São Paulo, 30 de julho de 2025 – “Essa história está só começando. Ninguém tinha pretensão desair daqui com a questão tarifária resolvida”, disse o presidente da Comissão de RelaçõesExteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado e coordenador da missão, o senador Nelsinho Trad(PSD-MS), em entrevista coletiva aos jornalistas transmitida a pouco pela globonews, em WashingtonD.C., a capital dos Estados Unidos, ao fazer um balanço sobre a missão dos senadores brasileirosnos Estados Unidos por conta do tarifaço de 50% prometido por Donald Trump aos produtos brasileirosa partir da próxima sexta-feira (1/8).
Os senadores avaliaram que também haverá prejuízo para o mercado estadunidense, mas preveemavanços nos próximos dias. Eles também alertaram para uma sanção que deverá ser imposta nospróximos 90 dias ao Brasil por ter relações comerciais com a Rússia.
O senador frisou que a missão “não foi em vão” e que a comitiva teve “conversas importantes” comempresários e políticos estadunidenses. O senador também disse que as conversas se restringiramaos parlamentares e não ultrapassaram outros níveis diplomáticos. Ele evitou dizer se EduardoBolsonaro interferiu nas conversas. “A negociação é com a diplomacia brasileira.”
O senador Espiridião Amin (PP-SC) disse que “ninguém saiu do Brasil pensando que iria negociartaxa”. O senador disse que o objetivo da missão era cumprir tarefas como azeitar a relaçãodiplomática, falar sobre a questão comercial, que é um “perde, perde” para os dois países.”Ouvimos aulas do que pensam do Brasil. Alguns bem informados, outros desinformados.”
“O nosso clamor para que se prorrogue esse prazo ganhou apoio. Por que é um absurdo. Querer cumprira taxa em 20 dias é um absurdo. Isso é não querer negociar”, disse Amin.
Amin disse que é um projeto de lei para “amenizar” a questão das big techs conforme entendimentodo Supremo Tribunal Federal (STF). O Congresso brasileiro já está com a intenção de reduzir oimpacto da censura prévia prevista pela decisão do Supremo”, disse, referindo-se ao projeto de leide sua autoria sobre o tema.
Também foi mencionada a possibilidade de sanções ao Brasil por fazer negócios com a Rússia.”Há outra crise pior que pode nos atingir nos próximos 90 dias. Tanto Republicanos quantoDemocratas nos disseram que vão criar uma lei que criará sanções com quem negociar com aRússia. O Brasil terá tempo para se preparar para isso. A política externa brasileira está sendoavisada”, disse o senador Carlos Viana (Podemos-MG).
Viana acrescentou que os empresários com quem eles se reuniram, da Ascoa, pediram que o Brasil, adiplomacia do governo brasileiro, se posicione em relação aos pleitos que eles apresentaram.
O senador Marcos Pontes (PL-SP) disse que os empresários disseram que têm muitos contatos com oscongressistas estadunidenses e que vão fazer chegar sua preocupação em relação à tarifa de50%. Mas, devido ao pouco tempo até a data de implementação, ele acredita que dificilmente esteprazo será adiado. O senador também disse que “o Senado vai atuar para defender a liberdade deexpressão”, em relação à questão das big techs.
Em relação à proposta da Câmara Americana de Comércio de adiar a tarifa, a senadora TerezaCristina (PP-MS) disse que o envio da carta pelo governo brasileiro foi considerado importante paraendossar essa proposta. A senadora disse que reforçou aos empresários a importância do apoio doscongressistas estadunidenses a esse adiamento.
O senador Jaques Wagner (PT-BA) disse que “a diplomacia brasileira é historicamente multilateral,sem escolher lado a, b ou c, e sempre visando à paz”. Sobre a possível sanção ao Brasil pornegociar com a Rússia, o senador governista também não considerou “adequado falar de uma lei queainda não existe”.
