SÉRIE Desafios 2026. Amato: "As associações comerciais são os últimos bastiões do pensamento liberal no Brasil"
"O empresário tem papel essencial na construção do Brasil, e ele precisa assumir esse protagonismo"
(Andre Lessa/Agência DC News)
Rogério Amato aplica pragmatismo empresarial para transformar causas sociais e instituições públicas, unindo gestão eficiente e impacto real
"A ACSP possui recursos financeiros e uma história rica: o desafio é canalizar tudo isso para um futuro de relevância e impacto"
Por Felipe Nogueira Porto SeibelCompartilhe:
[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS] Esta reportagem integra a série Desafios 2026, uma iniciativa da Agência DC News e da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Ao longo do especial, ouvimos Roberto Mateus Ordine, os oito conselheiros da entidade e o economista-chefe da instituição, em um percurso que combinou diagnóstico e proposta, análise e estratégia, memória e futuro. Nesta reta final, Rogério Amato, presidente do Conselho Superior da ACSP, retoma a convicção que moldou gerações de empresários e dirigentes: a defesa de um pensamento liberal que orienta a ACSP desde sua fundação, em 1894, há 131 anos. Para ele, a ideia de liberdade econômica é uma tríade: responsabilidade cívica, método e ética do trabalho. Em sua trajetória, que cruza indústria, filantropia e gestão pública, Amato traduz esse fio condutor em atos práticos: da gestão eficiente de empresas à criação de redes de cuidado. Do planejamento estratégico à intervenção social. Sem arroubos, ele resume o espírito que atravessa a casa e justifica sua permanência nela: “As associações comerciais são os últimos bastiões de um pensamento liberal no Brasil.”
Formado em engenharia, Rogério Amato construiu sua trajetória no cruzamento entre a indústria e a gestão, movido pela convicção de que eficiência e propósito devem caminhar juntos. À frente de companhias como Drury’s e Heublein, foi pioneiro em introduzir no país práticas modernas de marketing e planejamento produtivo, abrindo espaço para um modo de gestão que aproximava o Brasil das referências internacionais de competitividade. A experiência o moldou como um empresário de execução precisa e visão social alargada – traço que o levaria a transformar a APAE de São Paulo (hoje chamada de Instituto Jô Clemente) em referência nacional de inovação em políticas públicas. Fundado em 1961 o instituto foi responsável por trazer ao Brasil, em 1976, o Teste do Pezinho. Em 1983, com o apoio de Amato, a aplicação do exame tornou-se Lei em São Paulo, durante a gestão Franco Montoro. O episódio foi determinante para redefinir o papel da entidade no sistema de saúde, e em 1990, se tornar Lei nacional no bojo do Estatudo da Criança e do Adolescente. . “Aprendi que é preciso deixar o lugar melhor do que quando se entrou”, diz.
Esse compromisso antecede o próprio Rogério Amato. É herança direta de Mário Amato, seu pai, que presidiu a Associação Comercial de São Paulo nos anos 1980 e se tornou uma das vozes mais emblemáticas da defesa da livre iniciativa no país. Dele, Rogério herdou o rigor, o senso de responsabilidade e a crença de que o empresário tem papel essencial na construção do Brasil. Criado em Santana, na Zona Norte paulistana, formou-se no Colégio São Bento, onde aprendeu o lema ora et labora (reze e trabalhe) que guiaria sua vida pública e privada. Do avô português, veterano de guerra e comerciante de cortiça, veio o impulso empreendedor e a noção de que o trabalho é um ato moral. Dessa combinação nasceu uma ética que o acompanharia em todos os ambientes que frenquentou, e que continua a definir o espírito de quem, mais do que ocupar cargos, defende a construção de um legado. “A vida de todo mundo, sem exceção, é uma epopeia”, reflete. “Aqui, estou te contando a minha.” Confira a entrevista completa.
AGÊNCIA DC NEWS – Vamos do início: pode nos contar como foi sua infância, a origem da sua família, as primeiras memórias…? ROGÉRIO AMATO – Eu sou o resultado da mistura de uma família italiana do lado do meu pai e de uma portuguesa, da minha mãe. Morei até os 14 anos no Alto de Santana, na Rua Voluntários da Pátria. Tive o privilégio de estudar no Colégio São Bento, que fica aqui do lado (a entrevista aconteceu no seu escritório, que fica a alguns metros da escola). Estudei lá desde o ginásio até o terceiro científico – tenho uma dívida de gratidão eterna com essa escola. Ainda tive a chance de ter os padres alemães, que vieram do pós-guerra – os caras eram diferentes: beneditinos! Os beneditinos estão aqui em São Paulo desde o momento-zero – isso, a turma não sabe. Vieram aqui os jesuítas, os franciscanos… e os beneditinos. A ordem beneditina tem uma característica diferente das outras, um respeito profundo à hierarquia.
