BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-prefeito de Araraquara e ex-ministro Edinho Silva, 60, foi eleito para presidir o PT até 2029. Ele obteve a maioria dos votos no primeiro turno da eleição interna realizada no domingo (6). O principal fiador de sua candidatura foi o presidente Lula.
Edinho derrotou o deputado federal Rui Falcão (SP) e os dirigentes partidários Romênio Pereira e Valter Pomar. Uma cerimônia de posse deverá ser organizada no início de agosto, quando o partido realiza seu encontro nacional, em Brasília.
O PT, por meio de sua assessoria, divulgou nota no fim da tarde desta segunda (7) anunciando a vitória de Edinho, ainda sem o resultado final da eleição interna. Depois, o atual presidente da sigla, Humberto Costa, disse que ainda faltam votos para ser apurados, mas que eles não são suficientes para mudar o resultado da eleição para o comando da legenda.
De acordo com o resultado divulgado por Costa, Edinho Silva teve 239.144 votos, o que representa 73,48%. O segundo colocado foi Rui Falcão, com 36.279 votos (11,15%), seguido de Romênio Pereira, com 36.009 votos (11,06%) e Valter Pomar, que recebeu 14.006 votos (4,30%).
Edinho estava ao lado de Humberto Costa na sede do PT em Brasília durante o anúncio do resultado. “Quero fazer um agradecimento público à confiança do presidente Lula. Vou trabalhar todos os dias para honrá-la”, declarou o presidente eleito do partido.
Ele disse que o processo eleitoral do partido teve um clima de unidade e fez cumprimentos a seus adversários -que não estavam no anúncio. “Serei o presidente de todas as correntes do PT”, declarou.
Ele foi questionado por jornalistas sobre o novo discurso do partido e do governo no debate tributário, de ricos contra pobres. Edinho disse que o governo apenas reagiu ao Congresso Nacional.
Edinho mencionou a provável campanha de reeleição de Lula no ano que vem. “A reeleição do presidente Lula significa construir um país sem privilégios”, declarou.
Ele também elogiou a ex-presidente do partido e atual ministra Gleisi Hoffmann, que deixou o cargo neste ano para assumir a Secretaria de Relações Institucionais do governo.
“Na minha avaliação, foi a maior dirigente da história do PT. Ela dirigiu o PT no pior momento da nossa história”, declarou. O momento ao qual ele se refere é o que compreende a operação Lava Jato, que acuou o partido nos anos 2010.
Havia cerca de 3 milhões de petistas aptos a votar, de acordo com o partido. Edinho foi declarado vencedor mesmo sem a votação de Minas Gerais, onde as eleições foram adiadas depois que a Justiça determinou a inclusão da deputada federal Dandara Tonantzin na disputa pela presidência estadual.
O resultado foi anunciado mesmo sem os votos de Minas Gerais. A legenda afirmou que não havia tempo hábil para colocar o nome da deputada nas cédulas e resolveu não realizar a votação naquele dia.
Nesta segunda (7), a decisão judicial foi derrubada e a eleição do PT mineiro deverá ser realizada no próximo domingo (13) -o Diretório Nacional do partido baterá o martelo sobre a data em reunião na terça (8).
O ex-prefeito de Araraquara será presidente do PT durante as eleições de 2026, quando Lula deverá tentar um novo mandato à frente do Palácio do Planalto. Se a tradição do partido for mantida, Edinho será o coordenador de campanha.
Ele deverá atuar para garantir uma aliança com as legendas que integram a base governista ou, ao menos, evitar que elas apoiem um adversário direto de Lula.
Antes do anúncio da vitória, Edinho disse à Folha de S.Paulo que será preciso avaliar a situação de cada estado para garantir não só a reeleição, mas também a governabilidade em um eventual quarto mandato. Ele também prometeu trabalhar para unir o partido e minimizar contradições entre as correntes internas.
“O partido tem que se unificar para a gente enfrentar as dificuldades que estão colocadas e obter sucesso naquilo que é o centro da nossa tática, que é a reeleição do presidente Lula. E eu vou trabalhar incansavelmente pela unidade do PT.”
Uma das missões do novo presidente do PT será a definição de um sucessor para Lula, para futuras eleições. Durante os debates petistas, Edinho pregou a preparação para disputas sem o presidente e lembrou que a eleição de 2026 será a última com o nome dele nas urnas.
“Quero reproduzir aqui uma frase do presidente Lula, que para mim ela é histórica e emblemática: ‘o sucessor do presidente Lula não será um nome. O sucessor do presidente Lula será o PT'”, declarou o agora dirigente eleito em sua campanha.
Outro desafio está na necessidade de rejuvenescimento do partido, no diálogo com evangélicos e na formulação de uma agenda de segurança pública.
“É impossível o PT não ter uma proposta de segurança pública que unifique nosso discurso nacionalmente. Nós precisamos urgentemente formular uma proposta de segurança pública. O partido tem que ser muito mais protagonista no debate da transição energética, da urgência climática”, disse.
“Nós temos que melhorar nosso funcionamento, nossa organização, para que a gente dialogue com a nova classe trabalhadora, para que a gente dialogue com as comunidades evangélicas. É nítida nossa dificuldade de diálogo com as comunidades evangélicas”, acrescentou.
A vitória de Edinho também deve dar mais tranquilidade para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Sob a presidência da hoje ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, o partido chegou a divulgar um documento em que criticava o que classificava como austericídio fiscal do governo.
A eleição de Edinho não encerra as negociações sobre a divisão de poder dentro do PT. As tendências do partido têm até 26 de julho para escolher os nomes que assumirão os demais cargos na direção da sigla.
O ex-prefeito tem perfil conciliador e é um dos líderes petistas mais moderados. Apesar disso, ele assumirá o comando no momento em que o partido guina seu discurso à esquerda depois de uma série de derrotas no Congresso, que escancaram as dificuldades de governabilidade.
Ele também terá de lidar com divisões internas até dentro do grupo político do qual faz parte, a corrente CNB (Construindo um Novo Brasil).
Edinho não conseguiu, por exemplo, impor um nome de sua confiança para a secretaria de Finanças do partido. O mais provável é que a atual ocupante do cargo, Gleide Andrade, da CNB, permaneça no posto ou indique quem a sucederá.
Lula manifestava desde o ano passado a aliados seu apoio a Edinho. Ele usou seu peso político para que figuras importantes do partido, como Gleisi, também endossassem o ex-prefeito de Araraquara.