Tarcísio tenta reagir ao tarifaço, busca EUA, STF e Bolsonaro e vê pressão de aliados única por anistia

Uma image de notas de 20 reais

SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Cotado como candidato a presidente no ano que vem, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) buscou sair das cordas diante da crise do tarifaço ao Brasil anunciado por Donald Trump e nas últimas horas fez uma rodada de conversas que passou pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por ministros do STF e pelo chefe da embaixada dos Estados Unidos no Brasil.

O governo Lula (PT) tem associado as consequências econômicas do tarifaço à oposição, inclusive a Tarcísio, aliado de Bolsonaro.

De acordo com interlocutores do governador, Tarcísio pode se colocar como um possível negociador com Trump. O governador, porém, além de ter derrapado na conversa com ministros do Supremo, encontrou resistência dentro do campo bolsonarista para essa tentativa de diálogo com os Estados Unidos.

Eduardo Bolsonaro, deputado licenciado e filho do ex-presidente, disse por exemplo que o eventual fim do tarifaço precisa passar necessariamente por uma anistia geral aos acusados da trama golpista, o que incluiria seu pai, réu no STF no processo da trama golpista.

Outro obstáculo é o próprio Bolsonaro, que em nota um dia antes deixou claro que o que lhe interessa é a anistia. A tarifa de 50% aos produtos brasileiros e suas consequências aos produtores locais têm sido ignoradas pelo ex-presidente, que pede pressa aos Poderes para atender às exigência de Trump.

A carta de Trump a Lula sobre o tarifaço deixa claro que a motivação dos EUA é a busca pelo fim do processo contra Bolsonaro no STF.

Trump é aliado de Bolsonaro, padrinho político de Tarcísio, que por sua vez é fã do presidente dos EUA, tento até posado com um boné do republicano nas redes sociais após as eleições americanas, algo que tem sido explorado por aliados do Palácio do Planalto diante da atual crise.

A busca de Tarcísio agora por um protagonismo de negociador ocorre, como mostrou a Folha, após ter sido exposto a um nó político, na tentativa de se equilibrar entre fidelidade a Bolsonaro e o respeito à Justiça e à democracia.

Na avaliação de dois presidentes de partidos, de deputados federais e estaduais aliados ao governador e de integrantes de sua equipe, a imagem de Tarcísio entre os bolsonaristas sairá arranhada caso ele não apoie as medidas de Trump nem as trate como reflexo direto de uma suposta perseguição antidemocrática sofrida pelo ex-presidente.

Por outro lado, se endossar as barreiras comerciais impostas pelo governo americano, o desgaste será com o mercado financeiro, o setor agropecuário e com eleitores fora do campo bolsonarista.

Na segunda-feira (7), quando Trump publicou um texto em defesa de Bolsonaro, Tarcísio rapidamente reverberou a mensagem, tratando a iniciativa como uma vitória do bolsonarismo e atacando indiretamente a legitimidade do STF para julgar o processo criminal contra o aliado.

“Jair Bolsonaro deve ser julgado somente pelo povo brasileiro, durante as eleições. Força, presidente”, disse, na ocasião, em uma crítica também a decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que condenou Bolsonaro e o declarou inelegível até 2030 por uso da máquina nas eleições e ataques à Justiça Eleitoral.

A corrida de Tarcísio começou na tarde desta quinta-feira, quando enforcou a agenda no Palácio dos Bandeirantes e viajou a Brasília para se encontrar com Bolsonaro. No mesmo dia, o ex-presidente publicou uma nota nas redes sociais na qual deixou claro que a anistia é o que mais o interessa no momento.

Bolsonaro nem entrou no mérito do tarifaço, apenas citou a medida, e pediu pressa às autoridades brasileiras para que cumpram as exigências de Trump, que cobra diretamente o encerramento do julgamento no STF. Se condenado, Bolsonaro pode ser preso neste ano e pegar uma pena de 40 anos.

Outra iniciativa de Tarcísio acabou como uma derrapada. Como revelou a coluna Mônica Bergamo, da Folha, o governador telefonou para ministros do STF que esses autorizassem Bolsonaro a viajar aos EUA para se encontrar com Trump e negociar o tarifaço.

A proposta de Tarcísio foi considerada surpreendente e esdrúxula pelos ministros do Supremo.

Já na manhã desta sexta-feira Tarcísio teve uma reunião com o chefe da embaixada dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar.

“Acabo de me reunir com Gabriel Escobar, Encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, em Brasília. Conversamos sobre as consequências da tarifa para a indústria e agro brasileiro e também o reflexo disso para as empresas americanas”, escreveu Tarcísio em um rede social.

“Vamos abrir diálogo com as empresas paulistas, lastreado em dados e argumentos consolidados, para buscar soluções efetivas. É preciso negociar. Narrativas não resolverão o problema. A responsabilidade é de quem governa”, completou o governador na mesma postagem.

A embaixada dos EUA confirmou a reunião entre Escobar e Tarcísio e destacou que São Paulo é o estado “com a maior concentração de investimento americano no Brasil”.

“Ressaltamos que diplomatas americanos se reúnem regularmente com governadores brasileiros. A Embaixada dos EUA promove os interesses das empresas americanas e a cooperação bilateral”, disse a representação, em nota.

Na quarta (9), dia em que Trump divulgou nas redes sociais uma carta em que anuncia as sobretaxas e volta a se queixar de perseguição política contra Bolsonaro, Escobar foi convocado duas vezes ao Itamaraty para prestar explicações.

Na diplomacia, trata-se de uma forma de o país anfitrião, no caso o Brasil, demonstrar profunda insatisfação com a condução da relação bilateral. Na segunda reunião, representantes do Itamaraty devolveram simbolicamente a Escobar a carta endereçada por Trump a Lula.

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