AGÊNCIA DC NEWS – Poderia detalhar os princípios e as características da ordem beneditina que tanto o influenciaram? ROGÉRIO AMATO – São Bento foi o cara que, lá atrás, há mil e tantos anos, disse: “vamos botar ordem nessa história aqui. Você quer ter uma ordem religiosa? Então, tem que ter um Vade-Mecum (vem comigo, em latim).” E ele fez uma coisa que hoje se faz em planejamento estratégico: em primeiro lugar, uma visão, um norte, um destino. O lema dos beneditinos é ora et labora– reze e trabalhe. Isso é de uma seriedade muito grande porque diz: “não adianta ficar só rezando.” Ora primeiro, porque se você está aqui é porque está acreditando nessa história. E labora, trabalha. Mas trabalha no quê? Foi preciso dar uma direção para o trabalho. E resolveram trabalhar a cabeça: as grandes bibliotecas do mundo, por exemplo, são de beneditinos porque eles botavam a mão na massa. No filme O Nome da Rosa, eram os beneditinos que estavam lá. Eram eles que escreviam, que guardavam os livros, organizavam tudo. Então, é uma cultura decorrente disso: tem lastro, tem escola. Hoje, nós vemos a necessidade absoluta desse embasamento. O pessoal fala em inteligência artificial…, mas lá atrás, nessas escolas, a matéria principal era a Filosofia. O resto vinha depois: Matemática, Física, Química etc. eram uma decorrência. Porque é necessário ter uma base: ora, pensa… mas faz, labora!
AGÊNCIA DC NEWS –Além dos padres, quais foram outras referências dessa primeira parte da sua vida? ROGÉRIO AMATO – Meu avô português, pai de minha mãe: ele lutou na Primeira Guerra e veio para cá depois. Ele foi daquela turma de Portugal que entrou na guerra em posição de alta vulnerabilidade, como bucha de canhão mesmo. Praticamente todo mundo que foi para lá, para o front, morreu. Eu brincava com ele que era aquela história, que o alemão dizia: “Antonio, levantar!” Brrr (imita sons de tiros). “Joaquim, levantar!” Brrrr. “Manuel, levantar!” Brrrr. Meu avô se chamava Rogério, então escapou porque estava no final da fila (na piada, uma fila em ordem alfabética). Eu me chamo Rogério por causa desse avô. Ele só teve duas filhas. Ele era o português mais português do mundo aqui no Brasil – e o brasileiro mais brasileiro, lá em Portugal. Ele sobreviveu à guerra e voltou para a aldeia dele, uma aldeia deste tamanho (faz sinal com o polegar e o indicador), muito pequena. E o pai dele disse assim: “que bom que você voltou porque eu fiz uma promessa: se voltasse vivo, você ia ser padre.” Imagina só um cara que passa pela guerra – aquela guerra que você espetava o cara, era olho no olho – não é dessas que aperta botão. Foi ferido em batalha etc., então ele falou: “o quê? Virar padre?” E veio para o Brasil. Ele era uma pessoa curiosíssima. Trouxe na bagagem cortiça – rolhas de cortiça para vender aqui. E ele tinha um amigo que tinha vindo antes para cá, que era o Amorim. E eles fundaram uma empresa chamada Amorim Coelho. Quando ele veio para cá, encontrou o Amorim… e o Amorim morreu três meses depois. E ele manteve o nome do cara no nome da empresa a vida inteira.
Quando entrar em qualquer lugar, precisa deixá-lo melhor ao sair
Rogério Amato
AGÊNCIA DC NEWS – Mas volta um pouco: como foi essa fuga? ROGÉRIO AMATO – Ele fugiu! Vendeu tudo o que tinha dele, a bicicleta(!), e entrou no primeiro navio. Naquele tempo, não tinha alfândega, não tinha nada disso. Você pegava o navio como quem pega um táxi.
AGÊNCIA DC NEWS – Ele rompeu com o pai? ROGÉRIO AMATO – Rompeu e fez a vida aqui. Depois, quando o pai morreu, voltou lá e comprou a quinta dos irmãos. Nós brincávamos que era a quinta dos infernos (risos). Ele era um cara muito especial.
AGÊNCIA DC NEWS – E por que decidiu trazer cortiças? ROGÉRIO AMATO – (Faz uma pausa, vira a cabeça para cima, fecha os olhos). A cortiça tem uma característica que é a seguinte: a cortiça é uma árvore que tem no sul de Portugal e na Espanha: é uma coisa de louco. Ela dá uma casca que é isso aqui, ó! (abre os dedos indicador e polegar para mostrar a grossura da casca da árvore). A cortiça demora nove anos para dar a primeira casca, que não serve para nada. Depois, mais nove anos para então começar a ficar produtiva. Depois de 18 anos! Ou seja, ninguém vai plantar, ninguém vai reflorestar, né? Para daqui de-zoi-to (fala pausadamente) anos você pegar alguma coisa?!… O que tem lá, tem porque existe há milhares de anos. Os romanos já usavam cortiça para tapar ânforas (vasilha antiga) etc. Por causa disso, a produção da cortiça é muito estável. Hoje, em Portugal, os Sobreiros (a árvore da cortiça) são monitorados por GPS – são mapeados, são uma riqueza.
