Suécia muda igreja de lugar para salvar construção de afundamento por mineração; veja vídeo

Uma image de notas de 20 reais

Imagem gerada por IA
Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A emblemática Igreja da cidade de Kiruna, na Suécia, iniciou nesta terça-feira (19) uma viagem de dois dias para um novo local, a 5 km do ponto onde a construção histórica esteve por mais de um século. A mudança vai salvar o templo do afundamento do solo ocasionado pela expansão da maior mina subterrânea de minério de ferro do mundo.

Trabalhadores já ergueram a o templo luterano de 672 toneladas e 113 anos de idade e o colocaram em um reboque construído especialmente para isso —o transporte é parte de um projeto de 30 anos que vai realocar milhares de pessoas e edifícios da cidade de 18 mil habitantes, no norte do país.

Como parte das ações, a estatal sueca LKAB, que opera a mina do local, passou o último ano alargando uma sinuosa estrada para a jornada que levará a igreja, uma das maiores estruturas de madeira da Suécia e frequentemente votada como a mais bonita, até o novo centro da cidade de Kiruna, a meio quilômetro por hora.

Diversas pessoas assistiram ao começo da operação, que foi abençoada pelo bispo Åsa Nyström e pela vigária Lena Tjärnberg e exibida ao vivo pela televisão sueca com 30 câmeras. O rei da Suécia, Carl 16 Gustaf, deve acompanhar a transferência.

Segundo as autoridades, uma das partes mais complicadas da viagem foi justamente o início, já que o comboio teve que girar e passar por uma leve inclinação para chegar à estrada principal do trajeto. O terreno ao redor da igreja foi escavado para a operação, o que permitiu o posicionamento de grandes vigas amarelas para poder levantá-la com macacos hidráulicos e colocá-la sobre os reboques.

“A igreja é a alma de Kiruna de alguma forma, e de certa maneira é um lugar seguro”, disse Tjärnberg. “Para mim, é um dia de alegria. Mas acho que as pessoas também se sentem tristes porque temos que deixar este lugar.”

Para o prefeito, Mats Taaveniku, a igreja é um símbolo da transformação da cidade. “Estamos agora na metade do caminho. Temos 10 anos restantes para mover o resto da cidade”, afirmou à agência de notícias Reuters.

A comunidade local Sami, que pastoreia renas na região há milhares de anos, tem sentimentos menos ambíguos —para eles, a mudança é um lembrete dos impactos provocados pela expansão da mineração. “Esta área é terra tradicional Sami”, disse Lars-Marcus Kuhmunen, presidente da comunidade Gabna Sami. “Esta área era terra de pastagem e também onde os bezerros das renas nasciam.”

A LKAB afirma que cerca de 3.000 casas e aproximadamente 6.000 pessoas precisam se mudar. Vários edifícios públicos e comerciais estão sendo demolidos, enquanto alguns, como a igreja, estão sendo integralmente movidos. Já o novo centro da cidade está recebendo prédios —centenas de novas casas e lojas foram construídas, assim como uma nova sede para a Prefeitura.

A mudança deve permitir que a LKAB, que produz 80% do minério de ferro extraído na Europa, continue a exploração da mina em Kiruna por décadas. Desde a década de 1890, a empresa extraiu cerca de 2 bilhões de toneladas de minério, principalmente da mina da cidade, e estima-se que ainda haja 6 bilhões de toneladas no local e em Svappavaara e Malmberget, nas proximidades.

Além do minério de ferro, a LKAB diz ter identificado depósitos significativos de elementos de terras raras na mina Per Geijer, também na região. Esse grupo de 17 metais críticos serve para produtos que vão desde lasers até iPhones e são fundamentais para as metas climáticas da Europa.

Atualmente, o continente depende quase completamente da China para o fornecimento e processamento de terras raras. Em março deste ano, a União Europeia classificou Per Geijer como um projeto estratégico.

Se os planos para explorar outra mina avançarem, Kuhmunen diz que o caminho entre as pastagens de verão e inverno das renas seria dividido, tornando a atividade impossível no futuro. “Há cinquenta anos, meu bisavô disse que a mina iria devorar nosso modo de vida, nossa criação de renas. E ele estava certo”, afirma o presidente da comunidade tradicional da região.

MAIS LIDAS

Voltar ao topo