Osnir Hambúrguer acelera expansão: são 3 mil lanches por dia, terá mais três unidades e cresce 15% ao ano

Uma image de notas de 20 reais
Com tradição iniciada pelo pai (Osnir), Aldo comanda rede que venceu o Prêmio Empresário de Valor
(Andre Lessa/Agência DC News)
  • Hamburgueria surge na onda das mais tradicionais de São Paulo, como New Dog, Chicohamburguer e Joakins, nos anos 1960
  • Com cinco unidades e plano de chegar a dez até 2030, a empresa fatura R$ 4 milhões anualmene e cresce num ritmo de 15%
Por Bruno Cirillo

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Ainda não faz dez anos que o Osnir Hambúrguer, na esquina da rua das Rosas com a avenida Jabaquara, bairro de Mirandópolis, Zona Sul, deu início à sua expansão. Se antes o delivery restringia-se a um raio de oito quilômetros ao redor do Metrô Praça da Árvore, hoje é conhecido nos quatro cantos da cidade. Fundada em 1969, a hamburgueria surgiu na onda das mais tradicionais de São Paulo. Em 2019, deixou de ser um restaurante só, tornando-se uma rede que se moderniza a cada ano, mas sem perder a simplicidade. Hoje são cinco unidades, a quinta delas inaugurada em agosto. O fundador foi um mineiro chamado Osnir Zerbinatti, nascido em Ouro Fino (MG) no ano de 1936 e que morreu de covid em 2021. O braço direito do pai e responsável pelo balcão desde então é Aldo Zerbinatti, 53. À AGÊNCIA DC NEWS, ele diz que pretende abrir mais três unidades até 2027. Em 2024 a empresa faturou R$ 4 milhões, crescimento anual de 15%, ritmo que pretende manter nos próximos anos. O empresário afirma que a visão familiar prevalece — tanto que não se autodeclara CEO —, embora reconheça que precisou se tornar um gestor mais moderno, pois a casa atualmente exige mais profissionalismo do que intuição.   

Foram essas credenciais que garantiram ao Osnir o Prêmio Empresário de Valor 2025, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), como destaque empresarial da distrital Sudeste da capital paulista os 16 negócios premiados em 2025 serão retratados nesta série de reportagens inaugurada pelo Osnir. São produzidos artesanalmente 3 mil hambúrgueres por dia na lanchonete matriz, que são distribuídos para as outras unidades. A receita, tradicional e de família, surgiu com a explosão de hamburguerias em São Paulo, pelos idos dos anos 1960. Além do Osnir, surgiram empresas como Achapa, Chicohamburguer, New Dog e outras que resistem ao tempo com clientes mais que fiéis. “Era uma novidade ter hamburgueria naquela época. Comer hambúrguer era um negócio novo”, disse Aldo. “Cada um tinha o seu segredo de maionese e não falávamos em blend. Não se dizia ‘operação’, mas ‘meu negócio’”. Hoje o assunto não é mais tabu. Ele mesmo conta que o hamburguer é feito com um mix de coxão mole (a base da receita), acém e peito e, depois de pronto, seguem para “operações” do Osnir na Vila Zelina, na Zona Leste e fundada em 2019; no bairro do Paraíso, Zona Sul e aberta em 2020; na Pompeia (Zona Oeste, desde 2022); e agora no Campo Belo, também na Zona Sul.

A julgar pelas datas de inauguração, percebe-se que o grande salto comercial do Osnir foi mesmo nos anos mais recentes. No delivery, atualmente, a rede entrega 75 mil pedidos por mês. Já nos salões, o cardápio tem 25 pratos e 60 sanduíches, e a demanda do consumidor também mudou. Hoje, no horário do almoço, 60% das vendas são de pratos quentes, enquanto 40% dos consumidores optam pelo sanduíche. A noite, a lógica se inverte: 80% da demanda é por hambúrgueres. “Qualidade é obrigação. A gente tem um blend acertado e uma maionese bacana.” De acordo com ele, para se manter relevante, é preciso manter a régua alta. “O fato é que todas lanchonetes tradicionais trabalham, hoje, praticamente com o mesmo nível.”

Escolhas do Editor

Questionado sobre o momento que percebeu que seu negócio familiar poderia se tornar uma rede, Aldo diz que foi em 2015, ali mesmo na Rua das Rosas, quando ele seu pai compraram parte do imóvel que fica bem na esquina com a Jabaquara. “O público comentou muito, e a gente percebeu a força que é um comércio de esquina”, disse ele. Hoje a unidade cresceu tanto que é composto por por oito imóveis que foram sendo agregados ao longo das décadas, formando a maior loja da rede, num espaço com dois andares, 459 metros quadrados e 120 lugares. Para o futuro, ele diz que o plano é chegar a dez restaurantes. “Se daqui a cinco anos estivermos bem equilibrados com dez lojas, talvez comecemos a pensar em estruturar uma franquia.”