AGÊNCIA DC NEWS – Além da estabilidade da produção, qual a característica da cortiça que a tornava tão atraente para o negócio de seu avô? ROGÉRIO AMATO – É uma matéria-prima muito versátil, dá para fazer muita coisa. Aí, acontece um fenômeno interessante: como a produção é constante, você começa a produzir um determinado item. Daí, de repente, começa a vender mais um pouco desse produto, o preço começa a subir demais e, então, aparece um sucedâneo. Lá atrás, vermute era tampado com rolha de cortiça, detergente em casa era, rolha de cortiça…
AGÊNCIA DC NEWS – Daí vem o termo “do tempo do guaraná com rolha”? ROGÉRIO AMATO – Guaraná com disco de cortiça (risos)! Tem sapato de cortiça, material de escritório, móveis… cada vez, você começa a ter um uso diferente. Com a demanda aumentando, aparece o plástico para tapar não sei o quê, a garrafa de vinho com tampinha de rosca de metal… A cortiça era um negócio incrível porque você estava trabalhando numa coisa e, de repente, se dá conta: “ih, isso aqui não dá mais” e mudava. Então, partia para outra. E para outra. Para outra… Para mim, sempre foi uma coisa muito natural: a cada dois, três anos, você muda tudo. Mexeu muito com a nossa cabeça, da família toda, esse aspecto.
AGÊNCIA DC NEWS – A Amorim Coelho como ficou? ROGÉRIO AMATO – Aconteceu o seguinte: até o governo [Fernando] Collor, nós trazíamos a cortiça bruta aqui e fabricávamos tudo. Era o único país do mundo, fora de Portugal, que fazia isso, já que o Brasil era todo fechado. Aliás, é o que o [Donald] Trump está fazendo lá nos Estados Unidos agora. Só que aqui, o Collor abriu o mercado e nós acabamos fechando [a empresa].
AGÊNCIA DC NEWS – Retornando um pouco no tempo, como se deu sua inserção no mercado de trabalho? ROGÉRIO AMATO – Por causa da Amorim Coelho, existe uma empresa ainda importante aqui no Brasil que se chama Crown Core, de embalagens. Eles fazem as tampinhas metálicas das cervejas e refrigerantes, da Coca-Cola etc. E a Coca-Cola é um negócio tão grande, mas tão grande, que pouca gente sabe que ela tem padrões extremamente rígidos. E esses padrões, cada vez que a empresa vai para um país, leva os fornecedores junto. E a Crown era uma empresa que fornecia a tampinha para eles. Nós, na Amorim Coelho, fazíamos o disco de cortiça que ficava dentro da tampinha. Por isso, começamos a entender um pouco de engarrafamento, de linha de engarrafamento etc. Deriva daí um novo negócio, que meu pai liderou. Na região Sul e em São Roque (SP) já se produziam vinhos, só que as garrafas eram muito ruins naquela época, não tinham padrões. Por isso, foi montada uma pequena empresa para regular máquinas no Brasil, para poder arrolhar melhor, para poder tapar melhor… enfim, para fazer isso em uma linha de produção. Essa oficina se junta a outra e outra… Depois de um certo tempo, veio uma empresa alemã e juntou todas: formou-se uma empresa, uma baita empresa, que virou a Holstein Copper, que fazia linhas completas de engarrafamento, desde lavadoras, enchedoras etc. até rotulagem. Tudo, tudo, tudo! E nós ficamos com um pedaço pequeno por causa da rolha de cortiça. Nesse processo, meu pai encontra um camarada que teve muita influência – e eu tive muita sorte nesse aspecto, de ter essas pessoas que cruzaram nossos caminhos.
AGÊNCIA DC NEWS – Quem era esse camarada? ROGÉRIO AMATO – Era o Alberto Bildner. O Bildner era o presidente da Crown Cork aqui no Brasil. Imagina só: nós fornecíamos para a indústria de vinhos aqui. Era vinho que se bebia na época. Se bebia vermute, vinho… A nossa origem italiana e portuguesa era do vermute, vinho, licores etc. O Bildner chega para o meu pai – e para o meu tio – e diz assim: “o negócio agora é uísque. Temos que fazer uísque. No Brasil não tem ainda. Vai ter uma grande explosão.” Ele era um homem que tinha formação na Universidade de Yale (EUA). Ele foi quem convenceu meu pai e meu tio a fazer uísque no Brasil! Na época, anos 1950, meu pai e meu tio foram absolutamente contra. “O cara que produz vinho é outra categoria, uísque não tem nada a ver com vinho,” diziam. E é verdade, são categorias bem diferentes, formas diferentes de beber e tudo.
