[AGÊNCIA DC NEWS]. Em dois dias, 640 pessoas se inscreveram para investir no CRI Centro SP 8, que vai financiar o 23º empreendimento de retrofit na região central de São Paulo. Com isso, o projeto atingiu o valor total. Foram R$ 8 milhões captados – na média, R$ 12,5 mil por investidor (o valor mínimo era de R$ 1 mil). Desta vez, o local escolhido é o Largo da Misericórdia, ao lado da Praça da Sé, um prédio comercial dos anos 1970 ao lado da Casa de Francisca e do Edifício Triângulo. Serão 43 apartamentos nos nove andares, entre estúdios (33 m²), unidades de um dormitório (42 m²) e uma cobertura (217 m²), com valores a partir de R$ 350 mil, aproximadamente. Uma unidade foi adquirida pelo Fundo Fica e será destinada a moradia social. Para os idealizadores – Grupo Gaia (securitizadora) e Somauma (empresa especializada em retrofit) –, o projeto mostra a viabilidade de outro modelo imobiliário no mercado, que inclua visão mais social além do negócio em si.
O imóvel escolhido é exemplo dessa filosofia. O Edifício Tacito de Toledo Lara, no Largo da Misericórdia, passará a ser chamado de Tebas. Homenagem a Joaquim Pinto de Oliveira, conhecido por Tebas, negro que conseguiu a alforria no século 18. Entre várias obras, além da torre da primeira catedral da Sé, ele projetou o Chafariz da Misericórdia, no local onde hoje fica a rua Direita. Reconhecido simbolicamente como arquiteto em 2018 pelo sindicato da categoria no estado de São Paulo, ele também foi tema de samba-enredo composto por Geraldo Filme. Em 2020, a prefeitura inaugurou escultura em sua homenagem na Praça Clóvis Bevilácqua, colada à da Sé.
Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) é um título de renda fixa. No caso do Edifício Tebas, a rentabilidade é de 15% ao ano. O pagamento aos investidores será feito na medida em que os apartamentos forem negociados. O grupo também trabalha com CRAs (recebíveis do agronegócios), inclusive em financiamentos de cooperativas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “É o dinheiro gerando capital produtivo”, disse o fundador do grupo e CEO de Investimentos de Impacto, João Paulo Pacifico, durante o lançamento (online) do projeto do Tebas, ao lado de Marcelo Falcão, um dos sócios da Somauma. Ele citou um dos lemas da empresa, do arquiteto norte-americano Carl Elefant: “The greenest building is one that is already built” (O edifício mais sustentável é aquele que já está pronto).
A aprovação para o empreendimento no Largo da Misericórdia integra o Programa Requalifica Centro (Lei 17.577, de 2021), que prevê incentivos fiscais para incentivar a requalificação de edifícios antigos (anteriores a 23 de setembro de 1992) na região central. No caso do Tebas, a prefeitura vai financiar 15% do total. Segundo a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento, até agora foram aprovados 23 projetos de retrofit, sendo 19 para uso residencial e quatro para uso comercial. Esses projetos somam 2.112 unidades habitacionais. Há outros 33 processos em análise.
Será o quarto empreendimento da Somauma, que neste momento finaliza obras no Edifício Virginia, na rua Martins Fontes, na região da República – o prédio, de 1951, foi encomendado pela família Matarazzo. Estava desativado desde 2019. Ali morou, durante mais de 30 anos, o cantor e compositor Geraldo Vandré. Dos quase 50 apartamentos da construção original, o local terá 121 unidades, de 26 m² a 182 m². A conclusão está prevista para este segundo semestre. Outros dois já foram concluídos, na Vila Buarque (rua General Jardim, com 105 apartamentos) e nos Campos Elíseos (rua Ribeiro da Silva, com 60).
“Optamos por atuar exclusivamente com retrofit — a requalificação de edifícios já existentes — porque acreditamos que essa é a forma mais inteligente, sustentável e responsável de transformar a cidade de São Paulo”, afirmou o engenheiro Nilton Vargas, da Somauma. “Essa escolha é guiada por, pelo menos, quatro pilares principais: redução drástica do impacto ambiental, valorização da memória arquitetônica, requalificação do espaço urbano e reaproximação das pessoas da infraestrutura urbana.” Ele observa que o Centro já é um “território altamente servido”, porém pouco habitado. “Para nós, não é apenas uma escolha técnica. É uma postura ética”, disse Vargas. “É sobre regenerar o que já existe, ativar o Centro com novos usos, respeitar a história e responder aos desafios climáticos sociais com inteligência e responsabilidade.”