BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O protagonismo de Geraldo Alckmin (PSB) na reação ao tarifaço imposto a produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fortaleceu o vice-presidente para se manter no posto na chapa de Lula (PT) em 2026.
Essa é a avaliação de integrantes do governo Lula e de aliados de Alckmin. O papel do vice-presidente, ainda assim, é motivo de disputa: setores petistas querem que ele seja candidato a senador ou governador por São Paulo em 2026, enquanto o PSB demonstra querer mantê-lo no posto de vice.
Segundo relatos, o próprio Alckmin sinalizou não ter interesse em deixar o posto que hoje ocupa e acredita que conseguiu conquistar a confiança de Lula para isso. O presidente, por sua vez, ainda não teve uma conversa definitiva sobre o tema com ele ou dirigentes do PSB.
Além disso, aliados do vice-presidente traçam um cenário em que, entre os partidos aliados, o PSB é o único que tem clareza total de que estará com Lula em 2026. Nos demais, há dissidências que impõem discussões internas.
As conversas são parte de uma articulação mais ampla em torno dos palanques que Lula conseguirá montar nos estados. O quadro mais provável é que diversos ministros sejam candidatos a senador ou governador, em um esforço do lulismo para conter o avanço do bolsonarismo no Senado e para fortalecer a campanha de reeleição do petista.
Em junho, durante a convenção nacional do PSB que oficializou João Campos, prefeito de Recife, como presidente do partido, Lula falou da importância da eleição para a Casa em 2026.
“Precisamos ganhar maioria no Senado, senão esses caras vão avacalhar a Suprema Corte. Não é porque a Suprema Corte é uma maçã doce. Não. É porque precisamos preservar as instituições que garantem o exercício da democracia nesse país”, afirmou.
O presidente fez ainda um gesto ao partido, durante o evento: “Nós sempre governamos juntos. Nunca tive problema com o PSB em lugar nenhum, mesmo quando divergia. Quando acabava a eleição a gente encontrava jeito”.
Quem defende, no entorno de Lula, que a vaga de Alckmin seja aberta para um partido de centro leva em conta o fato de que o PSB já estará com o petista no ano que vem e seria melhor usar a vaga de vice como chamariz para outras siglas.
Para dar corpo à campanha de Lula nos estados, petistas projetam candidaturas de ministros de partidos aliados e também afirmam que alguns nomes terão que ir para o sacrifício. No jargão político, isso significa entrar na eleição com chances pequenas de vitória, só para marcar posição ou apoiar um aliado.
Essa discussão ainda não está estruturada dentro do partido. As conversas sobre o tema devem começar a avançar diante da posse, no domingo (3), do novo presidente do PT, Edinho Silva.
O estado mais visado é São Paulo, maior colégio eleitoral do país, com 34 milhões de eleitores.
Governistas avaliam que podem ter uma candidatura competitiva ao governo paulista e ganhar uma das duas vagas que estarão em disputa no Senado caso os candidatos sejam Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Nem Alckmin nem Haddad se mostram empolgados com a ideia.
Outro nome especulado para uma candidatura ao Senado por São Paulo é o da ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB). Essa ideia tem obstáculos, como o fato de Tebet ter feito sua trajetória política em Mato Grosso do Sul e se mostrar resistente a trocar de estado.
Um nome provável para uma chapa lulista em São Paulo é o de Márcio França (PSB), ministro do Empreendedorismo. Ele quer ser candidato a governador. Além disso, petistas começaram a avaliar a possibilidade de oferecer uma das vagas de candidato ao Senado ao deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP).
Em Minas Gerais, é possível que um dos candidatos a senador no campo lulista seja o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD). Ele disse à Folha que gostaria de concorrer. O provável candidato a governador é o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD). Petistas mineiros também tentam atrair o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, hoje sem partido, para uma chapa lulista no estado.
Outro dos principais ministros do governo que provavelmente disputará a próxima eleição é Rui Costa (Casa Civil), na Bahia. O PT é poderoso no estado e poderá lançar uma chapa quase toda composta por seus quadros: além de Costa, Jaques Wagner deverá concorrer à reeleição como senador, e o governador Jerônimo Rodrigues pode se candidatar a mais um mandato no cargo.
Em Pernambuco, uma das vagas ao Senado é de Humberto Costa (PT). A outra é disputada pelo ministro Silvio Costa Filho (Republicanos), por Miguel Bezerra Coelho (MDB) -filho do ex-lider de Jair Bolsonaro (PL) e de Dilma Rousseff (PT) no Senado, Fernando Bezerra Coelho- e pela ex-deputada Marília Arraes (Solidariedade).
Há no entorno de Lula quem defenda, por exemplo, que as duas vagas de candidato ao Senado em Pernambuco sejam de partidos aliados. O provável candidato a governador dessa aliança será o prefeito João Campos.
Também são cotados para candidaturas ao Senado os ministros Carlos Fávaro (PSD, Agricultura), por Mato Grosso, e Waldez Góes (PDT, Desenvolvimento Regional), pelo Amapá.
O ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), será candidato ao Governo de Alagoas. O movimento, porém, é motivado pela política local. Foi a maneira encontrada pelo ministro para manter seu grupo político coeso. Ele tem mandato de senador, e foi governador de 2015 a 2022.
Setores do PT gostariam que a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, fosse candidata ao Senado pelo Paraná.
Essa poderia ser considerada uma candidatura de sacrifício: Gleisi tem uma reeleição certa como deputada federal e enfrentaria muitas dificuldades para vencer uma disputa ao Senado em um dos estados mais bolsonaristas do Brasil.
No cenário atual, porém, é pouco provável que Gleisi dispute uma vaga na Casa. Pesa a favor dela o argumento de que sua votação para deputada federal ajuda a eleger colegas de partido para a Câmara. Só um pedido direto de Lula a faria se candidatar a senadora. O presidente da República, até o momento, não fez movimentos nesse sentido.