AGÊNCIA DC NEWS – Como convencer brasileiros a beber uísque? ROGÉRIO AMATO – Começamos a fabricar aqui. Até trazer o malte para uísque, trouxemos. O Bildner foi para a Escócia e comprou uma marca de uísque, que era o Drury’s. Na época, eu me lembro perfeitamente disso, dizíamos: “mas esse é um nome muito feio. Tem House of Peers,” tinha uma lista de dez nomes. O Bildner dizia: “o brasileiro tem que ouvir, ler e conseguir falar o nome e não ter vergonha de pedir. E Drury’s é Drury’s.” Tinha um jeitão americano, com o “Y” e apóstrofe etc., mas o consumidor lia. Não tinha vergonha. Depois, outros começaram a fazer uísque – vieram com House of Peers, House of sei lá o quê: o cara não pede, fica com vergonha.
AGÊNCIA DC NEWS – O marketing, então, já se fazia presente de forma pioneira? ROGÉRIO AMATO – Sim, o Bildner tinha essa visão de marketing. Foi a primeira vez que eu ouvi falar em marketing na vida. Eu lembro que meu pai era duro nessas coisas. O Bildner falando de marketing e ele “que marketing o que, o negócio é vender.” O Bildner era muito engraçado. Ele me chamava na frente do meu pai e dizia: “’Deus’ falou o quê?” para provocar o meu pai. Eu achava aquilo muito engraçado. O Bildner ensinava que era assim: o mundo tinha fases de bebida. Ele estava certo: o uísque virou um sucesso, aconteceu o uísque no Brasil!
AGÊNCIA DC NEWS – Poderia detalhar como se deu a entrada da empresa nesse novo mercado? ROGÉRIO AMATO – Bom, o Bildner saiu da Crown Cork e disse: “agora, nós vamos acelerar. Como é que nós vamos acelerar? Nós vamos ter que propagar isso!” E ele vai lá e patrocina o futebol na TV Tupi. Foi a primeira vez, a raiz do marketing esportivo, estava ali, no Drury’s. Nos filmes antigos de jogo de futebol, atrás do escanteio tinha uma placa enorme de Drury’s. Como eram poucas câmeras, o cara ficava ali paradão, fixo. E o speaker também era um camarada que falava: “vamos tomar um Drury’s agora?” Nessa época, o [Presidente da República] Jânio Quadros (em 1961) proibiu completamente a importação de bebidas alcoólicas. Diziam que ele era bêbado, que era não sei o quê, aí, ele proibiu. Quando isso aconteceu, Drury’s explodiu: foi um sucesso estrondoso! Foi uma coisa assim… incrível (lembra orgulhoso)!
AGÊNCIA DC NEWS – Afinal, você trabalhava com o Bildner e seu pai nessa época? ROGÉRIO AMATO – Até então, oficialmente, não. Mas por ter feito a faculdade de engenharia, acabava só fazendo o planejamento e o controle de produção, que é uma atividade industrial bem definida. Você faz toda a programação de compra, de estocagem etc. É uma atividade rotineira, mas necessária. Em 1973, o Bildner ficou… ele não aguentava a revolução (regime militar) ideologicamente. Ele tinha uma outra cabeça. Dizia que todo ditador é um fdp. Na época, eu até estranhava, porque todo mundo era a favor.
AGÊNCIA DC NEWS – A sociedade deles se desfez? ROGÉRIO AMATO – Sim, começou a ter um atrito com o meu pai. Aí, chegou um ponto que o Bildner disse: “eu não quero mais.” E meu tio, que era sócio também, disse: “eu também não quero mais, chega!” Daí, o Bildner lidera, por ter as relações internacionais que tinha, conhecia as empresas todas etc., em 1973 a venda da Drury’s para um grupo americano chamado Heublein. A Heublein era a detentora da Smirnoff, a vodka mais vendida no mundo desde aquela época. Hoje, todo mundo fala em vodka, mas na época era uma bebida incomum.
AGÊNCIA DC NEWS – Sua situação mudou muito? ROGÉRIO AMATO – Eu fazia planejamento e controle de produção, mas não era funcionário da Drury’s, fazia de bico, para ajudar. Quando chegaram os americanos, a primeira coisa que eles fizeram foi entender quem fazia o quê. Me perguntaram: “você faz planejamento?” e eu respondi: “faço.” Eles: “mas onde é que você está aqui (no organograma)?” E eu: “não estou.” Foi a minha sorte na vida. Fiquei na Heublein por 14 anos. Saí como vice-presidente industrial. Nós compramos a Dreher [conhaque] – e tomei conta da Dreher também e de outras coisas na América Latina… Fiz uma carreira lá. A fábrica em Sorocaba eu que fiz – digo: foi na minha gestão.
