SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O jornal britânico The Guardian publicou nesta quinta-feira (28) que uma segunda mulher apresentou uma nova denúncia de assédio sexual contra o procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan.
A identidade dela não foi revelada pelo jornal, sob a justificativa de medo de represália e possíveis consequências para ela e sua família. A mulher afirma que o britânico a teria pressionado a ter relações sexuais quando os dois trabalharam juntos, em 2009. Naquela época, Khan já era advogado de defesa no TPI e em outros tribunais em Haia.
Khan, que nega categoricamente as acusações, foi afastado do TPI em maio deste ano em meio a uma investigação das Nações Unidas por má conduta sexual feita por uma mulher que trabalhou com ele na corte internacional.
A nova denúncia foi apresentada ao órgão de fiscalização da ONU que conduz as investigações, segundo o jornal, mas não está diretamente conectada com a primeira denúncia, que teria ocorrido anos depois.
De acordo com o The Guardian, os investigadores já realizaram entrevistas para investigar as afirmações da mulher. Na época, a suposta vítima tinha 20 anos e fazia um estágio não remunerado com Khan. Ela diz que o advogado abusou de seu poder sobre ela.
Segundo o jornal, a mulher decidiu se manifestar depois de ler sobre as acusações mais recentes feitas contra Khan pela funcionária do TPI. Apesar de terem ocorrido em épocas diferentes, os relatos têm semelhanças, afirma a publicação.
Ambas narram que Khan lhes pedia que fossem trabalhar em sua casa. Ao chegar, afirma o jornal, tocava-as, beijava-as e tentava convencê-las a ter relações sexuais com ele.
A mulher disse que, apesar do assédio, decidiu terminar o estágio com Khan por estar no começo de sua carreira e ter medo de sofrer retaliações. Após o fim da experiência de trabalho, segundo o Guardian, ela recebeu de Khan uma carta de recomendação elogiosa. A suposta vítima disse que pareceu “um pacto com o diabo”.
Os advogados de Khan não comentaram detalhes das denúncias, mas afirmaram que “é totalmente falso que ele tenha se envolvido em qualquer tipo de má conduta sexual.”
A defesa dele afirma que Khan “nega categoricamente ter assediado ou maltratado qualquer pessoa, ou ter abusado de sua posição ou autoridade, ou ter se envolvido em qualquer conduta que possa ser interpretada como coercitiva, exploradora ou profissionalmente inadequada”.
Khan foi eleito procurador-chefe do TPI em 2021 o mandato dura nove anos. Desde que chegou ao cargo, emitiu mandados de prisão contra autoridades israelenses, incluindo o premiê Binyamin Netanyahu, que fez com que o tribunal fosse alvo de sanções dos Estados Unidos.
As acusações feitas pela funcionária do TPI vieram a público em um momento em que Khan sofria pressão de ambos os lados da guerra na Faixa de Gaza.
Enquanto ativistas da causa palestina o acusavam de não agir diante do que consideram um genocídio no território, aliados de Israel tentavam evitar mandados de prisão contra autoridades do Estado judeu o que acabou se concretizando meses depois.
A mulher, uma advogada na casa dos 30 anos natural da Malásia e que trabalhava diretamente para Khan, afirma que as investidas ocorreram em 2023 e 2024. Ela diz ter sido abusada sexualmente por ele em diversos lugares, incluindo uma residência em Haia, onde fica a sede do tribunal, e durante missões em Nova York e em Paris, além de outros locais.
Khan e seus advogados afirmaram que as acusações tinham como objetivo desacreditá-lo e pressioná-lo em resposta a ações que ele tomou contra autoridades israelenses.
O Guardian afirma que houve, sim, tentativas de agentes pró-Israel de vazar informações sobre a denúncia da funcionária do TPI, mas não encontrou evidências de que qualquer uma das duas mulheres tenha feito as acusações como parte de um complô contra o procurador.
Quando a investigação do órgão de fiscalização da ONU terminar, as conclusões serão revisadas por um painel de especialistas judiciais, que aconselhará o órgão dirigente do TPI se alguma medida deve ser tomada contra Khan.