SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Uma servidora da Prefeitura de Aracaju, da gestão da prefeita Emília Corrêa (PL), conclamou um grupo de funcionários subordinados a doar recursos para financiar uma possível campanha do secretário municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão, Thyago Silva (PSDB), nas eleições.
A mensagem com pedido de doações, à qual a Folha teve acesso, foi enviada aos servidores pela coordenadora geral da Secretaria de Planejamento, Nataly Rocha, em 24 de março de 2025 no grupo “Timaço DAF Seplog”, no WhatsApp.
Em nota, a Prefeitura de Aracaju afirmou que a prefeita determinou a instauração imediata de sindicância administrativa para apurar o caso. Também disse que a gestão vai atuar para garantir a completa elucidação do caso, com isenção e respeito ao devido processo legal.
Um especialista em direito administrativo consultado pela reportagem aponta que a prática pode ser considerada uma ilegalidade a depender do contexto e de eventuais provas colhidas. Mas ressalta que a situação configura uma conduta questionável do ponto de vista ético.
Um dos servidores que receberam a mensagem relata ter se sentido constrangido com o pedido de doação de recursos financeiros da sua chefe imediata.
Na mensagem, enviada para um grupo cerca de 15 funcionários comissionados, a coordenadora sugeriu que os servidores fizessem contribuições mensais, “de forma espontânea e voluntária” para um caixa destinado a gastos da campanha eleitoral.
“Gostaria de relembrar nossa demonstração de união e gratidão ao Secretário Tiago [sic] Silva pela oportunidade que nos foi dada. Como conversamos anteriormente, sugeri que, de forma espontânea e voluntária, realizássemos a contribuição mensal com uma poupança até o período eleitoral, como uma forma de reconhecimento e apoio ao seu projeto futuro”, afirmou.
Na mesma mensagem, a servidora disse que a contribuição era opcional e o controle dos recursos seria feito de forma transparente em uma conta em seu próprio nome. Declarou ainda que devolveria os recursos aos funcionários caso o secretário decidisse não ser candidato na eleição de 2026.
O secretário Thyago Silva é advogado, presidente municipal do PSDB e potencial candidato a deputado estadual por Sergipe em 2026.
A mensagem é seguida de uma chave Pix, com um número de celular, e um QR code. Em setembro, a Folha testou ambos, que remetiam a uma conta bancária no banco Inter em nome da servidora Nataly Rocha. O número é o mesmo que enviou as mensagens com o pedido de contribuição, conforme observou a reportagem no telefone de um dos servidores.
Em nota enviada por meio da prefeitura, a servidora Nataly Rocha declarou que “prestou esclarecimentos à gestão sobre as mensagens atribuídas a ela e nega integralmente as acusações”. Ainda segundo o texto, ela afirma estar sendo alvo de perseguição e acionou sua defesa jurídica.
O secretário Thyago Silva, por sua vez, disse que a servidora apresentou o extrato bancário da conta vinculada ao QR code divulgado no período entre janeiro e setembro de 2025 e que não havia qualquer depósito de outros funcionários.
Declarou ainda que repudia com veemência qualquer insinuação de prática ilícita ou antiética envolvendo seu nome e afirmou o seu “compromisso inabalável” com a legalidade, a ética e a transparência na gestão pública. Também se disse disposto a colaborar com qualquer apuração administrativa ou judicial.
A gestão Emília Corrêa informou que uma sindicância será conduzida por uma comissão na Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão, e sua instalação será publicada no Diário Oficial do Município.
“A administração municipal reforça que seguirá adotando todas as medidas legais e administrativas cabíveis para proteger a integridade do serviço público e garantir a completa elucidação do caso, com responsabilidade, isenção e respeito aos princípios da legalidade e do devido processo legal”, informou.
Eleita prefeita de Aracaju no ano passado, Emília Corrêa é defensora pública aposentada e foi vereadora por dois mandatos, entre 2017 e 2024. Na campanha no ano passado, foi apoiada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e teve o combate à corrupção como uma das principais bandeiras.