AGÊNCIA DC NEWS – Paralelamente, como foi a sua aproximação da ACSP e como se deu seu ingresso na instituição? ROGÉRIO AMATO – Minha entrada efetiva na associação se deu por meio do convite de Guilherme Afif Domingos. Há muito tempo, fui convidado a me envolver mais, mas, na época, meus compromissos com a Heublein, que me exigiam a montagem de filiais pelo Brasil afora, impediram que eu assumisse muitas responsabilidades. Foi apenas mais tarde, quando Guilherme retornou à presidência da ACSP pela segunda vez, que decidi vir de vez e assumir um engajamento mais profundo, trabalhando lado a lado com ele.
AGÊNCIA DC NEWS – Você assumiu a presidência da ACSP em um período de transição, com desafios significativos, como a desmutualização do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) e o encerramento do Diário do Comércio. Poderia detalhar o impacto dessas transformações na associação e as complexidades de gerir tais processos? ROGÉRIO AMATO – Ao assumir a presidência da ACSP, me deparei com um cenário de profunda reestruturação. A desmutualização do SCPC já estava em fase final, o que, embora estrategicamente importante para o futuro da instituição, significou uma redefinição substancial da nossa fonte de receita. A ACSP, por ser independente e viver do serviço que presta, precisou reajustar seu modelo financeiro. Nesse contexto, um dos maiores desafios foi a decisão de encerrar as operações do Diário do Comércio. Era um jornal com uma história centenária, um símbolo para muitos, e a decisão foi extremamente penosa e conturbada. No entanto, análises internas e externas demonstravam que sua estrutura era insustentável, com custos operacionais desproporcionais e um modelo de negócio em declínio. A rigidez necessária para tomar essa decisão visava, acima de tudo, garantir a saúde financeira e a perenidade da ACSP em um novo panorama. Além disso, estamos agora em um processo de institucionalização do compliance, que é bem complexo para uma entidade de 130 anos, mas absolutamente inevitável para a modernidade e transparência.
AGÊNCIA DC NEWS – Com a experiência e os desafios superados, como vislumbra o futuro da ACSP? Que papel a entidade deve desempenhar para se manter relevante no cenário atual e atrair novas gerações? ROGÉRIO AMATO – Minha crença é que as associações comerciais – e a ACSP em particular – são os últimos bastiões de um pensamento liberal no Brasil. Elas possuem a capilaridade, a história e a tradição para serem agentes transformadores. Para o futuro, vejo a ACSP assumindo um papel de liderança em grandes causas, transcendendo o dia a dia municipalista. Isso exige a constituição de um plano estratégico e uma nova geração de líderes com uma visão alinhada a esse propósito. Precisamos garantir um aggiornamento (do italiano, modernização), uma sucessão geracional que vá do porteiro ao presidente. A ACSP possui recursos financeiros e uma história rica: o desafio é canalizar tudo isso para um futuro de relevância e impacto, sendo a voz de um empresariado que pensa o Brasil de forma mais abrangente e estratégica.
AGÊNCIA DC NEWS – Paralelo a tudo isso, como seguia sua vida pessoal durante esse período de ascensão profissional? ROGÉRIO AMATO – Bom, me casei em 1973. Em seguida, tivemos dois filhos: a Tatiana e o Mário. Tatiana, essa aqui (aponta para um porta-retrato) – hoje, ela tem filho prestando vestibular. Esse outro aqui é o Mário – ele lida com fusões, incorporações etc., então a maioria das coisas ele pode fazer à distância. Eu sou mais chão de fábrica, olho no olho. Bom, mas nessa época eu estava ganhando o que ninguém ganhava. A empresa me dava carro do ano, trocava de carro a cada dois anos; tinha secretária… construímos fábrica, compramos a Dreher, viagem para cá, viagem para lá… E comecei a me achar demasiadamente confiante. A minha mulher deu um basta e disse: “não aguento mais.” Foi uma reviravolta em casa. Depois, passada a crise, encomendamos nosso terceiro filho – e veio a Mariana, com síndrome de Down. Olha o que a vida faz…
AGÊNCIA DC NEWS – Como a chegada dela mudou a sua vida? ROGÉRIO AMATO – Na época, demorei uns dois, três anos até entender direito tudo. Mas a vida é maluca mesmo… Em Santana, o meu vizinho de muro, era o Dr.Clemente [médico Antonio Clemente Filho, fundador da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, a APAE, junto com a esposa, Jô Clemente. O nome da entidade, atualmente, é Instituto Jô Clemente]. O Dr.Clemente tinha um filho, que era o Zequinha, com síndrome de Down. Fui lá, bati na porta dele. Ele olha assim (franze a testa e arregala os olhos) e diz: “está tudo bem. Nasceu, nasceu! Não tem como mudar. Síndrome de Down está aí. O que você pode fazer? Isso pode ser uma causa para você!” E completou: “você sabe que eu estou muito contente de você estar aqui hoje? Porque acabei de arranjar um sucessor!” Eu fiquei louco, pensei: “caramba, eu vim aqui para pedir colo…” Mas foi a minha cura. Fui para a APAE. Já tinha toda essa bagagem de gestão na época e a APAE era um lugar interessante, tudo bem-feitinho, mas, em termos organizacionais, ainda era ruim. Pude contribuir. Comecei devagarinho, até que virei presidente.
