Presidente do partido de Marçal fraudou filiações e ameaçou mulher de morte, dizem dirigentes

Uma image de notas de 20 reais
Do total de candidaturas registradas nas capitais, apenas 40 serão lideradas por mulheres, o que equivale a 20,8% dos candidatos às prefeituras
Crédito: Alejandro Zambrana/Secom/TSE

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente nacional do PRTB, Leonardo Avalanche, é acusado por adversários dentro do partido de vender candidaturas, fazer ameaças e fraudar filiações.

A acusação foi protocolada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo secretário-geral da legenda, Marcos Andrade, e pela ex-vice-presidente Rachel de Carvalho, que diz ter deixado o posto após sofrer ameaça de morte. Procurado, Avalanche não respondeu à reportagem.

Eles pedem à corte eleitoral que destitua Avalanche do comando do partido.

Sigla pela qual Pablo Marçal concorre à Prefeitura de São Paulo, o PRTB vive um racha interno. A presidente da corte, ministra Cármen Lúcia, negou pedido de concessão de decisão liminar (provisória) de afastamento, “sem prejuízo de exame posterior mais detido da causa”.

“As alegações não podem prescindir da produção de provas em juízo, observado o contraditório, o que afasta a concessão da tutela de urgência antes da devida instrução processual, sem a oitiva do requerido”, afirmou a magistrada.

A ação, noticiada inicialmente pelo portal G1, afirma que o chefe do partido vende postos de comando na legenda.

“Leonardo utiliza o partido como seu empreendimento privado. Para atuar, montou um verdadeiro time de vendas, que negocia com diretórios do país inteiro posições diretivas no partido e posições de candidaturas para o pleito municipal de 2024”, diz a peça, protocolada em 19 de junho no TSE.

A ex-vice-presidente afirma que deixou o posto após ser coagida: “Tais constrangimentos continuaram e caminharam para coações que culminaram em ameaças de morte que geraram o seu ato de renúncia do cargo, assinada na data de 3 de abril de 2024”.

Rachel disse à reportagem que foi acusada por Avalanche e seus aliados em dois momentos. No primeiro caso, segundo o relato dela, o dirigente teve uma dura reunião com Rachel e inventou um código para anunciar a morte dela.

“Ele me chamou na mesa e falou para mim: ‘No dia que eu falar para você pegar sua vara e ir pescar, é porque eu vou te matar'”, disse Rachel sobre a conversa com Avalanche.

A segunda ameaça teria sido feita por um advogado próximo do dirigente do PRTB. Ele cobrava que Rachel e membros do partido renunciassem aos cargos que ocupavam na gestão anterior.

“Isso foi no dia 3 [de março]. Eu tinha enterrado meu pai no dia 2 e estava extremamente sensível. Eles me fizeram tirar uma selfie depois de ter chorado pela morte do meu pai. Fui pressionada [para renunciar]. É horrível lembrar disso”, afirmou a ex-vice-presidente do partido.

Rachel conta que as ameaças causaram perturbação em sua vida. Diz que causa “sensação tão maluca de você saber que não é dona dos seus pensamentos e dos seus sentimentos”.

“Você não pode mais sonhar, você perde a credibilidade com você mesma. Eu não sei explicar: é um sequestro da alma”, disse. Avalanche foi procurado para se posicionar sobre a denúncia, mas não respondeu.

O dirigente também é acusado de filiar 77 pessoas de outros partidos no PRTB, para garantir sua vitória na disputa pela presidência da sigla.

“A facilidade com que se prova a fraudulenta filiação de mais de 70 pessoas em outro partido (Mobiliza), à contrariedade de suas vontades, sem sequer lhes dar conhecimento, registrando tudo nos sistemas eleitorais demonstra ou muita ingenuidade, ou muita confiança no domínio sobre o sistema judicial”, diz.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, Avalanche aparece em áudio afirmando a um correligionário que mantém vínculos com integrantes da facção criminosa PCC.

A gravação foi feita em fevereiro deste ano durante conversa com Thiago Brunelo, filho de um dos fundadores do partido. O diálogo entre os dois na época ocorreu em um contexto de disputa interna pela presidência do PRTB, após o TSE ter decretado intervenção na sigla.

O encontro foi pedido por Avalanche e ocorreu em um restaurante de beira de estrada em São Paulo, segundo duas pessoas com conhecimento do assunto. O político, que aparentava tentar mostrar influência sobre autoridades para conquistar o apoio de Brunelo, não sabia que era gravado.

“Não tem o Piauí, de [inaudível]? Não tem o chefe do PCC que está solto? Ele é a voz abaixo”, disse Avalanche, referindo-se ao seu motorista. “Ele nunca mexeu com política. Hoje ligaram para o menino, né, lá dentro da cadeia e falaram: ‘Estou trabalhando pro Avalanche de motorista’.”

O Piauí citado por Avalanche é o ex-chefe do PCC na favela de Paraisópolis (SP) Francisco Antonio Cesário da Silva. O motorista do político seria, na versão dele, um aliado do criminoso na facção.

O dirigente partidário ainda disse que foi o responsável pela soltura de André do Rap, outro chefe do PCC. Ele foi posto em liberdade por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em 2020.

“Eu sou o cara que soltou o André [do Rap]. A turma não sei se vai te contar isso. Esse é o meu trabalho, entendeu? A próxima, agora, a gente vai botar um lugar acima dele. Esse é o meu dia a dia […] Eu faço um trabalho bem discreto”, afirmou Leonardo, segundo o áudio.

Ele afirmou que não reconhece a própria voz na gravação e nega vínculo com facção.

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