BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O PT deve aprovar uma manifestação política que cobra de ministros e partidos aliados mais empenho para divulgar e defender o governo Lula. A tese elaborada para o congresso da sigla vai guiar a atuação da legenda pelos próximos anos.
O documento deverá apontar também a existência de possíveis oportunidades no tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump apesar de reconhecer que se trata de uma situação preocupante.
As afirmações estão na proposta de “tese-guia”, como os petistas chamam o documento político, apresentada pela corrente CNB (Construindo um Novo Brasil). Correntes são os grupos que disputam poder dentro do partido.
A CNB é a corrente de Lula e ganhou a maioria dos votos na eleição realizada pelo partido. Por isso, sua tese deve prevalecer praticamente na íntegra.
O texto afirma que o governo Lula tem procurado melhorar sua comunicação institucional, mas aponta que o embate pelo debate público é mais amplo. Também seria necessário convencer a população da importância das ações de Lula, não só divulgar o que foi entregue por sua gestão.
A tese da CNB cobra do governo e de aliados uma comunicação “mais proativa e direta” com a sociedade, o que incluiria explorar “o carisma e a palavra” de Lula e suas viagens pelo país. “Supõe também aproveitar melhor o prestígio e a capacidade de interlocução social dos principais ministros e dirigentes do governo”, afirma o texto.
“O PT e os partidos aliados, junto com as organizações populares progressistas, têm igualmente um papel fundamental a cumprir nesse embate”, diz a tese.
A comunicação do governo Lula foi uma reclamação de petistas durante a primeira metade da gestão. Foi durante um evento do partido, em 2024, que o presidente indicou que demitiria o ministro da Secretaria de Comunicação Social Paulo Pimenta. O cargo agora é ocupado pelo publicitário Sidônio Palmeira.
A proposta de tese da CNB também afirma que o tarifaço anunciado por Trump pode abrir oportunidades para o Brasil apesar de reconhecer que a situação é preocupante.
“Devemos nos preocupar com as novas medidas tarifarias de Trump que prejudicam todo o comércio internacional e também nossas exportações para os EUA. Mas elas, por outro lado, podem abrir inesperadas oportunidades para o Brasil, já que não temos conflitos com outras nações e possuímos um ambiente seguro e confiável para investimentos”, afirma o documento.
Trump anunciou no início de julho que imporá uma sobretarifa de 50% para produtos brasileiros vendidos no mercado americano, e atrelou a medida ao que chamou de “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A medida deve valer a partir de 1º de agosto.
Antes da taxa de 50%, o americano já havia anunciado uma rodada de tarifas, em abril. Naquela etapa, a sobretaxa ao Brasil seria de 10%.
O documento da CNB foi elaborado antes do anúncio do tarifaço de 50%, mas o trecho sobre as possíveis oportunidades será mantido, segundo o dirigente petista Alberto Cantalice. Ele coordena as discussões sobre eventuais mudanças no texto.
Segundo ele, o caso mostra a necessidade de diversificar negócios internacionais. “É inegável que manter essa relação comercial com os Estados Unidos e até ampliar é fundamental. Claro que nós não temos a mesma dependência dos países mais próximos [dos EUA]”, disse Cantalice.
O texto da CNB afirma que a China “estabeleceu um novo padrão de relação entre Estado e mercado” e caminha para ser a principal potência industrial e tecnológica do mundo. O tarifaço de Trump seria uma reação “tardia e improvisada” à ascensão chinesa, segundo a proposta de tese.
O texto também fará críticas ao “golpismo de extrema direita” e defenderá a política econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo.
O PT aprovará sua tese-guia durante o encontro nacional do partido, nos dias 1º, 2 e 3 de agosto, em Brasília. A chapa da CNB obteve maioria absoluta dos votos no processo eleitoral da sigla, o que significa que tem poder para fazer valer suas teses.
Também será no encontro a posse do novo presidente do PT, Edinho Silva. Integrante da CNB e apoiado por Lula, Edinho terá mandato até 2029.