AGÊNCIA DC NEWS – Como foi sua vida na presidência da APAE? ROGÉRIO AMATO – Como presidente da APAE, que foi na época do [governo do presidente Fernando] Collor também, aconteceu um fato inusitado… Toda a arrecadação da instituição, até então, vinha da Feira da Bondade. Era o seguinte: os consulados tinham direito a trazer produtos da sua origem com isenção de imposto. Então, a Dona Jô, esposa do Dr.Clemente, conseguiu que esses consulados colocassem os produtos à venda com lucro revertido para a associação. Assim, criaram o evento. Em três dias, você tinha que arrecadar o orçamento de um ano inteiro. Aí, quando eu assumo, vem o Collor e corta essa coisa toda: abre o mercado, acabam com as proibições (barreiras de importação), o que foi uma coisa importante na época. Eu assumo lá e digo: “isso aqui agora não tem mais fonte de receita.”
AGÊNCIA DC NEWS – Como se adaptaram para superar essa dificuldade? ROGÉRIO AMATO – Bom, olhei para os lados, tinha que encontrar uma saída… A APAE fazia um negócio criado pelo Prof.Dr.Benjamin Schmidt [foi professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp] – era um laboratório para pesquisa da fenilcetonúria. Esse professor encasquetou com aquilo: era para a detecção de erros inatos de metabolismo (um método criado nos Estados Unidos nos anos 1960). Quando o bebê nasce, você tira uma gota do pezinho, certo? Foi isso que ele trouxe para cá: conhecido como o Teste do Pezinho. Na época, detectava apenas poucos desvios e, assim, muitas pessoas poderiam ser curadas em tempo. Bom, quando olhei aquilo e vi que só tinham duas máquinas para fazer o teste – não faziam nem mil exames por mês, disse: “isso aqui pode ser a fonte, uma significativa fonte de renda para a APAE.” Na época, o governador de São Paulo era o Franco Montoro. Nós fomos até ele e dissemos: “olha isso aqui. É um teste que hoje é para uma minoria.” Ele respondeu: “espera um pouquinho: essa pessoa pode vir a ter uma vida normal desde que algumas doenças sejam detectadas precocemente?” Aí, fizeram os cálculos para ver quanto o Estado ia gastar ao longo da vida da pessoa se não fosse tratada em tempo. Isso, sem considerar o lado humano da história, que não tem preço. O Montoro bateu o martelo: “vamos fazer uma lei. Obrigatoriedade. Teste do Pezinho para todo mundo!” [o teste identifica doenças em recém-nascidos para garantir um tratamento precoce e eficaz – atualmente, mais de 50 doenças são detectadas com o teste].
AGÊNCIA DC NEWS – Feita a lei, como resolveram a fonte de renda? ROGÉRIO AMATO – A jornalista Helena de Grammond, ficou sabendo da nova lei, me ligou no meio da semana e disse: “Rogério, no próximo domingo vai ao ar no Fantástico uma reportagem sobre o Teste do Pezinho.” Eu disse: “peraí.” Ela: “agora, já foi!” O programa criou uma tal dimensão que teve que ser repetido em outra edição do Fantástico. Na época, a APAE tinha três telefones – e apenas uma unidade, só aqui em São Paulo, onde era o laboratório. Saímos correndo, não tinha e nem existia celular, tínhamos que pegar linhas na companhia telefônica, voluntários… porque o pessoal começou a telefonar, médico, não sei de onde etc. Com a minha experiência de fábrica, nós montamos uma linha de produção para fazer esses equipamentos. É o ímpeto da ignorância também, porque você faz coisas pela necessidade (risos). A partir dali, montamos essa fábrica de equipamentos, conseguimos que o Estado financiasse.
AGÊNCIA DC NEWS – E quais foram os desafios que surgiram com a ampliação da detecção? ROGÉRIO AMATO – Se antes se faziam 500 exames mensalmente, passou para quase 50 mil exames por mês. E a detecção começou a ficar grande. Então, surgiu um outro desafio: a partir de quando você detecta a síndrome, por exemplo, a pessoa vem te procurar. Ela fala assim: “o que é que eu faço?” Tivemos que mudar a cabeça lá na APAE – tínhamos que dar uma resposta efetiva. Essa, para mim, é uma outra coisa que ficou muito clara: era preciso dar uma resposta concreta, eficaz. Não adianta você chegar para o cara e dar um tapinha nas costas…
AGÊNCIA DC NEWS – Quais ações concretas foram implementadas para oferecer essa resposta efetiva? ROGÉRIO AMATO – Criamos um programa, que ganhou até prêmio na ONU, que se chama “Momento da notícia.” Fizemos uma pesquisa que mostrou que os pais, como foi o meu caso, chegam lá e o médico diz: “tem síndrome de Down, até logo.” A pessoa fica sem referência: “e agora?” Nós pegamos pais, vários pais, que já tinham passado pela epopeia toda, filhos já grandes; pegamos o auxílio de terapeutas; preparamos esses pais, nós inclusive – a Glória e eu, – para dar atendimento em hospitais quando nascia uma criança com Down. Os hospitais também tiveram que ser preparados, o pessoal neonatal etc. Na hora em que nasce a criança, os pais recebem um bilhetinho dizendo: “olha, sabemos exatamente o que você está passando. Já passamos por isso, estamos aqui à sua disposição.”
