SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio à escalada da guerra tarifária de Donald Trump, o presidente americano conversou nesta terça (5) com o ucraniano Volodimir Zelenski sobre novas sanções que deverão ser aplicadas à Rússia a partir da sexta (8).
Naquele dia vence o prazo dado pelo republicano a Vladimir Putin para aceitar uma trégua no conflito iniciado por ele em fevereiro de 2022. Se não o fizer, como é considerado certo, o russo estará sujeito a novas punições econômicas.
Zelenski não detalhou a conversa, que classificou como produtiva. Em ocasiões anteriores neste mandato iniciado em janeiro, Trump falou com Putin antes de ligar para o ucraniano. O telefonema agora simboliza a mudança de disposição do americano, que vinha até aqui abraçando a visão russa do conflito.
Mais significativo, a conversa ocorreu um dia antes da chegada do negociador americano Steve Witkoff a Moscou. Ele deverá conversar com Putin, mas o consenso no entorno do Kremlin é que dificilmente haverá um acordo significativo.
O russo, segundo disseram pessoas com acesso ao núcleo do poder à Folha de S.Paulo, está satisfeito com os avanços em campo e crê que pode suportar bem novas sanções pelo menos até o fim do ano. A ressalva óbvia é que ninguém sabe exatamente o que Putin pensa, logo sempre pode haver surpresas.
Desta vez, contudo, o alvo principal delas não é a Rússia em si, já objeto de sanções draconianas desde o início da guerra. Até porque sua eficácia é duvidosa, dada a circunavegação das punições feita pela Rússia e a manutenção do esforço de guerra, os Estados Unidos agora miram nos aliados de Moscou.
Assim, China, Índia, Brasil e mesmo a membro da Otan Turquia estarão sujeitos a sobretaxas às suas importações pelo fato de comprar petróleo e derivados da Rússia. Trump já abriu essa trincheira com Nova Déli, até aqui uma queridinha do Ocidente na hora de fazer negócios.
Ao definir impostos de importação de 25% para os indianos, incluiu punições extra ainda não detalhadas porque eles “financiam a guerra” de Putin, nas palavras de Trump. Nesta terça, ele voltou ao tema e disse que “preços mais baixos de energia” irão tirar fôlego da Rússia.
“Se [o preço da] energia cair o bastante, Putin vai parar de matar gente”, disse à rede CNBC. “Se você jogar a energia para baixo, outros US$ 10 por barril, ele não vai ter opção porque sua economia está péssima”, disse.
Como reduzir preço punindo quem garante a demanda é uma lógica algo tortuosa, mas o fato é que os países clientes de Moscou podem sofrer impactos consideráveis. O Brasil, por exemplo, importa 60% do diesel que consome dos russos.
Se as sanções forem estendidas para qualquer tipo de transação, a coisa complica para o agro brasileiro: de 25% a 30% dos fertilizantes usados no país vêm da Rússia. Não por acaso, os rivais Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) sempre cortejaram Putin, ainda que tenham condenado na ONU a invasão.
No caso dos parceiros de Brics China e Índia, a questão é o petróleo cru. Desde que a União Europeia passou a limitar a compra do produto, em dezembro de 2022, Pequim ficou com 47% das exportações russas e Nova Déli, com 38%.
Zelenski também celebrou o anúncio feito pela Otan de que quatro países europeus da aliança militar ocidental vão comprar US$ 1 bilhão em armas americanas para doá-las a Kiev, no arranjo feito por Trump para reduzir o peso dos EUA na fatura da guerra.