BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), teve uma reunião nesta sexta-feira (11) com o chefe da embaixada dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar.
O encontro, que ocorreu no escritório do Governo de São Paulo em Brasília, ocorre dias após Donald Trump anunciar tarifas de 50% contra produtos brasileiros e fazer diversas sinalizações de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O governo Lula (PT) tem associado as consequências econômicas do tarifaço à oposição, inclusive a Tarcísio, aliado de Bolsonaro.
“Acabo de me reunir com Gabriel Escobar, Encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, em Brasília. Conversamos sobre as consequências da tarifa para a indústria e agro brasileiro e também o reflexo disso para as empresas americanas”, escreveu Tarcísio em um rede social.
“Vamos abrir diálogo com as empresas paulistas, lastreado em dados e argumentos consolidados, para buscar soluções efetivas. É preciso negociar. Narrativas não resolverão o problema. A responsabilidade é de quem governa”, completou o governador na mesma postagem.
Escobar é encarregado de negócios da missão dos EUA no Brasil, que está sem embaixador desde o início da gestão Trump.
Na quarta (9), dia em que Trump divulgou nas redes sociais uma carta em que anuncia as sobretaxas e volta a se queixar de perseguição política contra Bolsonaro, Escobar foi convocado duas vezes ao Itamaraty para prestar explicações.
Na diplomacia, trata-se de uma forma de o país anfitrião, no caso o Brasil, demonstrar profunda insatisfação com a condução da relação bilateral. Na segunda reunião, representantes do Itamaraty devolveram simbolicamente a Escobar a carta endereçada por Trump a Lula.
De acordo com interlocutores do governador, Tarcísio pode se colocar como um possível negociador com Trump.
O aumento de tarifas ao Brasil imposto por Trump, como mostrou a Folha, expôs o nó político do governador, que publicamente tenta se equilibrar entre fidelidade a Bolsonaro e o respeito à Justiça e à democracia.
Na avaliação de dois presidentes de partidos, de deputados federais e estaduais aliados ao governador e de integrantes de sua equipe, a imagem de Tarcísio entre os bolsonaristas sairá arranhada caso ele não apoie as medidas de Trump nem as trate como reflexo direto de uma suposta perseguição antidemocrática sofrida pelo ex-presidente.
Por outro lado, se endossar as barreiras comerciais impostas pelo governo americano, o desgaste será com o mercado financeiro, o setor agropecuário e com eleitores fora do campo bolsonarista.
Bolsonaristas de São Paulo, segundo apurou a reportagem, esperavam que os Estados Unidos anunciassem sanções contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes não contra o país inteiro.
As primeiras reações de Tarcísio seguiram essa linha e tiveram de ser recalibradas ao longo da semana diante da impopularidade das medidas.
Na segunda-feira (7), quando Trump publicou um texto em defesa de Bolsonaro, Tarcísio rapidamente reverberou a mensagem, tratando a iniciativa como uma vitória do bolsonarismo e atacando indiretamente a legitimidade do STF para julgar o processo criminal contra o aliado.
“Jair Bolsonaro deve ser julgado somente pelo povo brasileiro, durante as eleições. Força, presidente”, disse, na ocasião, em uma crítica também a decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que condenou Bolsonaro e o declarou inelegível até 2030 por uso da máquina nas eleições e ataques à Justiça Eleitoral.