Presidente da bancada ruralista pede negociação com Trump, poupa Bolsonaro e defende anistia

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR) afirma que o governo Lula (PT) precisa sentar à mesa com os Estados Unidos para negociar a sobretaxa anunciada pelo presidente Donald Trump, inclusive em relação ao processo criminal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Não é uma questão de atendê-lo ou não atendê-lo [Trump]. Acho que precisa haver essa negociação. Não pode ser [um assunto] simplesmente ignorado”, disse o presidente da bancada ruralista em entrevista à Folha de S.Paulo nesta sexta (11).

Na carta ao Brasil, o presidente americano diz que o julgamento contra Bolsonaro é “uma desgraça internacional”. “É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!”, escreveu, ao anunciar na quarta-feira (9) a sobretaxa de 50% para importação de produtos brasileiros.

O anúncio preocupou o setor agropecuário, mas Lupion evita criticar Bolsonaro pela sobretaxa. Diz que o ex-presidente já fez “uma nota importante no Twitter” sobre a “importância de ponderar com os Estados Unidos os reflexos econômicos para o Brasil” e que ele, pela relação com Trump, tem condições de avaliar os danos negativos que a decisão causará ao Brasil.

A nota de Bolsonaro, no entanto, não fala sobre isso. O ex-presidente diz que a sobretaxa é “resultado direto do afastamento do Brasil dos seus compromissos históricos com a liberdade” e que os Poderes precisam agir “com urgência apresentando medidas para resgatar a normalidade institucional”.

Para o presidente da bancada ruralista, o governo Lula é o culpado pela sobretaxa ao não manter boas relações com os Estados Unidos, como ao buscar aproximação com os Brics (grupo formado por Índia, China e Rússia, entre outros países) e discutir a criação de uma moeda comum para os países do bloco.

“Essa dificuldade de relacionamento político passa muito pela série de atos e fatos feitos pelo próprio presidente Lula e pela diplomacia brasileira”, critica.

Ele também acredita em pouca efetividade do uso da Lei de Reciprocidade para enfrentar as sobretaxas de Trump, arma que o presidente Lula sugeriu para reagir as tarifas. Essa lei foi elaborada com a liderança da própria FPA para responder as restrições do mercado europeu à produção agropecuária brasileira. “Seria uma gotinha de água no oceano, não acho que seria efetivo”, diz.

Lupion defende que é preciso discutir a questão política também, como colocado na carta de Trump, e compara o julgamento de Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal) pela suposta tentativa de golpe de Estado ao questionamento dos Estados Unidos sobre a entrada de drogas na fronteira com o Canadá -um dos argumentos utilizados por Trump para impor sobretaxas aos canadenses.

“Essa motivação mais política, mais ideológica em relação ao Brasil, precisa alguém sentar na mesa e conversar, entendeu?”, diz o presidente da bancada ruralista no Congresso.

Embora cobre uma negociação em torno também desse tema, ele diz ver poucas chances de um acordo nesse campo. “Não acredito que vai haver um acerto político ou uma concordância entre lado A e lado B em relação ao presidente Bolsonaro ou em relação à regulação das big techs”, diz.

Na opinião do parlamentar, a saída é a diplomacia brasileira abrir um canal de diálogo para mostrar os impactos negativos da decisão na vida dos americanos. “Essas tarifas aplicadas ao agronegócio serão extremamente graves para os consumidores americanos”, afirma.

Entre os produtos do agro mais afetados pela sobretaxa de 50%, e que ficarão mais caros para os consumidores dos Estados Unidos, estão o café, suco de laranja, celulose, etanol, açúcar e carnes. O meio mais efetivo de convencer Trump a recuar é mostrar o impacto disso não apenas para a economia do Brasil, mas para o mercado americano.

A FPA estuda procurar a embaixada americana no Brasil para apresentar esses dados e até enviar uma comitiva aos Estados Unidos para fazer essas ponderações. “Tem problemas ali que eles precisam estar atentos e que vão gerar um problema maior para o mercado deles, como o café”, comenta.

O deputado é favorável à anistia de Bolsonaro e dos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, mas destaca que essa é uma posição pessoal, não da frente parlamentar. Ele afirma que a pressão de Trump a favor do perdão ao ex-presidente não deve interferir nas discussões do Congresso.

“Não tem momento fácil de votar isso. Agora, tem que ser debatido. Se a gente acha que tem voto, tem que pautar”, diz.

Ele descarta que a cobrança do presidente americano a favor da anistia piore o clima no Congresso brasileiro para aprovar a medida. “Pelo contrário. Acho que melhoraria muito a questão com os Estados Unidos”, afirma.

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