São Paulo, 18 de julho de 2025 – As negociações entre Brasil e Estados Unidos buscando um acordopara evitar que a tarifa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos importados brasileiros devemanter o mercado financeiro nervoso por mais uma semana semana. Indicadores aqui e no exterior, oinício da temporada de balanços e o tenso cenário político também merecem a atenção dosinvestidores.
Os discursos de Lula e Trump sobre as tarifas se acirraram durante a semana. De um lado, umpresidente que vê na narrativa da defesa da soberania nacional uma catapulta para melhorar a suapopularidade. De outro, os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro defendendo a anistia aoenvolvidos na tentativa de golpe do 8 de janeiro. A corrida à Presidência ganhou mais um capítuloe o preferido do mercado, o governador de São Paulo Tarcísio Freitas, tenta se equilibrar entre oapoio da base bolsonarista e uma medida que prejudica muito a economia de seu estado.
O quadro político, nesta semana que passou, trouxe nervosismo ao mercado. A questão fiscal, emmeio à decisão favorável do STF ao governo na questão do decreto do IOF, também foi reavivada econtribuiu para uma semana negativa.
Na próxima semana, a atenção do mercado, em termos de indicadores, se volta para o IPCA-15, nasexta, antes da reunião do Comitê de Política Monetária, no dia 30. A expectativa é demanutenção da Selic em 15%, sentimento reforçado pelo IBC-BR de maio, que confirmou a retraçãoda economia. O mercado projeta até mesmo que os cortes da taxa básica iniciem neste ano.
No mesmo dia do Copom, o banco central americano vai também se reunir e o consenso é demanutenção. A possibilidade de um corte em setembro diminuiu após os mais recentes indicadores daeconomia americana serem divulgados. Neste momento, surpresas sobre a política monetária parecemdescartadas.
O Ibovespa marcava 134.133 pontos na sexta, 18, às 13h, acumulando desvalorização de 1,51% nasemana. O dólar comercial estava cotado a R$ 5,5605, com alta semanal de 0,26%. As taxas DIs parajaneiro de 2029 abriram o período remunerando 13,480% ao ano e encaminhavam o fechamento a 13,670%.
Na agenda de indicadores domésticos, destaque na segunda-feira para o boletim Focus, pesquisa com omercado financeiro sobre os indicadores da economia brasileira. Na quinta, haverá reunião doConselho Monetário Nacional (CMN). Encerrando a semana, na sexta, o IBGE divulga o IPCA-15referente ao mês de julho.
Política
Brasília viveu uma semana nervosa, chamando a atenção dos olhos dos investidores. Mesmo com orecesso no Congresso, as atenções seguirão voltados para o cenário político. A tensão sobre atarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve seguir aumentando coma aproximação do prazo para que entre em vigor – 1o de agosto.
O vice-presidente, Geraldo Alckmin, também titular da pasta do Desenvolvimento, assumiu asnegociações para tentar buscar um acordo com os norte-americanos. Mas após uma série dereuniões com representantes dos setores mais prejudicados pela taxa, o mercado se divide entresinais de uma aproximação entre os dois países e o acirramento da disputa eleitoral.
Lula e Trump oscilaram entre afagos e provocações. Como resultado, a movimentação do mercadofinanceiro esteve nervosa e volátil, quadro que deve permanecer nos próximos dias. De um lado,Bolsonaro e seus aliados buscam aumentar a pressão através de Trump, forçando uma anistia. Mas asexta foi marcada por uma operação na casa do ex-presidente.
A operação, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal),cumpriu mandados de busca e apreensão e a aplicação de medidas cautelares. O ex-presidente passará a usar tornozeleira eletrônica, além de cumprir recolhimento domiciliarno período noturno e finais de semana.
Na corrida à presidência, o balanço da semana confirma uma melhora na popularidade do atualpresidente Luiz Inácio Lula da Silva, embalado pela narrativa da defesa da soberania nacional etambém no questionamento ao Congresso. Jair Bolsonaro está praticamente fora do páreo e o nomepreferido da direita, o governador Tarcísio de Freitas, tenta recolher os cacos do estragoprovocado pelo apoio bolsonarista à política tarifária de Trump contra o Brasil.
