Provável queda de primeiro-ministro aprofunda crise política na França

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PARIS, FRANÇA (FOLHARPESS) – A crise política na França deve se aprofundar um pouco mais nesta segunda-feira (8) com a queda do primeiro-ministro François Bayrou, dada como certa pelos analistas. Formado em dezembro passado, seu gabinete não deve sobreviver a uma moção de confiança na Assembleia Nacional.

Com a provável queda de Bayrou, o presidente Emmanuel Macron tem diante de si três alternativas básicas: indicar um novo primeiro-ministro para formar um governo com a Assembleia atual; dissolver a Assembleia e convocar eleições parlamentares; ou, opção que ele já descartou, renunciar –o que exigiria uma nova eleição presidencial.

Basta maioria simples dos deputados, qualquer que seja o número de presentes, para derrubar Bayrou. Curiosamente, foi ele mesmo que solicitou a votação, há duas semanas, sob a justificativa da necessidade de sair de um impasse sobre o orçamento de 2026. A frágil coalizão de centro-direita que o sustenta, porém, dispõe de apenas cerca de 210 dos 577 deputados.

A votação desta segunda ocorre em meio a um clima social tenso. Dois movimentos grevistas, convocados por diferentes sindicatos, ameaçam paralisar a França nos dias 10 e 18 de setembro. É um protesto contra as medidas de austeridade anunciadas pelo governo, que afirma haver necessidade de cortar EUR 44 bilhões (R$ 280 bilhões) em gastos. Para isso, Bayrou já propôs até eliminar dois dos 11 feriados nacionais franceses.

Acusado de não ter usado agosto, tradicional mês de férias dos franceses, para negociar com os partidos, Bayrou irritou-se com jornalistas em uma entrevista na televisão, semana passada. “O único que não estava de férias era eu”, disse.

O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, estaria em tratativas de bastidores com Macron para formar uma coalizão ampla. Porém, políticos da ultraesquerda e da direita já anunciaram que não apoiarão um governo comandado pela esquerda moderada.

A dissolução da Assembleia é a hipótese preferida pela Reunião Nacional (RN), principal partido de ultradireita, que, diante da desunião da esquerda e da impopularidade do centro macronista, é favorito nas pesquisas. Em caso de vitória da RN, o mais provável indicado a premiê é o carismático Jordan Bardella, que seria o mais jovem premiê da história francesa: completa 30 anos no próximo sábado (13).

Segundo uma pesquisa publicada pelo jornal Le Figaro, 64% dos franceses apoiam a renúncia de Macron e a antecipação do pleito presidencial marcado para 2027. Nesse caso, a favorita também seria da RN, Marine Le Pen, derrotada por Macron nas eleições presidenciais de 2017 e 2022. Le Pen tem motivos para desejar a antecipação: pode se tornar inelegível no ano que vem, quando será julgada em um processo por desvio de fundos do Parlamento Europeu.

A ultraesquerda também defende a renúncia de Macron. Jean-Luc Mélenchon, terceiro colocado na eleição presidencial de 2022, anunciou que seu partido vai protocolar no Parlamento um pedido de destituição do presidente –ato por ora meramente simbólico, sem chance de aprovação.

A crise política se arrasta desde junho do ano passado, quando o mau resultado do governo na eleição para o Parlamento Europeu levou Macron a dissolver a Assembleia Nacional, na esperança de obter uma maioria mais sólida nas eleições legislativas.

Foi um erro político, reconhecido a posteriori pelo próprio presidente. Da eleição saiu um Parlamento rachado em três blocos inconciliáveis: esquerda, centro-direita e ultradireita, nenhum deles capaz de montar uma maioria sólida.

Macron descartou nomear um premiê de esquerda, embora seja o bloco um pouco mais numeroso. Depois de dois meses de impasse, encarregou um veterano político de direita de montar um ministério. Michel Barnier durou apenas 99 dias no poder, derrubado por um voto de censura apoiado por esquerda e ultradireita.

O presidente recorreu, então, a outra velha raposa da política francesa, o centrista Bayrou, que esbarrou na mesma dificuldade do antecessor: aprovar o orçamento sem maioria parlamentar.

Os apelos de Bayrou à austeridade ficaram ainda mais enfraquecidos depois da revelação de uma reforma de EUR 40 mil (R$ 250 mil) em seu gabinete de prefeito da cidade sulista de Pau, cargo que ele continua a exercer –na França é permitido acumular mandatos, em alguns casos.

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