muito propício para esse tipo de lugar, em feiras, festivais, shows, campeonatos esportivos, festas, casamentos, batizados. Uma série deles. É um mercado muito grande para a gente atender.
AGÊNCIA DC NEWS –E a logística? ADRIANA AURIEMO – É um produto que viaja bem. Não mela, não derrete, tem validade longa. Você pode chacoalhar, jogar para cima, balançar e ele fica inteiro. Além disso, a estrutura necessária é pequena, enxuta e fácil de montar. Hoje, num evento, você precisa montar um restaurante, é complexo. Se você tem uma cafeteria e o produto não vende, perde. E num evento você nunca sabe o que vai acontecer. É diferente de um shopping, em que existe uma frequência mais previsível.
AGÊNCIA DC NEWS – Foi um caminho natural lançar o carrinho, então? ADRIANA AURIEMO – Está muito difícil operar em shopping hoje. Não só o fluxo caiu um pouco, como os custos de ocupação aumentaram demais. E as pessoas estão sem dinheiro, sim. A economia está complicada. Juros altos para vender franquia é difícil. E soma-se a isso um número de exigências para o empresário brasileiro muito grande. Virou responsável por tudo o que acontece e precisa incluir cada nova exigência no custo. Então as margens estão achatadíssimas.
AGÊNCIA DC NEWS – Era preciso buscar alternativa ao interessado em ser franqueado… ADRIANA AURIEMO – E aí o que a gente viu? Bom, tem gente querendo abrir o próprio negócio. Ao mesmo tempo, não quer correr o risco de pegar o dinheiro que tem e investir em algo sendo que no banco vai render mais. A gente viu que havia esse espaço, de pessoas com pouco dinheiro para investir, ou querendo investir uma parte pequena, sem ter o risco do custo fixo de operar dentro de um shopping center, onde um aluguel [na operação da Nutty Bavarian] chega a R$ 15 mil para 2 metros quadrados, que em dezembro vai para R$ 30 mil.
AGÊNCIA DC NEWS – A solução estava em derrubar os custos. ADRIANA AURIEMO – A gente falou, poxa, por que não construir para outros franqueados esse modelo [em eventos] que está ajudando tantos os nossos atuais franqueados? Porque nossos franqueados de shopping já podem vender em eventos, levar um carrinho e complementar a renda dele ali, com algo que é enxuto, prático, simples.
AGÊNCIA DC NEWS – Onde, além de aluguel, está a maior parte do custo? ADRIANA AURIEMO – Na nossa estrutura o caro é o equipamento que torra as castanhas. Nesse novo modelo de franquia não tem esse equipamento. Então, você tem baixo risco e o máximo que vai acontecer se estiver num evento e ele não girar é 0 a 0. Você fica no 0 a 0 porque não tem equipe fixa, não tem o equipamento, não precisa ter ninguém muito especializado. É só venda.
AGÊNCIA DC NEWS – E esse investidor já carrega o forte valor de uma marca de quase 30 anos? ADRIANA AURIEMO – Sim. As pessoas já conhecem o produto, a marca traz um valor agregado muito grande, e já temos know-how muito grande de eventos. Algo que a gente já consegue passar para esse franqueado.
AGÊNCIA DC NEWS – Quantos carrinhos vocês projetam franquear? ADRIANA AURIEMO – Ele cabe em tantos lugares, porque tem tanto evento, tem tanta feirinha, tem tanta festa, é um número difícil de projetar. E sabemos também que será um perfil de franqueado muito diferente do nosso franqueado tradicional.
AGÊNCIA DC NEWS – Qual a maior diferença? ADRIANA AURIEMO – Esse é um ponto importante até pra nossa equipe, pra conseguir avaliar. Porque o franqueado tradicional monta o estabelecimento e o cliente chega até ele, né? No caso desse franqueado [do carrinho] ele vai ter de ir atrás dos eventos. Ele é quem tem de procurar. Precisa ser uma pessoa muito mais comercial do que o nosso franqueado atual. E quanto mais evento ele fizer, melhor. O grande trabalho desse franqueado, na verdade, é ir atrás dos eventos. E a gente fala evento porque não é uma coisa fixa. Cada hora é uma coisa diferente. Por isso, quando estávamos desenhando o projeto, muita gente me perguntou qual é o faturamento estimado. Eu respondia: ‘Impossível afirmar’.
