São Paulo, 6 de agosto de 2025 – Um levantamento inédito da Confederação Nacional da Indústria(CNI) faz um raio-x de como ficam as exportações brasileiras aos Estados Unidos, principal destinodas vendas da indústria de transformação nacional, considerando todas as tarifas adicionaisimpostas pelo governo de Donald Trump ao Brasil. No total, 77,8% da pauta exportadora está sujeitaa alguma taxação adicional, considerando as ordens executivas que instituíram as tarifas de 10%,de 40% e a Seção 232 do Trade Expansion Act, de 25% e 50%, aplicadas exclusivamente a produtos deaço, alumínio, cobre, veículos e autopeças. Mais da metade das exportações enfrentarãosobretaxas de 50%.
O levantamento baseia-se em dados da United States International Trade Commission (USITC), comanálise no nível de 10 dígitos do código tarifário norte-americano, o que permite identificarcom precisão os produtos sujeitos às medidas comerciais. É importante destacar que cada medidacomercial tem a própria lista de cobertura e isenções, o que significa que produtos livres de umatarifa adicional podem estar submetidos à outra.
O cruzamento mostra que dos 77,8% das exportações sujeitas a taxação adicional, 45,8% estãosubmetidas a tarifas de 40% ou 50% direcionadas especificamente ao Brasil.
“Esse retrato dá a dimensão do problema enorme que teremos de enfrentar e o quanto vamos precisaravançar nas negociações para reverter essas barreiras. É um trabalho que precisa envolvergovernos e os setores produtivos. Os EUA são os principais parceiros comerciais da indústria,precisamos encontrar saídas”, afirma Ricardo Alban, presidente da CNI.
Metade das exportações vai enfrentar teto das tarifas
Os dados mostram que 41,4% da pauta exportadora brasileira aos EUA, com 7.691 produtos de variadossetores, está sujeita à tarifa combinada de 50%. Em 2024, a exportação desses bens alcançou US$17,5 bilhões.
Principal segmento exportador ao mercado americano, a indústria de transformação responde por69,9% desse valor, com 7.184 produtos afetados pelas tarifas combinadas, que totalizaram US$ 12,3bilhões em 2024.
Os setores com maior número de produtos exportados afetados pela sobretaxa combinada de 50% seriam:Vestuário e acessórios (14,6%), Máquinas e equipamentos (11,2%), Produtos têxteis (10,4%),Alimentos (9,0%), Químicos (8,7%) e Couro e calçados (5,7%).
Os setores de aço, alumínio e cobre, sobretaxados pela Seção 232, representam 9,3% da pauta eenfrentarão tarifa adicional de 50%.
Combinados, esses blocos da pauta exportadora representam 50,7% das exportações brasileiras aosamericanos.
Indústria extrativa concentra maior parte dos produtos isentos
As exportações isentas concentram-se principalmente na indústria extrativa, que responde por68,9% dessas exportações, com destaque para petróleo leve e pesado.
Na indústria de transformação, o setor de Coque, derivados de petróleo e biocombustíveisrepresenta 21,5% do valor isento, especialmente outros combustíveis automotivos e óleoscombustíveis pesados (sem biodiesel). O restante do valor exportado isento concentra-se nos setoresde Metalurgia e de Madeira.
6,9% das exportações podem ser isentas da sobretaxa de 40%
A Ordem Executiva 14.323, que institui a tarifa adicional de 40%, inclui uma lista de produtos comisenção condicionada à comprovação de uso no setor de aviação civil. Em 2024, nesse recorte,as exportações brasileiras somaram US$ 2,9 bilhões, o que representa 6,9% da pauta exportadora.
O setor de Outros equipamentos de transporte exportou 41 produtos que totalizaram US$ 1,9 bilhão em2024. Aviões não militares entre 4,5 e 15 toneladas e acima de 15 toneladas concentraram 52,3%valor passível de isenção e têm maior probabilidade de se enquadrar na destinação paraaviação civil.