O voto distrital misto reconecta o cidadão ao processo político e pavimenta o caminho para um Brasil mais funcional e justo (Andre Lessa/Agência DC News)
AGÊNCIA DC NEWS – Falando em dedicação a causas públicas, você também tem uma ligação profunda com a Beneficência Portuguesa (BP), onde seu avô foi um dos primeiros diretores… ROGÉRIO AMATO – A conexão com a Beneficência Portuguesa é, de fato, uma herança de meu avô português, Rogério Pinto Coelho, que foi um de seus primeiros diretores e, inclusive, tesoureiro. Desde pequeno, frequento a BP, e hoje faço parte de seu Conselho, sendo inclusive vice-presidente lá, como uma extensão desse legado. Minha vivência ali, especialmente ao lado de figuras como Dr.Antônio Ermírio de Moraes, me proporcionou insights valiosos. Ele era uma força singular: trabalhar com ele significava receber missões diretas, dada sua inteligência e capacidade incontestáveis. No entanto, sua partida nos ensinou uma lição crucial: o risco de uma instituição é envelhecer com seu líder. Hoje, a BP opera sob um modelo de gestão profissionalizado, com um conselho que define as diretrizes e uma diretoria que a faz voar. Com mais de dez mil colaboradores, entre funcionários e médicos, e operando 24 horas por dia, 365 dias por ano, no topo da tecnologia, a BP é um exemplo de que a eficiência e a eficácia são imperativos absolutos. É preciso ter método e pessoas que acreditem e vivenciem essa busca constante por excelência.
AGÊNCIA DC NEWS – Esses caminhos pavimentaram sua chegada ao governo (ele foi secretário de Assistência Social do Estado de São Paulo), não? Como foi a experiência? ROGÉRIO AMATO – Sim, e foi uma experiência maravilhosa. Maravilhosa. Primeira conclusão: as pessoas falam mal de governo porque não conhecem governo. E o Governo de São Paulo tem gente de primeira qualidade, séria, dedicada. A turma fala de São Paulo… mas, você abre a torneira, sai água. Você liga o interruptor, tem luz. Você vai na estrada, funciona. São Paulo é uma ilha no Brasil. São Paulo é ‘O Estado’! Você pega a produção de São Paulo de qualquer coisa: primeiro, segundo lugares, sempre. Então, São Paulo é diferente. Eu entrei lá com certa arrogância, ‘vou dar um jeito nisso aqui, deixa comigo,’ e uma das coisas que aprendi de cara foi: tinha hierarquia. No início, chegava dizendo: “vamos demolir isso aqui.” A turma respondia: “pois não, Rogério… você faz uma lei, manda para a Assembleia e vamos tentar.” Aí eu aprendi: na iniciativa privada, você vai até onde a lei permite – no governo, você só faz o que a lei permite: para tudo tem uma lei. É outra lógica, outro pensamento. Convivi com gente da melhor qualidade, pessoas exuberantes.
AGÊNCIA DC NEWS – Poderia compartilhar uma experiência marcante de sua atuação na gestão pública? ROGÉRIO AMATO – São tantas… Um dia, o Serra [José Serra, governador na época], domingo, me liga – não perguntou como é que eu estava, se estava tudo bem, nada. Ele disse: “Rogério, por favor esteja aqui hoje às seis horas da tarde.” Eu estava em São Roque com a minha família. “Tá bom, governador, tudo bem!” Chego lá – e quando chego no Palácio dos Bandeirantes, está lá todo o secretariado. Ele fez isso com todos. Ele chegou só às sete e meia. E nós lá, sem café e nem água… Aí, sentamos lá naquela mesona, e ele diz: “olha, estou chamando vocês aqui porque amanhã nós vamos fazer uma intervenção na favela que tem aqui do lado do palácio, Paraisópolis. Vem o pessoal do Exército…” Aí, foi extraordinário. Fizeram todo um levantamento detalhado da favela: onde mora fulano, o bandido, a mulher do bandido, a amante etc., os caminhos. Foram meses de trabalho, mapearam tudo: a geografia completa. “A partir de hoje, as Forças todas vão ficar nos quartéis e vão sair amanhã com as missões. Primeiro, uma cerca fora. Depois, faz isso etc. E, a partir daí, nós temos que entrar com os planos. Não é só tirar o bandido.”
