Ritmo de vendas no varejo diminui. "Desaceleração forte, com viés de baixa", diz economista

Uma image de notas de 20 reais
Redução das margens deve se acentuar nos próximos meses
(Andre Lessa / Agência DC News)
  • Volume de vendas sobe 0,4% ante agosto de 2024, bem abaixo do mês anterior (1,2%). Ampliado também reduz ritmo e cai no acumulado do ano
  • Por enquanto, Ulisses Ruiz de Gamboa mantém projeção de 2,1% para o ano, a cifra já representa diminuição brusca ante 2024 (4,7%)
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Apesar do resultado ligeiramente positivo de julho para agosto (+0,2%), as vendas do comércio mantêm tendência de redução. Segundo o IBGE, a taxa de crescimento no varejo restrito em 12 meses – 2,2% – foi a menor desde janeiro de 2024. “A desaceleração continua em curso”, afirmou o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (IEGV-ACSP). Ele observou que a alta de agosto, sobre igual mês do ano anterior, foi de 0,4%, bem abaixo do registrado em julho, na mesma base de comparação (1,2%, taxa revisada pelo instituto). E o varejo ampliado – que inclui veículos&peças, material de construção e atacado de alimentação – caiu ante agosto de 2024 (-2,1%) e soma -0,4% no ano, mantendo-se no positivo em 12 meses (0,7%). “É um segmento mais dependente de juros, de crédito”, disse Ruiz de Gamboa.

Essa tendência fica mais clara, segundo o economista, na taxa acumulada em 12 meses, que em agosto soma 2,2%. Era de 2,5% no mês anterior – e de 2,7% em junho. “É uma desaceleração forte”, afirmou. As causas macroeconômicas são basicamente as mesmas: juros altos, famílias endividadas e certa diminuição do crédito. “A renda e o emprego continuam sustentando o consumo, mas na margem vai desacelerando.” Por enquanto, o IEGV-ACSP mantém projeção de 2,1% para o crescimento das vendas no varejo restrito deste ano. Mas a estimativa pode ser revisada. “O viés é de baixa.” Mesmo se confirmada, essa taxa já representaria uma freada brusca. No ano passado, o volume de vendas cresceu 4,7%, maior alta desde 2012 (8,4%) na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC).

O resultado positivo de agosto foi o primeiro em cinco meses. O gerente da PMC, Cristiano Santos, diz que os dados ainda refletem uma base alta, pois março representou o pico da série. “São cinco meses consecutivos com variações muito baixas, muito próximas de zero, tanto pra cima quanto pra baixo”, afirmou. Cinco dos oito setores tiveram alta no mês, com destaque para equipamentos e material para escritório e informática (4,9%). Já as vendas de tecidos&vestuário cresceram 1%. “Os produtos de informática tiveram forte influência do dólar, em franca desvalorização em agosto”, disse o gerente. O varejo ampliado cresceu no mês (0,9%), mas bem menos do que em julho (1,8%).

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Na comparação com agosto do ano passado, dois setores se destacam na pesquisa: móveis&eletrodomésticos (+2,7%) e artigos médicos, farmacêuticos e de perfumaria (2,3%). Sobre o primeiro, Cristiano aponta “trajetória de recuperação robusta, após um ano de 2024 mais acanhado”. E o segundo vem liderando o crescimento há mais de dois anos, segundo o gerente. Já o setor que inclui hiper, supermercados e produtos alimentícios caiu 0,5%, mantendo variações próximas de zero há quatro meses. “No ano, o cenário é de ganhos, mas decrescentes”, afirmou o gerente: 2% até abril, 1,7% até maio, 1,4% até junho, 1,2% até julho e 1% até agosto. Isso se repete no acumulado em 12 meses, que em abril somava 3,4% e agora está em 1,5%, menor taxa nessa base de comparação desde fevereiro de 2023.

No ampliado, as três atividades registraram queda em relação a agosto de 2024. Principalmente, veículos&motos, com retração de 7,7%, a terceira seguida, assim como material de construção (-6,1%). Já o atacado de produtos alimentícios teve o 13º mês negativo, agora com queda de 1,9%. No ano, a variação é de -0,4%

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