SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que não compareceu à missa que foi realizada nesta quarta-feira (13) na Catedral de Bogotá em memória do senador Miguel Uribe, seu opositor e pré-candidato à Presidência que morreu nesta semana, quase dois meses após ter sido vítima de um atentado a tiros.
Depois da cerimônia religiosa, o corpo de Uribe será enterrado no Cemitério Central da capital colombiana. Petro confirmou que não participaria “em respeito à família” de Uribe, que pediu que nenhum integrante do governo estivesse presente.
“Não vamos [não] porque não queremos, apenas respeitamos a família e evitamos que o sepultamento do senador Miguel Uribe seja tomado pelos partidários do ódio”, escreveu o presidente em um post no X.
Sua vice, Francia Márquez, também se manifestou nas redes para explicar a ausência. “Quero expressar minhas mais sinceras condolências à esposa, familiares e entes queridos do senador Miguel Uribe. Tomei conhecimento de que sua família manifestou o desejo de não receber a presença de representantes do governo neste momento de luto, e respeito profundamente essa decisão e, em coerência com ela, não comparecerei às honras fúnebres na Catedral de Bogotá”, afirmou.
A situação reflete a polarização do país e a pressão sobre Petro, primeiro presidente de esquerda da Colômbia que é acusado pela oposição de radicalizar o debate político. Uribe, ainda por cima, era um crítico ferrenho de Petro.
O político de direita foi baleado em um evento de campanha e estava internado em estado grave em um hospital. Ele foi submetido a cirurgias na cabeça e na perna. Desde então, seu estado de saúde oscilou, e o quadro piorou nos últimos dias. Ele morreu na segunda (11).
O ataque trouxe à tona um fantasma antigo da Colômbia: os violentos assassinatos de políticos e presidenciáveis que levaram pânico à população nas décadas de 1980 e 1990.
O senador era, inclusive, filho da jornalista Diana Turbay, que foi mantida refém por um grupo ligado ao cartel de Medellín e morta na tentativa de resgate, em 1991 a história é relatada no livro “Notícia de um Sequestro”, de Gabriel García Márquez (1927-2014).
Uribe era neto do ex-presidente Julio César Turbay Ayala, que governou a Colômbia de 1978 a 1982. Também fazia parte do Centro Democrático, principal partido de direita e liderado pelo influente ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) apesar do mesmo sobrenome, eles não eram parentes.
O primeiro pronunciamento de Petro após o atentado gerou controvérsia e foi criticado pela oposição na noite do próprio sábado em que ocorreu o crime, ele fez uma postagem em que nem mencionava o nome de Uribe, referindo-se a ele como “o filho de uma mulher árabe”, em alusão à sua mãe.
“Ah, a Colômbia e sua eterna violência. Eles querem matar o filho de uma mulher árabe em Bogotá, que já havia sido assassinada, e não se deve matar no coração do mundo. Eles matam o filho e a mãe”, escreveu o presidente.
O ex-presidente Andrés Pastrana (1998 a 2002) acusou Petro de “semear o ódio” e “incitar a violência” contra a oposição.
Petro depois condenou o ataque de forma mais objetiva e prometeu “caçar os responsáveis”. Ele também apoiou os atos pelo fim da violência que se espalharam pelo país. Mas não deixou de rechaçar o que classificou de “tentativas de uso político” do episódio. “Os padrões do crime repetem os padrões da morte da maioria dos líderes políticos da Colômbia”, afirmou.
Miguel Uribe entrou para a política em 2012, ao ser eleito vereador com o apoio de líderes liberais. Sua passagem pela Câmara coincidiu com o mandato de Petro à frente de Bogotá, e ele se posicionou como um dos principais críticos do então prefeito.
Dois dias antes do ataque, os dois bateram boca pelas redes sociais, com o presidente questionando suas críticas. “O neto de um ex-presidente que ordenou a tortura de 10 mil colombianos falando de ruptura institucional?”, escreveu o chefe do Executivo. O senador rebateu, dizendo que Petro “empunhou armas e participou de um grupo criminoso”, ao se referir à guerrilha M19.
Antes do ataque, Uribe não aparecia como um dos favoritos na corrida presidencial, embora fosse visto como um candidato ascendente. O país vai às urnas no próximo ano, e Petro não poderá concorrer, uma vez que não existe reeleição na Colômbia.