AGÊNCIA DC NEWS – E você nessa história? ROGÉRIO AMATO – Ele disse: “então, Rogério, você vai coordenar isso!” Fiquei sem chão. Chamei o pessoal da Secretaria, aí que eu vi – para minha surpresa – que três, quatro pessoas já estavam lá. Uma delas, era a Izildinha.
AGÊNCIA DC NEWS – O conhecimento desses profissionais sobre a máquina pública faz toda a diferença… ROGÉRIO AMATO – É de altíssimo nível, são super capacitados. A Izildinha, por exemplo, é dura, firme. Ela chegou e disse: “olha aqui, se você fizer um levantamento de tudo que tem pronto para Paraisópolis, você vai ficar bobo de ver.” Para encurtar a história: aprendi que em cada uma das secretarias, você tem uma ou duas pessoas para tocar aquilo e vão tocar para o resto da vida. E era isso que eu fazia muito em planejamento estratégico. Eu entrava numa empresa, a primeira coisa que fazia era identificar quem conhece aquilo, quem sabe tudo, quem sabe como resolver os problemas. E essa turma, no governo, se comunica com todas as secretarias.
AGÊNCIA DC NEWS – E como desenrolou Paraisópolis? ROGÉRIO AMATO – Fomos falar secretário por secretário. Dizíamos: “olha, nós temos que fazer isso, isso e aquilo. Você estava lá (na reunião), você viu! Quem é da sua Secretaria que está à disposição?” Aí, juntava o fulano, beltrano… todas essas pessoas, a lista de atividades, classificadas em: precisa de dinheiro imediato e não precisa de dinheiro. Foi uma maravilha. Foi uma das grandes experiências da minha vida ver como funcionava essa engrenagem.
AGÊNCIA DC NEWS – Com toda essa bagagem, de iniciativa privada e gestão pública, passando por entidade sem fim lucrativo, você tem dito que o Brasil – apesar do potencial – se encontra em um estado “disfuncional.” O que quer dizer com isso? ROGÉRIO AMATO – Essa condição se manifesta em todas as esferas – da Justiça à Educação – onde cada ministério e poder operam como mundos à parte, sem uma visão coesa. A raiz disso está, em grande medida, na desconexão entre o eleitor e seus representantes, onde o voto se tornou distante e a cobrança, ineficaz. A gente aqui, por causa da ACSP, conhece o Estado de São Paulo inteiro. O que tem a ver a região de Ribeirão Preto com Santos? E o que tem a ver com Pontal do Paranapanema? A fala é diferente, os hábitos são diferentes, a comida é diferente: a cultura é diferente! É por isso que defendo veementemente o voto distrital misto. Esse modelo permite que o eleitor vote em candidatos de sua própria região, que conhecem suas realidades e são diretamente cobráveis, ao mesmo tempo em que mantém a possibilidade de voto em nomes mais abrangentes, com causas específicas. Isso não só barateia e moraliza as campanhas, como, mais importante, reconecta o cidadão ao processo político, pavimentando o caminho para um Brasil mais funcional e justo, onde a representatividade reflete a identidade de cada território.
AGÊNCIA DC NEWS – Para finalizar, com toda essa bagagem, se pudesse voltar no tempo, que conselho daria ao Rogério Amato jovem sobre a vida? ROGÉRIO AMATO – Eu não sei te falar isso… Se eu soubesse… Tudo valeu a pena. Tenho medo de impor normas. O que eu posso te dizer é a coisa que eu comecei falando: deixar o lugar que você está melhor do que quando você entrou. Outra coisa que eu esqueci de te falar: entender que a vida de todo mundo, sem exceção, é uma epopeia. Qualquer pessoa, qualquer um. Estou te contando aqui a minha vida, mas se eu for pegar a tua, vai ter uma epopeia. Cada um tem o seu brilho próprio, tem a sua vida, suas circunstâncias. A pessoa e suas circunstâncias.
Encerrar a série Desafios 2026 pelo olhar de Rogério Amato é, de certa forma, devolver a palavra à própria Associação Comercial de São Paulo, instituição que ele e sua família ajudaram a moldar e que também o moldou. Herdeiro de uma tradição que combina disciplina, fé e trabalho, Amato representa a continuidade de um ideal que atravessou gerações: o de um empresariado que não se contenta em prosperar sozinho e entende o êxito como dever público. E não há paradoxo aqui. Há uma coerência rara de quem acredita que eficiência e ética são lados de uma mesma moeda. Ao fim desta jornada, fica o registro de que a ACSP, aos 131 anos, segue espelhada em figuras como ele: pragmáticas, inconformadas e guiadas pela convicção de que o Brasil ainda pode ser funcional.