AGÊNCIA DC NEWS – Entendo que tudo é muito difícil de prever, pela novidade mesmo, mas vocês têm alguma projeção de break even para esse investimento? ADRIANA AURIEMO – A gente fez uma estimativa pessimista. Vamos supor que ele faça dois eventos por mês. Pegando padrões de franqueados atuais nossos, a gente acredita que no máximo em oito meses.
AGÊNCIA DC NEWS – E quantos carrinhos vocês imaginam ter franqueado no curto prazo? ADRIANA AURIEMO – Pra gente ser realista, penso em 50 unidades até o meio do ano que vem, após a feira de franquias da ABF, que também vai ser um bom termômetro. Mas eu acredito em um número maior.
AGÊNCIA DC NEWS – Por quê? ADRIANA AURIEMO – Tem muita cidade que não comporta o quiosque tradicional. Cidades menores que não têm um grande shopping center. Mas de repente o franqueado com um carrinho móvel pode ficar uma semana numa praça, na outra semana ele vai pra frente do supermercado, na outra semana ele negocia na galeria X e ele fica lá vendendo.
AGÊNCIA DC NEWS – E sempre alternativa aos shoppings? ADRIANA AURIEMO – Não nesse sentido. Os shoppings são maravilhosos, são nossos parceiros de negócio. Trata-se de mais um caminho. E o momento de Brasil está adequado para isso.
AGÊNCIA DC NEWS – Por qual motivo? ADRIANA AURIEMO – Por dois motivos. Muitos eventos acontecendo e a gente poder ter uma franquia que cabe no bolso de qualquer pessoa.
AGÊNCIA DC NEWS – Das atuais 165 unidades do modelo atual, quantas são próprias? ADRIANA AURIEMO – Das 165, 12.
AGÊNCIA DC NEWS – Vocês já têm praticamente três décadas de relação franqueador-franqueado, algo sempre complexo. E agora partirão para um novo perfil de franqueado. Como fazem para evitar traumas? ADRIANA AURIEMO – Eu acredito em duas coisas. Na transparência. Está com problema, fale. Hoje mesmo eu tive reunião com uma franqueada minha que veio me falar que o nosso processo de escolha de franqueados para novos pontos, ela achava que estava errado. E ela tem certa razão. Então a gente acredita na transparência. Chamar e falar, ‘Putz, olha, acho que a gente errou aqui, como é que a gente conserta?’ E acredito também no alinhamento de expectativas e no alinhamento do papel das partes.
AGÊNCIA DC NEWS – Como se divide a receita dentro das unidades atuais? ADRIANA AURIEMO – Um terço vem de pontos próprios. Um terço vem de royalties e vendas das franquias. E o outro terço vem do que a gente chama da área comercial, que vende a esses outros canais [pontos como supermercados & drogarias mais para as marcas terceiras que usarão os ingredientes em outros produtos].
AGÊNCIA DC NEWS – Qual o faturamento previsto para este ano? ADRIANA AURIEMO – De R$ 87 milhões. Foi em torno de R$ 80 milhões no ano passado.
Modelo quiosque Ano de fundação: fundada no Brasil em 1996 Início em franquias: 1997 Investimento inicial (taxa de franquia + estrutura + capital de giro): R$ 114.500 Faturamento médio mensal: R$ 42 mil Prazo de retorno: de 12 a 18 meses Taxa de lucratividade: de 12% a 15% Taxa de franquia: R$ 49.500 Royalties: 8% (4% Royalties + 4% Locação Equipamento) Taxa de publicidade: 2% Unidades: 165
Novo Modelo Ano de criação: 2025 Investimento inicial (taxa de franquia + estrutura + capital de giro): cerca de R$ 50 mil Faturamento médio mensal: é variável, depende da quantidade de eventos realizados no mês Prazo de retorno: variável Taxa de lucratividade: variável Taxa de franquia: R$ 39.900 Royalties fixo: R$ 450,00 Taxa de publicidade: R$ 350,00/mês
Adriana: transparência e alinhamento de expectativas entre franqueador e franqueado Empresa pensa em franquiar pelo menos 50 unidades até o meio do ano que vem (Divulgação)