[AGÊNCIA DC NEWS]. Os preços internacionais do café subiram em agosto, alcançando 297 centavos de dólar por libra peso, aumento mensal de 14,6% em relação a julho. No primeiro dia de agosto, o grão estava cotado a 249 centavos de dólar por libra peso. Em relação a junho, o valor está pouco acima dos então registrados 295 centavos de dólar por libra peso, sinalizando renovação da pressão altista sobre as cotações da commodity no mundo, de acordo com o indicador composto de preço (I-CIP) da Organização Internacional do Café (ICO, na sigla em inglês). Com a alta global, o grão segue encarecido no Brasil, num salto de 93,5% entre junho de 2025 e junho de 2024, segundo a Associação Brasileira de Café (Abic) – mas por fatores de oferta e demanda, e não por causa do tarifaço, destaca a entidade.
Na análise global, a ICO indica que o mês de junho representou grande correção inicial em relação às máximas da primavera (entre setembro e novembro, época da florada do café), enquanto julho (momento da colheita) presenciou nova queda, com volumes abundantes de exportação e superávit que pressionou os preços, na avaliação da ICO. Já em agosto, houve forte recuperação na trajetória dos preços, impulsionada por diversos fatores do lado da oferta e da gestão da demanda.
Em relação aos estoques, certificados de robusta em Londres foram menores em junho do que em agosto, com 1,1 milhão de sacas (60 kg cada, ou seja, equivalente a 66 mil de toneladas), mas subiram acentuadamente em julho, antes de cair modestamente em agosto, conforme o relatório. Já os estoques de arábica em Nova York diminuíram em agosto (0,7 milhão de sacas, o menor nível desde abril de 2024). A ICO avalia que os estoques baixos foram um dos principais motivos para a sustentação dos preços.
“Diversos eventos e fatores estruturais impulsionaram os preços para cima em agosto, após a queda de junho e julho”, disse o relatório. O estudo cita as tarifas dos Estados Unidos sobre o café brasileiro, assim como a reação do mercado interno do Brasil – com esvaziamento de estoques e balanços patrimoniais mais fortes para produtores – como algumas das principais influências no preço. Além disso, a pesquisa também diz que “um grande pacote de financiamento estatal (Funcafé)” reduziu a “pressão imediata”.
A ICO também indica que a comercialização do café no Brasil caminha a passos lentos. Embora boa parte da safra já tenha sido colhida, apenas uma fração foi comercializada, limitando a oferta disponível. Além disso, preocupações com a qualidade (grãos com menor densidade) e uma pequena geada em meados de agosto reduziram a estimativa efetiva de fornecimento e também ajudaram a sustentar os preços. Linha de crédito destinada ao segmento, o Funcafé 2025/2026 destina R$ 7,2 bilhões para custeio, comercialização e capital de giro, entre outras funções, como a recuperação de cafezais danificados.
PRODUÇÃO E VAREJO – A estimativa para a produção de café nesta safra é de 55,2 milhões de sacas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), crescimento de 1,8% em relação à temporada anterior (2024/2025). Até o final de agosto, 96% da área já tinham sido colhidos.
No Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o café tem pressionado a inflação. Em um ano até junho, o grão acumula alta de 77,8%, segundo o IBGE. Dado recentes da Abic sobre o preço do produto no varejo demonstram essa disparada. Em junho de 2025, o valor médio do quilo era R$ 66,70 – aumento de 17,6% em relação a janeiro. Segundo a entidade, o tarifaço de Trump – que poderia aliviar os preços no mercado interno se porventura as exportações diminuíssem – tem reflexo limitado no mercado doméstico, visto que a redução dos estoques e a quebra da safra verificada no campo tiveram impacto mais significativo, resultando no aumento de preços. A Abic indica que os possíveis impactos do tarifaço, que trariam excedentes de café para o consumo interno, devem ser graduais e pontuais.