PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – O terremoto de magnitude 8,8 ocorrido na Rússia gerou reação imediata no Japão. O alerta de tsunami desta quarta-feira (30) atingiu ferrovias, rodovias e linhas aéreas do país, no auge do verão. A televisão japonesa mostrou multidões no alto de prédios.
O que pode parecer incômodo para moradores e turistas é resultado de uma ampla reforma no sistema de detecção e aviso de ondas grandes, motivada pela experiência catastrófica com o terremoto de magnitude 9,1 e decorrente tsunami em março de 2011, quando mais de 20 mil pessoas morreram.
As ondas que atingiram a costa japonesa chegaram a 1,5 metro, sem causar danos nem feridos. Apesar de o risco de um tsunami grave não ter se confirmado depois do sexto tremor mais forte da história, o país fez valer precauções para não repetir o desastre de 14 anos atrás. Trabalhadores que atuam na remoção de resíduos radioativos na antiga usina de Fukushima, devastada em 2011, foram retirados do local após o alerta.
Depois da tragédia na década passada, a mudança mais evidente foi a ampliação do número de avisos de evacuação em locais públicos no caso de tremores com ondas gigantes. Os cartazes estão em postes ou paredes por todo o Japão, seja numa praia, na calçada de uma avenida ou dentro de um shopping. Brilham no escuro, para o caso de tsunami noturno, e indicam onde a pessoa pode se refugiar, dependendo da altitude em relação ao nível do mar .
Desde 2022, a melhoria dos sistemas de alerta e detecção incluiu a construção de uma rede submarina de monitoramento na costa leste, no Oceano Pacífico, considerada agora a melhor no mundo.
A principal rede cobre a fossa oceânica do Japão, área de atividade sísmica, onde a placa tectônica do Pacífico desliza sob a placa da Eurásia. Foram instalados 5.700 quilômetros de cabos de fibra ótica no fundo do mar.
Eles conectam cerca de 150 estações de observação, equipadas com sismômetros, acelerômetros e medidores de pressão da água, para acompanhamento em tempo real.
Segundo o governo japonês, essas estações, somadas a um sistema de monitoramento de ondas por GPS, teriam reduzido o tempo para o disparo de alerta dos 15 minutos em 2011 para 3 minutos em 2022, quando foi disparado o aviso de uma onda gerada por um terremoto de magnitude 7.4.
A instalação de outras 36 estações na área de Nankai, também a leste do Japão, só terminou no mês passado.
Outra medida foi a otimização do algoritmo do sistema de alerta, para reduzir o problema de subestimar a magnitude dos terremotos nos estágios iniciais. Incluiu a integração de dados marítimos, por exemplo, das boias GPS.
Estas são vistas como um dos principais componentes da atualização pós-2011. Monitoram as ondas diretamente na superfície do mar, com precisão de quatro centímetros, identificando a formação do tsunami e como ele deve se espalhar. Em seguida, transmitem as informações por rádio para a Agência Meteorológica do Japão, responsável pelos alertas de tsunami.
Diversas outras ações foram implementadas, do uso de inteligência artificial para reduzir o tempo de cálculo dos dados de tsunami até os exercícios regulares de evacuação nas escolas de todo o país.