Presidente da Nigéria diz que está disposto a se reunir com Trump após receber ameaças de ataque

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Nigéria, Bola Tinubu, está disposto a se encontrar com o mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump, disse um porta-voz do governo nigeriano neste domingo (2). O anúncio acontece um dia após o presidente americano acusar o país africano de permitir que muçulmanos matem cristãos e ameaçar atacar o território.

No sábado (1º), em publicação no Truth Social, Trump chamou a Nigéria de “país desgraçado”, disse que interromperia todo tipo de assistência a Abuja e afirmou que pediu que o Departamento de Guerra -referindo-se à pasta da Defesa pelo nome com o qual quer rebatizá-la- se preparasse para uma possível ação militar.

“Se atacarmos, será rápido, violento e certeiro, assim como os bandidos terroristas atacam nossos estimados cristãos”, escreveu. No dia anterior, o governo americano recolocou a Nigéria na lista de “países de preocupação particular”, que elenca nações que os EUA dizem ter violado a liberdade religiosa, como China, Mianmar, Coreia do Norte, Rússia e Paquistão.

“Não interpretamos a publicação de forma literal. Sabemos que Donald Trump tem seu próprio estilo de comunicação”, disse à agência de notícias AFP Daniel Bwala, assessor especial de Tinubu para comunicação política, sugerindo que se tratava de uma forma de forçar um encontro entre os dois líderes para que pudessem achar uma “frente comum” no combate à insegurança.

Bwala não forneceu detalhes sobre uma possível reunião entre Trump e Tinubu, mas afirmou que as divergências sobre se os ataques terroristas são direcionados apenas a cristãos ou se atingem qualquer cidadão serão discutidas e resolvidas pelos mandatários quando se encontrarem nos próximos dias.

À Reuters, Bwala minimizou as tensões entre Abuja e Washington e disse que a Nigéria receberá ajuda dos EUA no combate aos insurgentes islâmicos desde que sua integridade territorial seja respeitada. “Tenho certeza de que quando esses dois líderes se encontrarem e sentarem, haverá melhores resultados em nossa resolução conjunta para combater o terrorismo”, afirmou.

Com mais de 200 milhões de pessoas e cerca de 200 grupos étnicos, o país africano se divide entre a predominância muçulmana ao norte e a maioria cristã no sul. Ataques de grupos terroristas islâmicos, como o Boko Haram e a Província do Estado Islâmico da África Ocidental, têm ocorrido sobretudo ao nordeste do país, vitimando principalmente muçulmanos, segundo especialistas.

“Grupos insurgentes como o Boko Haram e o Estado Islâmico da África Ocidental frequentemente apresentam suas campanhas como anticristãs, mas na prática sua violência é indiscriminada e devasta comunidades inteiras”, disse à Reuters Ladd Serwat, analista sênior para África do grupo americano Acled (Banco de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados, na sigla em inglês).

No centro da Nigéria, há confrontos frequentes entre pastores muçulmanos e agricultores cristãos por acesso à água e às pastagens, enquanto no noroeste do país, homens armados atacam vilarejos, sequestrando moradores para obter resgate. “A violência islâmica é parte da dinâmica complexa e sobreposta de conflitos por poder político, disputas de terra, etnia, afiliação a cultos e banditismo”, diz Serwat.

Pesquisas do Acled mostram que, de 1.923 ataques a civis na Nigéria até agora este ano, o número daqueles que visavam cristãos por causa de sua religião foi de 50. Alegações recentes que circulam entre círculos de direita dos EUA de que até 100 mil cristãos foram mortos na Nigéria desde 2009 não são se comprovam pelos dados disponíveis, diz Serwat.

O presidente nigeriano, muçulmano do sul do país casado com uma pastora cristã, rebateu acusações de intolerância religiosa no sábado, antes da publicação de Trump.

Newsletter China, terra do meio Receba no seu email os grandes temas da China explicados e contextualizados *** “A caracterização da Nigéria como religiosamente intolerante não reflete nossa realidade nacional, nem leva em consideração os esforços consistentes e sinceros do governo para salvaguardar a liberdade de religião e crenças para todos os nigerianos”, disse.

Ao fazer nomeações para o governo e de militares, Tinubu tem buscado equilíbrio para garantir que muçulmanos e cristãos sejam representados igualmente. Na semana passada, o mandatário mudou a liderança militar do país e nomeou um cristão como novo chefe de defesa.

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