Em relação à possibilidade de exclusão da Embraer do tarifaço, Tereza Cristina não respondeuessa questão, mas disse que houve sinergia com os parlamentares dos EUA em relação aos impactosdo tarifaço e que a comissão falou com lobistas, que forneceram “ótimas informações das quaiseles não tinham conhecimento”. Ela disse que foi feito um convite aos parlamentares dos EUA parairem ao Brasil. “Agora vamos voltar ao Brasil e fazer a lição de casa, vamos fazer um relatório evamos conversar com o Executivo, principalmente, sobre essa parte comercial.”
Jaques Wagner disse que não pediram prazo só para a Embraer, mas para todos os setores, e queacredita que a Weg tentará pressionar pela negociação por conta de sua presença nos EstadosUnidos.
Agenda nos EUA
Na terça-feira (29), a missão oficial do Senado se reuniu com parlamentares norte-americanos noCapitólio, na capital dos EUA. Os senadores brasileiros queriam estabelecer diálogos e demonstraras perdas bilaterais com a imposição do novo percentual tarifário.
Eles esperavam apoio dos parlamentares do Partido Democrata e também de integrantes do PartidoRepublicano, o mesmo do presidente norte-americano Donald Trump, para demonstrar a posiçãoinstitucional do Brasil e as perdas bilaterais que serão impostas às duas nações.
Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado e coordenador damissão, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) disse que essa missão é o primeiro passo de umareaproximação institucional entre os parlamentos do Brasil e dos Estados Unidos.
A gente sabe que não é aqui que vamos resolver o problema das tarifas, mas viemos mostrar que oSenado brasileiro está disposto a abrir o diálogo e construir pontes afirmou, em declaraçãoantes da reunião.
Ele disse que a comitiva pretendia demonstrar aos parlamentares estadunidenses que a sobretarifalevará a uma situação de perde-perde.
Um dos parlamentares visitados pela comitiva na manhã de ontem (29) foi o senador democrata MartinHeinrich, do Novo México, estado americano que importa pelo menos dez produtos do Brasil.Ossenadores brasileiros foram com a proposta de apresentar as implicações da medida tarifária nosestados representados pelos congressistas norte-americanos.
Nós também vamos entregar para eles um convite, por meio de uma carta, para que eles possam ir aoBrasil conhecer a realidade que nós estamos mostrando, disse um senador, antes da reunião.
Apoio
Na tarde de segunda-feira (27), os senadores estiveram reunidos com membros da Câmara Americana deComércio, para encontro com lideranças empresariais e representantes do Conselho EmpresarialBrasil-Estados Unidos.A missão brasileira articulou apoio a uma manifestação conjunta da CâmaraAmericana de Comércio para pedir ao governo dos EUA o adiamento da tarifa de 50%.
Não viemos com bandeira ideológica, viemos com dados e responsabilidade. O não nós já temos,viemos correr atrás do sim disse Nelsinho Trad, após encontro com executivos da Cargill,ExxonMobil, Johnson & Johnson e Caterpillar, entre outras empresas.
Completaram a missão oficial do Senado os senadores Carlos Viana (Podemos-MG), Jacques Wagner(PT-BA), Rogério Carvalho (PT-SE), Teresa Cristina (PP-MS), Esperidião Amin (PP-SC), AstronautaMarcos Pontes (PL-SP) e Fernando Farias (MDB-AL).
Perdas brasileiras
No dia 9 de julho, em carta enviada por meio de uma rede social, ao governo brasileiro, o presidentedos EUA Donald Trump anunciou que a imposição de tarifas sobre as exportações brasileiras, nopercentual de 50%, se dará a partir de 1º de agosto, alegando uma suposta perseguição judicial doSupremo Tribunal Federal (STF) ao ex-presidente Jair Bolsonaro, réu em processos judiciais portentativa de golpe de Estado.
Consultor legislativo do Senado do núcleo de Economia, área de Agricultura, Henrique Salles Pintoreforça que o tarifaço do Trump tem muito mais um cunho político e geopolítico do quepropriamente econômico-comercial.