CICLO DA ENTREGA – Não é incomum, para quem roda na cidade de São Paulo, encontrar um motoboy com uma bag com o logo do Osnir. E isso tem um propósito. Hoje a empresa tem 260 entregadores próprios, 60 deles contratados em regime CLT, que garantem o delivery, mesmo em pedidos feitos por aplicativos como Rappi ou iFood. Essa cultura da entrega rápida, no entanto, antecede e muito o boom tecnológico que desenvolveu a classe dos entregadores que conhecemos hoje. Foi em 1992, quando Aldo estava com 20 anos e já atuava diretamente no Osnir, que surgiu a decisão de ampliar a atuação da hamburgueria para outras regiões da cidade. “Comecei o delivery por necessidade, por grana mesmo. Precisávamos de uma forma de arrumar receita”, disse. Desde então, os entregadores usam o logo da empresa nas costas, uma iniciativa que acerta tanto o marketing quando a área de atuação da empresa.

Em 2019 eles inauguraram uma unidade voltada somente para o delivery, com 75 metros quadrados, a operação localizada na Vila Zelina, bairro do distrito da Vila Prudente. Desde então a estratégia consiste em criar zonas de entrega mais confortáveis, em raios de atendimento cada vez menores (dos oito quilômetros iniciais para cinco, hoje em dia). Para isso as outras unidades também se tornaram pontos de saída dos entregadores. A loja do Paraíso, por exemplo, substituiu boa parte das entregas que eram feitas pela matriz, num bairro a quatro estações de metrô de distância.     

Se a estrutura estava formada, o volume se deu por meio dos aplicativos de entrega. E, nesse quesito, o Osnir vem se destacando. Parceira do iFood desde que surgiu, em 2011, a lanchonete ganhou o prêmio de melhor restaurante da região sudeste de São Paulo no último iFood Move, de 2024, evento considerado pela própria corporação como a maior premiação de restaurantes na América Latina. Quando Aldo deu início à expansão da rede, inclusive, ficou surpreso como a marca Osnir, muito além do próprio bairro, já era conhecida até na zona leste. Isso, segundo ele, graças a um presente que ganhou do aplicativo em 2017, dois anos antes de lançar a unidade na Vila Zelina: foram quatro inserções no Domingão do Faustão. “Foi uma coisa que não esperávamos”, disse. Até então, afirma, a percepção dele e de seu pai era de um reconhecimento localizado na Praça da Árvore. “Fomos para um bairro na zona leste, onde não sabíamos como seríamos recebidos, e a marca já estava fortalecida.” Atualmente o Osnir tem uma nota média de 4,9 estrelas no aplicativo (de um total de cinco), mas Aldo acha pouco: “São 600 avaliações negativas por mês. Levamos isso muito a sério. Nossa briga é para chegar no 5.0.” 

Aldo profissionalizou a gestão contábil e hoje fatura R$ 4 milhões anualmente
(Andre Lessa / Agência DC News)

Para atingir essa meta, o foco tem sido melhorar o atendimento com atenção quase individual a cada cliente, otimizando processos internos que permitem observar com mais eficiência a saída dos pedidos e quando há atrasos e para isso a frota própria é fundamental. Quem costuma passar na frente do Osnir na Praça da Árvore vê o mar de entregadores a postos para disparar com os pedidos dos clientes. Segundo Aldo, quando o entregador é do iFood a comunicação com o cliente fica mais burocrática, o que pode atrapalhar a experiência. “Você fez um pedido no iFood e não veio o refrigerante, aí é preciso falar com o iFood”, disse. “É um trabalho danado.”

Os motoqueiros representam a maior parte dos funcionários, que são 412 no total. Os mais antigos são o gerente, Genilson, há 32 anos em atividade, e o comprador, chamado Caçula e que trabalha faz 28 anos na matriz – os compradores, numa lanchonete, são os responsáveis por selecionar as melhores ofertas de carne a cada semana (no caso do Osnir, os cortes são da Boutique Carapreta, produzidos em fazendas de Minas Gerais, e da JBS). “O pão é da City Pão [na Aclimação] há 56 anos. Eles vendem para o New Dog e Joakins também”, disse. Em abril deste ano, Aldo resolveu fazer uma contratação exclusiva de funcionários 50+ para todos os cargos disponíveis, incluindo chapeiro, ajudante, copeiro e atendente. Foram 18 contratações. “São pessoas que já estiveram para o mercado de trabalho. Têm uma outra cabeça.” De acordo com ele, esse perfil de profissional já lidou com os desafios do universo do trabalho e estão mais estabilizados. “Essas pessoas se comprometem.”