A pauta econômica avançou no Congresso, mas o veto de Lula ao projeto que aumenta o número dedeputados federais recrudesceu os atritos entre Planalto e Legislativo. A decisão favorável do STFna questão do IOF também colocou lenha na fogueira da disputa de protagonismo em Brasília e omercado deve ficar atento à uma possível retaliação do Congresso, iniciada com a pauta-bomba daaprovação do fundo social para agricultores atingidos por calamidades e da Lei Ambiental, quetambém passou nas duas casas.
Após uma semana agitada e apesar do recesso parlamentar, Brasília deve permanecer no radar dosinvestidores nos próximos dias.
Internacional
A semana foi movimentada com o assunto tarifas, que permanecem no noticiário. O presidente dos EUA,Donald Trump, pelo menos por enquanto, está mantendo a palavra de taxar o Brasil em 50% a partir de1 de agosto. Porém, autoridades brasileiras já estão negociando com suas contrapartesnorte-americanas para se chegar a um acordo de adiar ou reduzir a alíquota.
Os EUA abriram uma investigação comercial para detectar se o tratamento dado pelo Brasil aocomércio digital, às tarifas preferenciais e outras áreas é injusto, discriminatório ouprejudicial aos interesses comerciais norte-americanos, o que acabou incluindo até o Pix ecomércio de mercadorias contrabandeadas ou falsificadas na rua 25 de Março, em São Paulo.
Do lado dos indicadores, os índices de preços ao consumidor (CPI, da sigla em inglês) e aoprodutor (PPI) vieram com resultados mistos. O CPI veio ainda acima da meta do FED, e analistasapontam que os efeitos das tarifas começaram a aparecer de forma ainda leve. Já o PPI veio abaixodo esperado, mas o mercado já está precificando aumentos no futuro dos preços nas fábricas.
Para a próxima semana, nos EUA, haverá as vendas de imóveis novos e usados, o índice deatividade nacional do Fed Chicago, pedidos de seguro-desemprego, estoques de petróleo, e os pedidosde bens duráveis.
Na zona do euro, haverá a decisão de política monetária por parte do BCE, além da confiança doconsumidor. A Alemanha divulga o índice Gfk de confiança do consumidor e o IFO de confiança doempresário. O Reino Unido divulga as vendas no varejo. O Japão publicará o índice de preços aoconsumidor da capital Tóquio e, da parte da China, teremos a publicação da decisão de políticamonetária do PBOC. Haverá também a publicação da leitura preliminar dos PMIs dos setoresindustrial e de serviços de julho dos EUA, Alemanha, zona do euro, Reino Unido e Japão.
Já do lado dos balanços, vamos conhecer os resultados trimestrais da LVMH, Equinor, AngloAmerican, Roche, Nestlé, TotalEnergies, Volkswagen, Verizon, Lockheed Martin, Coca-Cola, GeneralMotors, Alphabet, Tesla, GE Vernova, AT&T, IBM, Intel e DOW.
Empresas
Após uma semana de avaliação dos impactos do tarifaço de 50% prometido pelo presidente DonaldTrump aos produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos, previsto para 1º de agosto, o setorprodutivo espera com grande apreensão por uma sinalização de Washington para uma negociaçãopara evitar a tarifa neste patamar ou pelo menos adiar o início da cobrança.
Entre as companhias listadas na Bolsa brasileira, uma das mais impactadas pelas tarifas será aEmbraer. Na última terça-feira (15), o CEO da empresa, Francisco Gomes, disse que a tarifa de 50%prometida pelos EUA vai gerar um custo adicional de US$ 9 milhões (R$ 50 milhões) por avião daEmbraer, “um valor altíssimo”, resultando perdas de R$ 2 bilhões, somando os impactos aos clientesda empresa. “Se multiplicarmos isso pelo nosso crescimento previsto até 2030, isso significa algoem torno de R$ 20 bilhões em tarifas até 2030″, disse o presidente da Embraer.
Diante desse quadro extremamente negativo, empresários de diversos setores mostraram disposiçãoem participar das negociações junto ao governo brasileiro. Em entrevista coletiva na últimaquarta-feira (16) após reunião com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, GeraldoAlckmin, o presidente da Câmara Americana de Comércio para Brasil (Amcham Brasil), Abrão Neto,disse que tem mantido diálogo com o governo brasileiro e que existem quase 10 mil empresas queexportam para os EUA. Nosso desejo é de se buscar a construção de uma solução negociada entreos governos e impedir o aumento tarifário. Entendemos que há espaço para resolução”, comentou.
