Premiê japonês sofre pressão por renúncia após derrota eleitoral no Parlamento

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PEQUIM, CHINA E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A coalizão governista do Japão perdeu nas eleições deste domingo (20) a maioria na Câmara Alta do Parlamento do Japão, equivalente ao Senado no Brasil. O resultado representou ao partido do premiê, que dominou a política japonesa dos últimos 70 anos, uma de suas piores derrotas eleitorais, enquanto uma legenda até então nanica de ultradireitistas abocanhou uma fatia relevante dos assentos da Casa.

Das 248 cadeiras, apenas 125 estavam em disputa, das quais 47 tinham sido conquistadas pelos governistas até a noite deste domingo no Brasil. Com os outros 75 assentos já garantidos, a coalizão estava com 122 membros na Câmara Alta no total -número aquém dos 125 necessários para se manter como maioria.

Já oposição, que já tinha 48 cadeiras garantidas, conquistou 77 assentos nestas eleições -125 no total. Ainda havia um assento em disputa.

O premiê japonês, Shigeru Ishiba, sai enfraquecido do pleito -o integrante da Câmara dos Representantes Taro Aso, ex-vice-primeiro-ministro, por exemplo, disse à TV Asahi que “não podia aceitar” a manutenção do correligionário no cargo.

A pressão é amplificada pelo pior desempenho do partido em 15 anos na eleição para a Câmara Baixa, que ocorreu em outubro. O resultado deixou o governo vulnerável a moções de desconfiança e levou a pedidos de mudança da liderança dentro do próprio partido.

Na ocasião, a principal explicação foi um escândalo de contas secretas que abalou o Partido Liberal Democrático (PLD), de Ishiba. Agora, pesam questões como a inflação, que alcançou 3,3% de taxa anual em junho e foi marcada pela escassez de arroz, além a política de imigração, que levou ao questionamento do número de estrangeiros no país, explorada por opositores na campanha.

Apesar disso, uma queda do governo é improvável. Ele pode convidar um ou mais partidos para se integrarem à base ou manter-se minoritário.

Duas horas após o fechamento das urnas, Ishiba afirmou à emissora pública NHK que aceitava o “resultado severo”. Questionado se permaneceria como primeiro-ministro e líder do partido, ele respondeu: “Isso mesmo”. Em entrevista coletiva, argumentou estar “envolvido em negociações extremamente cruciais com os Estados Unidos”. “Não podemos jamais destruir essas negociações”, afirmou.

O negociador do Japão deve viajar nos próximos dias a Washington, para tentar fechar um acordo antes do dia 1º, quando o presidente americano ameaça impor 25% de taxação sobre os produtos japoneses.

Analistas do banco UBS, por outro lado, projetam que um governo enfraquecido pode resultar até mesmo na ausência de um acordo tarifário com os EUA.

O premiê acrescentou na coletiva que o PLD precisa encaminhar o que defendeu na campanha. Foi uma referência à situação fiscal do país, que ele vê ameaçada pela bandeira oposicionista de reduzir o imposto sobre consumo.

“O PLD estava em grande parte na defensiva nesta eleição, ficando do lado errado de uma questão eleitoral fundamental”, disse à agência de notícias Reuters David Boling, diretor da consultoria Eurasia Group.

“Pesquisas mostram que a maioria das famílias quer um corte no imposto sobre o consumo para combater a inflação, algo a que o PLD se opõe. Os partidos de oposição aproveitaram a oportunidade e reforçaram a mensagem.”

Um dos partidos que exploraram esses pontos fracos foi o ultradireitista Sanseito. Originado de um canal de YouTube conservador, o partido tem uma postura revisionista em relação a acontecimentos envolvendo o Japão na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e foi responsável por espalhar desinformação sobre a Covid-19 durante a pandemia.

A plataforma que busca emular a xenofobia de Trump com a campanha “Japoneses Primeiro” e alertas sobre uma “invasão silenciosa” de estrangeiros parece ter dado certo -eles tinham conquistado 13 assentos na Casa, embora continuem com apenas três cadeiras na Câmara Baixa.

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