CURSO DA HISTÓRIA – A escolha de mudar de área de atuação depois de algum tempo, inclusive, faz parte da origem do Osnir, quando Osnir Zerbinatti, bancário de profissão frequentava uma pequena lanchonete no bairro de Mirandópolis, na zona sul, e se viu comprometido com uma decisão: mudar de funcionário para proprietário. “Ele percebeu que o que desejava mesmo era ser comerciante”, disse o filho. Com essa ideia em mente, a rotina de pequeno bar de um português, destino de Osnir toda sexta-feira após o expediente bancário, se tornou seu objetivo de vida. “Meu pai saía sexta-feira do banco, vinha aqui para o bar, trazia o pessoal”, disse. O bar fechava às 23 horas e Osnir, que era mineiro e e apreciador de cachaça artesanal, questionava constantemente o dono do bar. “Pô, portuga, caramba, vamos ficar até uma hora?”

Família Zerbinatti: ao centro, o fundador, Osnir, que morreu em 2021
(Acervo pessoal)

Osnir comprou o bar e o transformou numa lanchonete no dia 8 de maio de 1969, com hambúrgueres artesanais e boa parte do cardápio original servido até hoje. No cardápio, inclusive, algumas receitas familiares. “Minha mãe, portuguesa, chegou ao Brasil com nove anos, em 1951. Era dona de casa e fazia bolinho de bacalhau para o Bar Leal”, disse. O estabelecimento em questão, que também ficava na Rua das Rosas, e era da família de Aldo. “Meus tios eram os donos.” Os tios também foram donos de um outro bar que ficou famoso naquela época, mais precisamente em 1966, o Bar do Nico, com três unidades, uma delas em frente ao Aeroporto de Congonhas. No caso do Osnir, a Aldo é sócio de seus dois irmão.

Até 1982, o seu Osnir dividia a rotina do restaurante com o Banco Real de Crédito de Minas Gerais, também na Praça da Árvore, onde trabalhava. “Meu pai ia às 8h para o banco, quando dava 13h, ele vinha ajudar minha mãe, depois voltava para o banco”, disse. A primeira dificuldade que a recém-inaugurada lanchonete enfrentou foi com a inauguração da estação do Metrô, em 1971, numa época em que só existia a então chamada Linha Norte-Sul. Em 1982, Osnir até recebeu uma proposta para deixar a agência na Praça da Árvore e trabalhar no Centro, mas recusou, pois senão teria que deixar o restaurante. No mesmo ano, alugaram o segundo imóvel que até hoje faz parte do lugar, no andar de cima, com acesso pela escada lateral do salão. “Fomos alugando os espaços modularmente e crescendo devagarzinho”, disse Aldo, datando a expansão (1969, na avenida Jabaquara 538; 1982, o salão de cima; 1986, Jabaquara 540; 1986, Jabaquara 542;  2001, rua das Rosas 32 e 36;  2011, Rosas 42; 2015, a famigerada esquina da Jabaquara 550 com a Rosas; e 2017, Rosas 46, onde atualmente estão as câmaras frias onde o hambúrguer é produzido). 

“As coisas foram evoluindo, né?”, disse ele, ao se deparar com a própria história. Nesse período os desafios também era na proposta. “Não havia curso de gestão, de blend de hamburguer. Tudo era novidade.” Hoje, consolidado, ele afirma que não faria nada diferente. “Fomos criados nisso, estamos acostumados. Quando você é apaixonado pelo que faz, o trabalho vira diversão.” Mesmo nos momentos difíceis, como a pandemia, ele se orgulha de dizer que hoje em dia não tem nenhuma dívida e que há dois anos contratou uma expert do setor financeiro para cuidar das contas e ajustar a estrutura da contabilidade. “Porque às vezes nos atrapalhamos, já dancei muito por conta disso.” A estruturação do setor de RH também foi importante para evitar problemas trabalhistas. O Osnir tem dois escritórios comerciais do outro lado da avenida Jabaquara, onde cuida de todas as questões burocráticas. Com uma estrutura de grande empresa e um coração de grupo familiar, Aldo está mais próximo do que imagina de um verdadeiro CEO do ramo alimentício.

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