O governo brasileiro também mostrou intenção de auxiliar os empresários a buscarem novosmercados, porém, reconheceu que isso é inviável para o setor de alimentos perecíveis, como decarne, café e frutas.
Também após reunião com o vice-presidente, na terça-feira (15), Roberto Perosa, presidente daAssociação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), disse: Trouxemos nossapreocupação com a medida tomada pelos EUA. Pedimos ao governo que a negociação precisacontinuar. Nossos frigoríficos já estão parando de produzir para os EUA, haja vista a incertezada taxação. Com essa taxação se torna inviável a exportação de carne bovina aos EUA, que é onosso segundo maior comprador, depois da China.
Temos cerca de 30 mil toneladas que estão no porto ou nas águas e a nossa preocupação é como sedará o desdobramento a partir do dia 1o. É um volume de US$ 160 milhões que já estão produzidose a caminho dos EUA. O impacto é numa cadeia que gera milhões de empregos no Brasil, disse.
O representante da Abiec disse que apoia o governo brasileiro, por todo o trabalho de abertura demercados e que negocia com fornecedores. A sugestão, de imediato, é se possível uma prorrogaçãodessa taxação, pois existem contratos em andamento e não dá tempo de desfazer esses contratosaté o dia primeiro. Ou o retorno, disse Perosa. Lembrando que setor já é taxado em cerca de 36%,já tem alta taxa, e com mais 50% fica inviável para a exportação, disse o presidente da Abiec.
O presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFÉ), Marcio Cândido, destacouque o Brasil exportou no ano passado 50,4 milhões de sacas de café, das quais 8,2 milhões para osEUA, que é o maior consumidor de café. E o Brasil representa 33% de todo o café que é consumidolá. O café brasileiro, tanto arábica quanto o robusta, é o mais competitivo, disse. Agradecemosao governo por tudo que tem feito no Brasil e no exterior e defendemos o diálogo, disse opresidente da Cecafé.
Cândido disse que os empresários americanos acham que a medida é inflacionária porque o cafénão é produzido nos EUA e não concorre com o agro americano e achou positivo o convite do governopara conversar. Não só pela tarifa. É abertura de mercado, viagem para o exterior, eu estive 30dias na Ásia com o governo, então estou muito feliz de estar aqui. Nós vamos achar uma soluçãoe ela será benéfica para todos nós, finalizou o presidente da Cecafé.
Pavel Cardoso, Presidente da Associação Brasileira de Indústria do Café (Abic), ressaltou acomplementaridade do café brasileiro ao mercado dos EUA. A experiência que a indústria nacionaltem com a indústria americana, que também negocia esse equilíbrio na relação comercialBrasil-EUA, há todo um sentimento do setor que isso seja resolvido, disse. O ambiente aqui é denegociação, de urgência e de curto prazo para manutenção das boas relações comerciais que oBrasil tem com o país americano há mais de 200 anos.
Ibiapaba Neto, Presidente da CITRUS BR, que representa os exportadores de suco de laranja, disse que40% das exportações têm como destino os EUA e em 2024 movimentou US$ 93 bilhões em receitas,também destacando a complementaridade com este destino e a importância do diálogo e dopragmatismo na negociação. Agradecemos os ministros Alckmin e Fávaro que têm sido apoiadores dodiálogo, vamos manter o pragmatismo. O setor está bem preocupado, a safra está bem no começo,temos uma safra inteira para ser colhida sem saber se o nosso segundo mercado será mantido, pois atarifa de 50% associada aos US$ 515 por tonelada que o setor já paga, inclusive a mais do que seusprincipais concorrentes, certamente inviabiliza.
Guilherme Coelho, Presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas eDerivados (Abrafrutas) disse que os produtores têm hoje 2,5 milhões de hectares de frutas paracolher e 5 milhões de empregos e ressaltou a preocupação com a manga, especialmente. Nestemomento o que mais nos preocupa é a safra da manga para os EUA. O Vale do São Francisco está empânico. Essa safra significa 2,5 mil contêineres de manga para os EUA, foi planejada há seismeses, como todo ano, engloba embalagem, grandes, médios e pequenos produtores, reservas nos naviose supermercados. Estamos bastante inseguros. Não podemos pegar a manga e jogar na Europa, não temlogística, nem no Brasil, preço vai desabar. Urge o pensamento global, o desemprego em massa.Vamos exaurir a conversa disse o presidente da Abrafrutas. Espero que os alimentos não entrem nessataxação.
