Estudo feito este ano pela McKinsey & Company traz uma constatação preocupante para o setor varejista: a vulnerabilidade a fraudes. Apenas quatro a cada dez empresas têm alguma estratégia antifraude entre suas prioridades. O levantamento foi feito em toda a América Latina com CEOs de seis segmentos (Agro, Indústria, Instituições Financeiras, Serviços e Tecnologia-Telecom-Mídia, além do Varejo). A questão se agrava porque do outro lado do balcão sete a cada dez consumidores só realizam transações com empresas que protegem seus dados.
Uma das razões para este descaso seria deteriorar a experiência com o cliente – já que incluir camadas de proteção aumentaria a fricção e reduziria a retenção. “O desafio para o setor é achar o equilíbrio entre prevenção e experiência do consumidor”, afirmaram os autores do estudo, Elias Goraieb, Roberto Marchi e Patrick Rinski, todos da McKinsey em São Paulo. Para eles, um caminho é definir claramente o apetite ao risco e o grau de exposição a perdas que a empresa considera aceitável. “Outro passo fundamental é garantir sinergia entre as áreas de risco e de negócios.” Dessa maneira seria possível construir indicadores que levem em conta as metas de receita e as perspectivas de fraudes nos processos.
Em termos de preocupação contra fraudes por parte de suas lideranças, o setor varejista (ver gráfico) fica à frente apenas do Agro, em que a questão é estratégica para apenas 19% dos CEOs. Mas está atrás de todos os demais: Serviços (52%), Indústria (56%), Instituições Financeiras (58%) e Tecnologia-Telecom-Mídia (64%). O reflexo disso é uma estimativa de perdas de até US$ 130 bilhões ao ano por causa das fraudes na América Latina. Nos últimos dois anos, 54% das corporações registraram aumento nas perdas. No Brasil foi pior: 60%.
Apesar do cenário desafiador, a boa notícia, segundo a McKinsey, é que há uma grande oportunidade: metade dos prejuízos pode ser evitada. “Chegaríamos a uma economia de US$ 65 bilhões na América Latina com uma estratégia preventiva e integrada”, afirmaram os autores. “Porque já não é mais uma questão de se, mas de quando uma organização será alvo de ameaças.”
FÍSICO – O estudo também mostra que não se trata apenas de fraudes em ambientes digitais, principalmente por meio de malwares (que injetam vírus nos sistemas) e phishing (que usam emails para os ataques). No mundo físico o problema se mantém, sendo a fraude logística a que mais afeta as varejistas – com a falsa devolução de itens e o desvio de mercadorias que não chegam aos clientes.
Para Michele Nogueira, doutora em ciência da computação pela Universidade de Sorbonne, na França, o problema afeta a todos de forma geral, “mas especialmente as empresas que ainda não se preocupam”. Em sua avaliação, as fraudes físicas podem ser combatidas com o uso de dispositivos digitais que controlam todo o processo, desde a produção até chegar nas mãos do consumidor. No ambiente digital, adotar medidas que são acessíveis até para pequenas e médias empresas, como o hábito de fazer backup, técnicas de criptografia e realizar treinamento dos funcionários para que estejam atentos e saibam reagir a ataques cibernéticos.