O que me preocupa nesse contexto inteiro é que, progressivamente, o presidente Trump já sabendodas consequências socioeconômicas do tarifaço para a sua população, já está caminhando paraalguns processos de negociação para reduzir as tarifas que ele impôs a parceiros estratégicos.Anunciou o nível tarifário em torno de 15% para a União Europeia, está em perspectiva denegociação com a China para reduzir as tarifas aos exportadores chineses. E o meu medo é o queBrasil fique sozinho num nível de tarifa inviável, que acaba sendo um embargo econômico àsexportações brasileiras. Esse é um fator que causa preocupação e que o governo brasileiro jáestá ciente e tem tentado negociar, mas que pode trazer para a economia brasileira muitasdificuldades ao longo das próximas semanas e meses.
Os impactos do tarifaço na economia brasileira tendem a ser mais significativos na pauta deexportação brasileira de produtos de valor agregado, lembra o consultor. Se por um lado, emrelação à China, principal parceiro comercial brasileiro, a pauta de exportação tem baixo valoragregado, com commodities e minérios com pouco beneficiamento em território nacional, no caso dasexportações para os Estados Unidos o valor pago pelos bens industrializados é bem maissignificativo.
A gente exporta principalmente aviões, máquinas e equipamentos. Quando falamos do agronegócio,já há maior valor agregado na exportação, como o suco de laranja e outros beneficiados emterritório nacional expôs o consultor.
Salles Pinto explicou ainda que em termos absolutos de quantidade e valor exportado, o eixo SãoPaulo-Rio de Janeiro-Minas Gerais será o mais afetado.
A Embraer, que fica em São José dos Campos, lembra o consultor, tende a ser muito impactada. NoRio, de onde sai grande exportação de combustíveis para os Estados Unidos, e em Minas Gerais,grande exportador de cafés e chás, os impactos também serão fortemente sentidos.
Mas agora quando falamos dos estados que mais dependem [percentualmente] na sua pauta deexportação do mercado estadunidense, aí o perfil é um pouco diferente. Falamos do Ceará, deSergipe e do Espírito Santo. Então, a situação tende a ser muito crítica nesses estados,sobretudo quando falamos, no caso de Sergipe, do suco de laranja. Com o tarifaço de 50%, vamos terliteralmente uma situação de embargo. Já se inviabiliza o comércio alerta o consultor.
Perdas americanas
Quanto às perdas americanas, Salles Pinto enfatiza que é preciso entender que esse tarifaço nãoé um fato isolado, mas está dentro de um conjunto de tarifas elevadas que têm sido impostas pelosEstados Unidos a também outros parceiros comerciais, como China, Coreia do Sul, Japão e UniãoEuropeia.
O resultado tem sido o aumento dos preços no mercado americano, já sentidos pela população dopaís e que tende, caso não se reverta esse processo de tarifaço em perspectiva global e nãoapenas com o Brasil a ser até acelerado. A consequência para a população americana são preçosde cestas de consumo de bens e serviços mais elevados, com poder de compra que tende a serestrangulado.
Por outro lado, para se manter minimamente sobre controle o processo inflacionário norte-americanodiante desses preços elevados, o Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) tende a manteras taxas de juros naquele país em níveis mais elevados do que a média histórica, o que acabatrazendo consequências inclusive para o investimento local, segundo Salles Pinto.
Para o empresário, para o investidor alocar recursos na economia, na perspectiva do investimento,ele precisa, dentre outros fatores, ter taxas de juros acessíveis para empréstimo. Se as taxas dejuros estão num nível mais alto do que o normal e com tendência de se elevar ainda mais, o quepode acontecer é que esses investidores tendem a alocar menos recursos no investimento, que é umdos fatores importantes para o crescimento econômico de qualquer país.
Tudo isso, completa o consultor legislativo, pode ainda contribuir para o aumento do desemprego nosEstados Unidos.
Com informações da Agência Senado.
Cynara Escobar – cynara.escobar@cma.com.br (Safras News)
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