A aplicação da isenção prevista para a aviação civil pode alterar o alcance efetivo da tarifaadicional de 40% sobre 601 produtos exportados. Caso a exceção seja aceita, 577 deles ficariamsujeitos apenas à tarifa de 10% anunciados em abril, enquanto 4 estariam isentos de ambas.
Os setores com maior número de produtos exportados nessa condição seriam: Máquinas eequipamentos (34,9%), Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (26,5%),Máquinas, aparelhos e materiais elétricos (17,7%), Produtos de borracha e de material plástico(7,2%) e Outros equipamentos de transporte (7,1%).
Medidas setoriais da Seção 232 já afetam 12,3% da pauta exportadora
A análise mapeou também a parcela das exportações que pode ser impactada pelas medidas setoriaisjá em vigor pela Seção 232. Em 2024, essa parcela das exportações somou US$ 5,2 bilhões, oequivalente à 12,3% da pauta exportadora. Entre as medidas em vigor, aço e alumínio é a maisrepresentativa, com participação de 8,7%, seguido de veículos e autopeças (3,0%) e cobre (0,6%).
Além dessas medidas em vigor, os Estados Unidos têm ampliado o uso da Seção 232, com váriasinvestigações em curso que podem resultar na aplicação de tarifas adicionais a setoresespecíficos.
Estão sendo investigados setores de aeronaves e motores, caminhões, madeira, minerais críticos,produtos farmacêuticos, semicondutores, silício policristalino e sistemas aéreos não tripulados.Enquanto a investigação não for concluída, esses setores estarão sujeitos às alíquotasprevistas pelas ordens executivas publicadas pelo governo americano em abril e em julho.
CNI apresentou 8 propostas para apoiar setores mais afetados
Com o objetivo de atenuar os efeitos da aplicação das tarifas sobre a indústria nacional, a CNIapresentou ao governo federal uma lista de 8 medidas prioritárias com diversas propostas do setorem áreas como crédito, tributação, emprego e comércio exterior. A relação foi entregue aovice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), GeraldoAlckmin.
Confira as propostas:
Criar linha de financiamento emergencial do BNDES, com juros de 1% a 4% a.a., específicas paracapital de giro para empresas que tiverem exportações afetadas e suas cadeias produtivas
Ampliar, de 750 dias para 1.500 dias, o prazo máximo entre a contratação e a liquidação docontrato de câmbio de exportação nas modalidades Antecipação de Contrato de Câmbio (ACC) eAdiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE), especialmente aqueles que estão em andamento,realizados por bancos públicos e desenvolvimento, após o embarque da mercadoria ou após aprestação do serviço
Prorrogar o prazo e/ou carência para pagamento de financiamentos direcionados ao comércioexterior, como PROEX e BNDES-Exim
Aplicar direito provisório de dumping e reforçar os recursos humanos e tecnológicos para respostarápida a desvios de comércio
Adiar, por 120 dias, o pagamento de todos os tributos federais, incluindo as contribuiçõesprevidenciárias, e parcelar, em pelo menos seis parcelas mensais e sem incidência de multas ejuros, o pagamento dos valores dos tributos que tiveram o recolhimento adiado
Realizar o pagamento imediato dos pedidos de ressarcimento de saldos credores de tributos federais(PIS/Cofins e IPI) já homologados pela Receita Federal do Brasil e garantir compensações maiságeis e previsíveis
Ampliação do Reintegra, com elevação para 3% da alíquota de ressarcimento de tributos residuaisnas exportações
Reativar o Programa Seguro-Emprego (PSE) com aperfeiçoamentos.
Nossas propostas buscam mitigar os efeitos econômicos adversos aos setores afetados pelasbarreiras, preservar a capacidade exportadora das empresas brasileiras e garantir a continuidade dasoperações internacionais em um cenário de alta imprevisibilidade, afirma Ricardo Alban.
Cynara Escobar – cynara.escobar@cma.com.br (Safras News)
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