Tarifa de 50% ao Brasil estressa mercados

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São Paulo, 11 de julho de 2025 – Em semana de poucos indicadores, as atenções dos investidoresnacionais deverá se voltar para o desenrolar das discussões em torno da tarifa adicional de 50%anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos importados do Brasil, apartir de 1o de agosto. Deixando de lado o cunho político, o foco do mercado é acompanhar ospróximos passos do governo federal, em resposta à taxa. Ainda em Brasília, ocorre na terça, 15,a esperada reunião de conciliação sobre o decreto do IOF.

O anúncio de Trump abalou os mercados. A semana foi de nervosismo, com os agentes tentando calcularos impactos sobre câmbio, juros, inflação e setores mais atingidos pela sobretaxa. Depois de umimpacto inicial negativo, o mercado buscou acomodação. Dois pontos ajudaram a acalmar os ânimos:o tom duro mas diplomático dos discursos dos membros do governo e o sentimento de que, até 1o deagosto, Trump poderá voltar atrás na imposição, como tem feito em outros casos.

A questão fiscal ainda preocupa, mas ficou em segundo plano na semana. O governo insiste namanutenção do aumento do IOF para equilibrar as contas públicas e as sinalizações dos últimosdias é de uma aproximação com o Congresso em busca de um meio termo, que pode ser acordado atéterça-feira.

Os investidores começam também a especular sobre a reunião do Copom no final do mês. Aexpectativa é de manutenção da Selic e alguns indicadores divulgados na semana apontam paraefeitos positivos da política contracionista do BC. As vendas no varejo recuaram e os dados deserviço vieram abaixo do esperado. O IPCA veio um pouco acima das expectativas, mas as avaliaçõesdo mercado é de que o resultado não deverá mudar a rota do BC.

O divulgou na quarta-feira uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em razão dodescumprimento da meta de inflação por seis meses consecutivos. A inflação acumulada em 12 mesesatingiu 5,35% em junho, superando o teto do intervalo de tolerância de 4,50% previsto pela novasistemática de metas.

Entre os principais fatores apontados para o estouro da meta estão a atividade econômica aquecida,com crescimento do PIB acima do esperado; expectativas de inflação desancoradas desde 2024inflação inercial, com reajustes salariais superiores ao IPCA; e a desvalorização cambial, quepressionou os preços de bens importados e industrializados, como vestuário e automóveis. O BCtambém destacou pressões pontuais nos preços de combustíveis, energia elétrica e alimentosindustrializados, como o café (com alta de 77,88%) e carnes (23,63%), além de aumentos em preçosadministrados ligados à crise hídrica.

Às 13h50 da sexta, 11, o Ibovespa marcava 135.591 pontos, acumulando uma perda semanal de 4%. Odólar tinha uma alta na semana de 2,58%, sendo cotado na casa de R$ 5,5639. As taxas DIs parajaneiro de 2029 abriram a semana remunerando 13,230% ao ano e vão encerrando a 13,545% ao ano.

A semana tem uma agenda de indicadores domésticas esvaziada. Na segunda, às 8h25, o Banco Centraldivulga a pesquisa Focus, com a atualização das projeções econômicas do mercado financeiro.Ainda na segunda, às 9h, será divulgado o IBC-Br, a prévia do PIB, de maio. Na quinta-feira,destaque para o IGF-10 de julho, que será divulgado às 8h pela Fundação Getulio Vargas.

Política

O anúncio de que os Estados Unidos irão taxar os produtos importados do Brasil em 50% a partir de1o de agosto aqueceu ainda mais a antecipada corrida eleitoral para 2026. Além dos desdobramentosdessa guerra de narrativas, merecem atenção em Brasília a reunião conciliatória sobre o decretodo IOF e o esforço concentrado prometido no Congresso, que pode englobar a votação do projeto deredução dos benefícios fiscais e do texto sobre a isenção do Imposto de Renda.

Ao anunciar a taxa, Trump citou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e a forma com que ogoverno brasileiro está agindo contra as Big Techs americanas. A movimentação de Trump foimotivada pela ação do filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, o que reaqueceu o debateeleitoral.

O discurso da oposição visa que se vote no Congresso no projeto de Anistia aos envolvidos no 8 dejaneiro. A intenção é livrar Jair Bolsonaro do julgamento e, possivelmente, da prisão. Naavaliação de analistas políticos, o resultado deste movimento, inicialmente, derivou em duasnarrativas. O governo aproveitou para jogar a culpa na extrema direita, que estaria jogando contraos interesses do país.

