SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após o tarifaço anunciado na última quarta-feira (9) por Donald Trump, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mudou o tom de suas manifestações sobre as críticas do presidente americano ao processo da trama golpista.
Tarcísio oscilou entre o endosso a Trump, recados ao Judiciário e crítica a Lula (PT), mas recuou após a repercussão negativa que envolvem as consequências sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
Na quinta-feira (10), o governador chegou a cancelar o restante da agenda em São Paulo e voou para Brasília, onde conversou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre como agiria dali em diante em relação às tarifas.
Tarcísio também é admirador de Trump e já posou com o boné usado pelo presidente americano na campanha.
Entenda as idas e vindas na reação de Tarcísio às movimentações de Trump:
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ENDOSSO A TRUMP E RECADO AO STF
O governador compartilhou nas redes sociais a carta de Donald Trump em apoio a Bolsonaro divulgada no dia 7 de julho. Aquela tinha sido a primeira manifestação pública do americano a respeito do processo a que Bolsonaro responde na Justiça brasileira. No documento, o presidente americano chama a ação que apura o envolvimento do ex-presidente da trama golpista de “caça às bruxas”. Tarcísio endossou as críticas e afirmou que Bolsonaro deve ser julgado “somente pelo povo brasileiro, durante as eleições”, em referência à atuação do STF.
ATAQUE DIRETO AO GOVERNO LULA
Após o anúncio das tarifas, em 9 de julho, o governador fez críticas mais diretas ao governo Lula. Nas redes sociais, Tarcísio culpou o presidente e eximiu Bolsonaro na articulação que resultou no aumento das tarifas.
“Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado. Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil. Outros países buscaram a negociação. Não adianta se esconder atrás do Bolsonaro. A responsabilidade é de quem governa. Narrativas não resolverão o problema”, disse.
IMPACTO DAS TARIFAS
No dia seguinte ao anúncio das tarifas, Tarcísio mudou de tom e admitiu o impacto negativo para o estado de São Paulo. O governador também afirmou que o momento é de atuação de diplomacia brasileira. Ele não comentou a menção a Bolsonaro e falou em “distanciamento” entre o governo Lula e Trump.
“O tarifaço é deletério, principalmente para aqueles estados que têm produção industrial de maior valor agregado […] E a gente precisa obviamente sentar na mesa, deixar de lado as questões ideológicas”, disse Tarcísio em 10 de julho.
No primeiro semestre de 2025, a exportações do estado de São Paulo aos EUA somaram R$ 6,39 bilhões.
IDA A BRASÍLIA E ENCONTRO COM BOLSONARO
Logo após falar com o jornalistas na manhã do dia 10, Tarcísio enforcou o restante dos compromissos da agenda oficial e viajou a Brasília para se encontrar com Bolsonaro. A comunicação do Palácio dos Bandeirantes não respondeu se a aeronave utilizada pertencia ou não ao governo paulista.
O encontro serviu para Tarcísio avisar ao ex-presidente que pretendia adotar o discurso de preocupação com a economia do estado de São Paulo e colocar em segundo plano a defesa da anistia como chave para reverter as tarifas. Conforme a Folha de S.Paulo apurou, Bolsonaro ficou em silêncio e não apresentou objeção à postura adotada pelo governador.
Entretanto o ex-presidente teria saído contrariado da reunião, segundo uma pessoa próxima.
PEDIDO AO STF
Em outro movimento, Tarcísio telefonou para ministros do Supremo e tentou convencê-los a autorizar que Bolsonaro fizesse uma viagem aos EUA para negociar com Donald Trump. A proposta foi considerada surpreendente e esdrúxula. O ex-presidente, réu pela trama golpista, teve o passaporte apreendido e está proibido de deixar o país.
A crise deflagrada pelas tarifas impostas por Trump colocou Tarcísio em um impasse. De um lado, o governador tenta se mostrar um apoiador fiel de Bolsonaro. Do outro, ele tenta manter a imagem de moderado perante os ministros do STF e empresários. Um aliado de Tarcísio afirmou à Folha de S.Paulo que para conquistar o eleitorado Bolsonarista, ele terá de subir o tom contra a corte.
ENCONTRO COM CHEFE DA EMBAIXADA DOS EUA
Enquanto ainda estava em Brasília, na sexta (11), Tarcísio se reuniu com o chefe da embaixada americana, Gabriel Escobar. A missão dos EUA no Brasil, que está sem embaixador desde o início do governo Trump, afirmou que São Paulo é o estado “com a maior concentração de investimento americano no Brasil”.
O encontro alimentou discussões sobre se o governador estaria se colocando como um possível negociador com os Estados Unidos.
PASSO ATRÁS NA DEFESA DA ANISTIA GERAL
Como informou a Bolsonaro que faria, Tarcísio abrandou o tom discurso de defesa da anistia como solução para o aumento das tarifas, que chamou de “algo complicado” No sábado (12), o governador afirmou que a exigência da anistia é uma questão de “ponto de vista”. Além disso, ao ser questionado sobre a movimentação junto ao Supremo para transformar Bolsonaro em negociador, ele desconversou. “Assinei alguma petição? Não. Isso é bobagem”, disse.
REPERCUSSÕES EM CANDIDATURA AO PLANALTO
Apesar de afirmar que pretende concorrer à reeleição em São Paulo, Tarcísio é tratado como um possível nome para a corrida presidencial de 2026. A crise do aumento das tarifas, entretanto, pode ser um obstáculo no caminho do governador ao Planalto.
O governo Lula tende a associar os impactos do tarifaço a Tarcísio e à oposição. “Não vai tentar esconder o chapeuzinho do Trump, não, Tarcísio. Pode ficar mostrando para a gente também quem você é”, disse Lula, em entrevista na quinta-feira.
Aliados de Tarcísio chamam a reação inicial ao tarifaço de o maior erro já cometido pelo governador, e empresários que defendiam sua candidatura como representante de uma direita moderada passaram a questionar sua independência do bolsonarismo.