PF diz que senador tem vínculo com contador investigado por desvio de emendas

Uma image de notas de 20 reais

Imagem gerada por IA
Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal afirmou em relatório enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) que um dos suspeitos de desviar emendas parlamentares destinadas a um projeto educacional em Brasília tem relação próxima com o senador Izalci Lucas (PL-DF).

O senador foi um dos parlamentares que destinou recursos para a organização social Associação Moriá, que promoveu o Circuito de Jogos Digitais do DF. Foram mais de R$ 7,5 milhões enviados por Izalci. Ele nega participação e conhecimento das irregularidades.

Os investigadores disseram ao Supremo não haver indícios de que houve conversas entre os suspeitos e o senador para o desvio de recursos públicos. Izalci não foi alvo de operação da Polícia Federal.

As informações se tornaram públicas nesta quarta-feira (30), após o ministro Flávio Dino derrubar o sigilo de sua decisão que autorizou a Operação Korban. A investigação mira desvio de emendas parlamentares para Associação Moriá.

Foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão em Brasília e outros três estados na terça-feira (29). A suspeita é que a organização social tenha desviado R$ 13,2 milhões com contratação de empresas terceirizadas e sobrepreço de produtos.

Um dos alvos da operação foi Adriano Marrocos, ex-presidente do Conselho Regional de Contabilidade do DF e membro do Conselho Federal de Contabilidade.

A Polícia Federal diz que Marrocos representa a “força política da Moriá”, destacando sua participação em eleições do Distrito Federal e suas relações no meio político.

Segundo a PF, Adriano Marrocos e Izalci Lucas “aparentemente nutrem uma relação bastante próxima”.

“Não por acaso, em ao menos dez audiências públicas ou sessões parlamentares solenes requeridas por Izalci Lucas nos últimos 14 anos, Adriano Marrocos participou ou fez pronunciamentos”, diz a Polícia Federal.

O senador Izalci Lucas negou à reportagem que tenha conversado com Adriano Marrocos sobre emendas parlamentares. “Para mim foi surpresa a participação dele nesse processo. Ele foi presidente do CRC e é conselheiro do Conselho Federal de Contabilidade. As vezes que falei com ele no Senado foram sessões solenes em homenagem aos contadores e alguma legislação de interesse dos contadores”, disse.

Em nota, a assessoria do senador afirmou que pediu o cancelamento da emenda destinada à Associação Moriá. “O senador Izalci Lucas reforça seu compromisso com a aplicação eficaz e transparente do dinheiro público”, acrescentou.

A reportagem entrou em contato com o escritório de Adriano Marrocos, mas ainda não obteve resposta.

A investigação identificou que Izalci enviou uma emenda de R$ 9,4 milhões em 2023 para quatro associações —a maior parte (R$ 7,5 milhões) ficou com a Moriá.

“É forçoso inferir que houve uma interlocução direta com o congressista durante esse interstício, em favor da destinação de recursos à entidade investigada. Ainda, nessa linha de investigação, a conclusão mais lógica é de que Adriano provavelmente fez as vezes de lobista junto ao referido congressista, dados os indícios de intervenção no encaminhamento da emenda parlamentar”, afirmam os investigadores.

A suspeita identificada pela Polícia Federal é que a Associação Moriá tenha desviado recursos de emendas parlamentares por meio da subcontratação de empresas que prestaram serviços para o circuito de jogos digitais.

Cerca de 90% do valor recebido pela Moriá foi repassado a empresas terceirizadas, segundo a CGU (Controladoria-Geral da União).

Duas das empresas subcontratadas seriam ligadas a Adriano Marrocos e sua esposa, de acordo com a investigação. Uma delas é o escritório de contabilidade do casal; outra, uma empresa chamada Alphatec, da qual foram sócios até julho de 2024.

O relatório da PF diz que os desvios ocorriam da seguinte forma: a Moriá recebia recursos de emendas parlamentares, escolhia empresas terceirizadas e firmava “acordos espúrios” para o sobrepreço dos contratos.

Para evitar que novos desvios ocorressem, o ministro Flávio Dino decidiu pelo sequestro de bens dos investigados e o bloqueio das contas bancárias das empresas no valor de R$ 25 milhões.

A Associação Moriá afirmou, em nota, que foi “surpreendida pela busca e apreensão determinada pelo ministro Flávio Dino”.

“Ela está e estará à disposição de todas as autoridades, em especial do STF e do MP, para prestar todas as informações necessárias que demonstrem a lisura dos seus procedimentos, assim como das condutas de seus dirigentes”, completou.

MAIS LIDAS

Voltar ao topo