Para um governo que vê sua popularidade cair nas pesquisas e que precisa reagir, o discurso podeser um novo trunfo. Lembrando que, recentemente, o governo colheu os primeiros frutos de uma disputanas redes digitais, ao insistir no discurso de que o Congresso estaria beneficiando as classes maisaltas ao derrubar o projeto de aumento do IOF. O Congresso sentiu o impacto de uma das escassasvitórias do governo em termos de comunicação.

O episódio das tarifas trouxe preocupação ao principal nome da direita para a disputapresidencial, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Apoiador de Bolsonaro e de Trump, ogoverno teve que explicar o seu posicionamento, tendo em vista que seu estado seria o principalprejudicado se as taxas virem a ser sancionadas. Nesse momento, qualquer passo está sendomilitricamente medido nesta corrida entre Lula e Tarcísio á presidência, disputa que parece estarse consolidando.

Apesar da pressão bolsonarista, o projeto da Anistia não deve ser apreciado na próxima semana,mesmo com o prometido esforço concentrado. Os presidentes da Câmara e do Senado se alinharam aotom da resposta do governo a Trump, insistindo na soberania brasileira. Entre os assuntos quemerecem atenção do mercado em Brasília, destaque para a reunião de conciliação convocada peloSTF em torno do decreto do IOF, no dia 15.

O governo vai defender a manutenção do aumento do imposto e o presidente Lula confirmou essatendência. A ideia que persiste neste momento é que o Congresso aceite a elevação, mas em menortamanho. O projeto que revisa os benefícios fiscais também deverá ser votado. Outro ponto é otexto do relator Arthur Lira sobre o projeto de isenção, que foi lido nesta semana e deve servotado na quarta.

Internacional

E as tarifas ao Brasil vieram, e chegaram de forma intensa: 50% sobre todos os produtos brasileirosque entrarem nos Estados Unidos. Para justificar as taxas, Donald Trump usou motivos políticos,como a situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro, e não razões econômicas a balançacomercial norte-americana é superavitária em relação à brasileira.

A forma como esta decisão foi tomada surpreendeu o mercado financeiro não somente aqui, mas emoutros países. O prazo para que essas tarifas entrem em vigor é 1 de agosto e, até lá, muitanegociação deve acontecer entre os governos dos dois países.

Mas mais tarifas chegaram, e foram para o Canadá, parceiro e vizinho dos EUA, que foram estipuladasem 35%. Isso que Mike Carney, primeiro-ministro canadense, visitou Trump e negociações parareduzir ou eliminar as taxas estavam em andamento.

Do lado dos indicadores, a semana foi pouco movimentada, com destaque para a ata do FED, divulgadana quarta-feira, que trouxe uma divisão dentro dos membros do banco sobre se e quando começar acortar os juros. Há os que acreditam que ainda não é hora, e os que creem que os cortes podem virem setembro. Mas a ata foi da reunião de 17 e 18 de junho, bem antes da escalada tarifária querecomeçou nesta semana, o que trouxe mais incertezas para os investidores.

A semana que se inicia continuará movimentada. Nos Estados Unidos, teremos o Livro Bege, osíndices de preços ao consumidor e ao produtor, o Empire State de atividade industrial e o do FedFiladélfia, a produção industrial e a capacidade utilizada, os estoques de petróleo, os pedidosde seguro-desemprego, preços de importação e exportação, vendas no varejo, construção denovas residências, e a leitura preliminar da confiança do consumidor da Universidade de Michigan.

A zona do euro publica a produção industrial, o saldo da balança comercial, a leitura revisada doíndice de preços ao consumidor e o saldo em conta corrente. A Alemanha publica o índice ZEW desentimento econômico e o índice de preços ao produtor. O Reino Unido publica o índice de preçosao consumidor e a taxa de desemprego.

O Japão publica a produção industrial, a balança comercial e o índice de preços ao consumidor.A China divulga o saldo da balança comercial, a produção industrial, as vendas no varejo, a taxade desemprego e o PIB do segundo trimestre.

A OPEP publica seu relatório mensal de petróleo, e começa também a temporada de balanços dosegundo trimestre. Teremos os resultados de Rio Tinto, Novartis, BHP, Wells Fargo, JP Morgan Chase,Citigroup, Goldman Sachs, Morgan Stanley, Johnson & Johnson, Bank of America, United Airlines,Travelers, Netflix, PepsiCo, 3M e American Express.

Empresas

O radar corporativo entrou em alerta máximo nesta semana após a decisão do presidentenorte-americano, Donald Trump, de impor uma nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partirde 1 de agosto. Na visão de analistas que acompanham o mercado financeiro, ainda é preciso esperaros desdobramentos do anúncio, mas a perda para o Produto Interno Bruto (PIB) do país com apossível inviabilização das exportações aos Estados Unidos já está sendo precificada.

