SÃO PAULO, SP E PELOTAS, RS (FOLHAPRESS) – O governo dos Estados Unidos começou o shutdown (apagão econômico) após a 0h desta quarta-feira (1º), depois que legisladores e o presidente Donald Trump não superaram um impasse orçamentário em tensas negociações no Congresso em torno do financiamento para as agências federais.
Novas votações foram realizadas ao longo do dia, algumas horas após o início do shutdown, mas não houve acordo novamente -o que significa que o apagão continuará e dá indícios de uma dura disputa entre republicanos e democratas.
O Senado rejeitou a contraproposta dos democratas de financiar o governo. Em seguida, a maioria dos democratas da Casa votou novamente para barrar o projeto republicano de gasto provisório, que manteria o financiamento nos níveis atuais.
No primeiro dia de shutdown, parques, museus e bibliotecas foram fechados em todo o país. Milhares de funcionários de inúmeros departamentos foram afastados. Enquanto isso, o governo Trump reforçou a tática de responsabilizar os democratas pela paralisação.
O Escritório de Orçamento do Congresso estima que cerca de 750 mil funcionários serão colocados em licença não remunerada a um custo diário de US$ 400 milhões em compensação perdida.
Este é o primeiro shutdown desde o mais longo da história -que durou 35 dias- há quase sete anos, durante o primeiro mandato de Trump.
O impasse também pode levar à perda de milhares de empregos federais. A 15ª paralisação do governo desde 1981 pode adiar a divulgação do aguardado relatório mensal de empregos, desacelerar o tráfego aéreo, suspender pesquisas científicas, reter o pagamento das tropas americanas e levar à licença de 750 mil funcionários federais a um custo diário de US$ 400 milhões.
Em jogo no financiamento do governo estão US$ 1,7 trilhão para operações de agências, o que representa aproximadamente um quarto do orçamento total do governo de US$ 7 trilhões. Grande parte do restante vai para programas de saúde, aposentadoria e pagamentos de juros sobre a crescente dívida de US$ 37,5 trilhões.
Analistas independentes alertam que a paralisação pode durar mais do que os fechamentos relacionados ao orçamento do passado, com Trump e funcionários da Casa Branca ameaçando punir os democratas com cortes em programas governamentais e na folha de pagamento federal.
O diretor de orçamento de Trump, Russell Vought, ameaçou fazer demissões permanentes na semana passada no caso de uma paralisação.
“Tudo o que eles querem fazer é tentar nos intimidar. E eles não vão ter sucesso”, disse o líder democrata do Senado, Chuck Schumer, em um discurso no plenário um dia após uma reunião na Casa Branca com o presidente e líderes do Congresso que terminou com os dois partidos muito distantes.
Os republicanos têm maioria em ambas as câmaras do Congresso, mas as regras legislativas exigem que 60 dos 100 senadores concordem com a legislação de gastos. Isso significa que pelo menos sete democratas são necessários para aprovar um projeto de lei de financiamento.
Os democratas estão sob pressão em torno das eleições de meio de mandato de 2026, que determinarão o controle do Congresso para os dois últimos anos do mandato de Trump.
Junto com os subsídios de saúde estendidos, os democratas também buscaram garantir que Trump não seja capaz de desfazer mudanças caso elas sejam transformadas em lei. Trump se recusou a gastar bilhões de dólares aprovados pelo Congresso, levando alguns democratas a questionar por que deveriam votar em qualquer legislação de gastos.
O professor da Universidade de Chicago, Robert Pape, disse que o clima político polarizado dos EUA após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk e o crescente poder nas alas extremas de ambos os partidos pode dificultar que os líderes partidários concordem com um acordo para reabrir o governo.
“As regras da política estão mudando radicalmente e não podemos saber com certeza onde tudo isso vai terminar”, disse Robert Pape, professor de ciência política da Universidade de Chicago, que estuda violência política.
“Cada lado teria que recuar contra dezenas de milhões de apoiadores verdadeiramente agressivos, seus próprios eleitores, o que vai ser realmente difícil para eles fazerem”.