Coelho disse que antes não existia taxação, depois veio a de 10% e agora com a tarifa de 50%ficará inviável vender aos EUA. A safra de manga começa em 1 de agosto, concluiu a Abrafrutas.
Temporada de balanços do segundo trimestre
A temporada de balanços corporativos do segundo trimestre acabou ficando em segundo plano, mas osinvestidores esperam que as empresas apresentem algumas estimativas para os próximos meses nasteleconferências de resultados. No âmbito operacional, os destaques da semana serão asdivulgações da Embraer e da Vale, respectivamente, na segunda (21) e na terça (22), após ofechamento dos mercados.
Confira o calendário da temporada de balanços do segundo trimestre:
JULHO
Segunda, 21 de julhoEmbraer (operacional), após fechamento
Terça, 22 de julhoVale (produção e vendas), após fechamento
Quarta, 23 de julhoWEG, antes da abertura
Quinta, 24 de julhoMultiplan, após fechamento
Sexta, 25 de julhoUsiminas, antes da abertura
Segunda, 28 de julhoCarrefour Brasil, após fechamentoTelefônica Brasil, após fechamento
Terça, 29 de julhoMotiva (ex-CCR), após fechamentoPetrobras (produção e vendas), após fechamento
Quarta, 30 de julhoBradesco, após fechamentoEcorodovias, após fechamentoISA Energia Brasil (ex-ISA CTEEP), após fechamentoSantander Brasil, antes da aberturaTIM, após fechamento
Quinta, 31 de julhoAmbev, antes da aberturaGerdau e Metalúrgica Gerdau, após fechamentoMarcopolo, após fechamentoVale, após fechamento
AGOSTO
Segunda, 4 de agostoBB Seguridade, após fechamento
Terça, 5 de agostoEmbraer, antes da aberturaIguatemi, após fechamentoItaú Unibanco, após fechamentoKlabin, antes da aberturaPão de Açúcar, após fechamentoPRIO (Petro Rio), após fechamentoRD Saúde (Raia Drogasil), após fechamento
Quarta, 6 de agostoBraskem, após fechamentoBrava Energia, após fechamentoCasas Bahia, após fechamentoCogna, após fechamentoCopel, após fechamentoEletrobras, após fechamentoHypera, após fechamentoMinerva, após fechamentoSantos Brasil, após fechamentoSuzano, após fechamentoTotvs, após fechamento
Quinta, 7 de agostoAlpargatas, após fechamentoAssaí, após fechamentoAuren, após fechamentoB3, após fechamentoEnergisa, após fechamentoEngie Brasil, após fechamentoFleury, após fechamentoLojas Renner, após fechamentoMagazine Luiza, após fechamentoPetrobras, após fechamentoPetroreconcavo, após fechamentoPetz,após fechamentoRumo,após fechamentoSmart Fit, após fechamentoVivara, após fechamento
Segunda, 11 de agosto3Tentos, após fechamentoCaixa Seguridade, após fechamentoDirecional, após fechamentoItaúsa, após fechamentoNatura&Co., após fechamentoSabesp, após fechamentoSão Martinho *1T/Ano-safra 25/26, após fechamentoVibra, após fechamento
Terça, 12 de agostoAmericanas, após fechamentoAzzas 2154, após fechamentoBTG Pactual, antes da aberturaCVC Brasil, após fechamentoMRV, após fechamento
Quarta, 13 de agostoAllos, após fechamentoAutomob, após fechamentoBanco do Brasil, após fechamentoBradespar, antes da aberturaCosan, após fechamentoCSN, após fechamentoCSN Mineração, após fechamentoEneva, após fechamentoEquatorial, após fechamentoHapvida, após fechamentoJBS, após fechamentoLocaliza, após fechamentoPorto, antes da aberturaRaízen *1T/Ano-safra 25/26, após fechamentoRede D’Or, após fechamentoSLC Agrícola, após fechamentoTaesa, após fechamentoUltrapar, após fechamentoVamos, após fechamento
Quinta, 14 de agostoAzul, antes da aberturaBRF, após fechamentoCemig, após fechamentoCPFL Energia, após fechamentoCyrela, após fechamentoEztec, após fechamentoIRB Brasil, após fechamentoMarfrig, após fechamentoOi, após fechamentoYduqs, após fechamento
Sexta, 15 de agostoGol, antes da abertura
Cynara Escobar, Dylan Della Pasqua, e Vanessa Zampronho / Safras News
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