Os EUA são o segundo maior destino das exportações brasileiras e um dos principais mercados parabens manufaturados de maior valor agregado, como aeronaves e autopeças. O BTG Pactual estimareduções das exportações de US$ 7 bilhões (0,3% do PIB) em 2025 e US$ 13 bilhões (0,6% do PIB)em 2026, assumindo que parte das exportações afetadas será redirecionada gradualmente a outrosmercados ao longo dos próximos trimestres, apontou em relatório divulgado logo após o anúncio.

Em outra análise, a XP destacou que a maior parte das exportações brasileiras são commodities,que podem acabar sendo redirecionadas para outros mercados, reduzindo o impacto potencial, na suavisão. Em termos de ações, a XP cita que a Embraer apresenta a maior exposição potencial,seguida por Suzano e Tupy. A XP também cita impacto para a Weg por conta de tarifas mais altas parao cobre nos EUA com o anúncio da tarifa de 50% para produtos exportados do Brasil acentuando osriscos relacionados às tarifas para a empresa.

Análise da Monte Bravo cita que os setores mais afetados são os de commodities agrícolas eminerais, que compõem a maior parte da pauta exportadora brasileira aos EUA. Apesar do impactosetorial expressivo, a Monte Bravo avalia que o efeito sobre a economia brasileira será limitado,com redirecionamento provável das exportações para mercados como China e União Europeia.

Na avaliação da Ativa Investimentos, o anúncio de Trump deve pressionar ativos de renda variávelno país e sobretudo, os expostos à exportação aos EUA. “Além do efeito direto sobre o nívelpotencial de atividade econômica brasileira, o movimento adiciona um novo vetor de aversão a riscopara ativos locais, ampliando a volatilidade e, possivelmente, alimentando a necessidade derevisões em fluxos de caixa e valuation para companhias com maior exposição ao mercadonorte-americano”, avalia a corretora.

A imposição de tarifas de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros provocou fortereação do setor produtivo nacional. Entidades como CNI, FIESP, IBP, FecomercioSP, ABPA, Abiec eInstituto Aço Brasil alertam para os impactos econômicos imediatos, com perdas de competitividade,ameaça a empregos e quebra de cadeias produtivas entre os dois países.

As entidades também refutam o argumento americano de déficit comercial. Segundo a CNI, os EUAacumulam superávit de US$ 256,9 bilhões com o Brasil nos últimos dez anos, considerando bens eserviços. O setor produtivo nacional pede que prevaleça o bom senso e a diplomacia nas relaçõesentre os dois países.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou a medida como injustificada e prejudicial,destacando que cerca de 10 mil empresas brasileiras serão afetadas. Para a CNI, a prioridade deveser o diálogo com o governo de Donald Trump para preservar a parceria estratégica bilateral.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) reforçou que, apesar do impacto, asoberania nacional é inegociável. Defende negociações baseadas em fatos e rejeita o uso derazões políticas para justificar a ruptura comercial.

O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) teme efeitos negativos no setor, que representa 17%do PIB industrial e gerou US$ 44,8 bilhões em exportações de petróleo em 2024. A entidadedefende uma solução diplomática para preservar o fluxo comercial.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) apontou perdas potenciais nas exportações decarne suína e ovos, destacando a importância de uma solução rápida via negociaçõesdiplomáticas. Os EUA são destino relevante para esses produtos.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que representa empresascomo JBS, Marfrig e Minerva, afirmou que as tarifas de 50% anunciadas por Trump tornam inviáveis asexportações de carne bovina brasileira ao mercado norte-americano e que os fabricantes nacionaisdecidiram pausar a produção para os Estados Unidos no momento.

O Instituto Aço Brasil e a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) também alertaram para apossível inviabilização das exportações de aço e alumínio. Representantes das entidadesdiscutiram o tema em reunião da Comissão de Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dosDeputados na última quinta-feira (10). A diretora do Instituto Aço Brasil disse que se atarifação for cumulativa, o setor de aço e alumínio, que já paga tarifa de 50%, arcaria commais 50%. A Abal endossou a preocupação com o tema e disse que a indústria já vem sofrendo noatual cenário, pois já registra queda de 25% nas exportações para os EUA no primeiro semestre emcomparação ao mesmo período de 2024.

A FecomercioSP criticou a politização das relações comerciais e alertou para riscos àconfiança institucional. Para a entidade, decisões unilaterais enfraquecem o comércio global eexigem reação com abertura de mercados e redução de tarifas por parte do Brasil.

Cynara Escobar, Dylan Della Pasqua, e Vanessa Zampronho / Safras News

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