Trump promete consequências muito severas se Putin não aceitar trégua

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após ouvir o apelo da Ucrânia e de líderes europeus para não abandonar Kiev na cúpula marcada para daqui a dois dias com Vladimir Putin no Alasca, o presidente Donald Trump disse nesta quarta-feira (13) que haverá “consequências muito severas” se o russo não concordar em cessar a guerra contra o país vizinho.

Ele falava a repórteres no Kennedy Center, centro de eventos em Washington. Questionado quais seriam as punições, ele não desenvolveu. “Haverá, eu não preciso dizer, haverá consequências muito severas”, disse.

Trump tenta assim tirar o selo de russófilo que voltou a colar em sua abordagem sobre a Guerra da Ucrânia. Após aproximar-se de Putin sem sucesso, ele o ameaçou com sanções contra aliados que compram petróleo e derivados russos, como China e Brasil.

Deu certo, e o russo aceitou a cúpula de sexta (15) em solo americano. Antes da reunião virtual de Trump com Volodimir Zelenski e líderes europeus, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que Trump levaria a ameaça de sanções secundárias, ao encontro com Putin.

A opção foi citada também pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e pelo anfitrião da videoconferência, o premiê alemão Friedrich Merz.

O encontro ocorreu devido ao temor europeu de que Trump abandone a Ucrânia e desenhe o fatiamento do país, que ele já defende, sozinho com Putin. Merz disse que “há esperança para uma paz” e que “a conversa foi extensa e construtiva”.

Após falar com Trump, os europeus divulgaram um comunicado conjunto com termos mais duros contra Putin, dizendo que a Rússia não pode ter poder de veto à entrada de Kiev na aliança militar Otan ou exigir a limitação de suas forças, que são demandas do Kremlin.

Já Zelenski disse ter avisado Trump que Putin está blefando, e voltou a pedir um encontro que o inclua à mesa. “Ele [Putin] está tentando nos pressionar na frente de batalha antes da cúpula no Alasca. Está tentando mostrar que pode ocupar toda a Ucrânia.”

Trump respondeu depois, afirmando novamente que pretende reunir-se com o ucraniano e o russo em breve, caso a cúpula com Putin dê resultado.

Ele havia demonstrado irritação com as críticas à sua tática. “Se eu libertasse Moscou e Leningrado [na Segunda Guerra Mundial, supõe-se], como parte do acordo com a Rússia, a Fake News [como ele chama a mídia em geral] diria que eu fiz um mau acordo”, escreveu na sua rede, a Truth Social.

Zelenski viajou a Berlim, onde juntou-se a Merz. Participaram online pelo lado continental também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, os presidentes Macron, Karol Nawrocki (Polônia) e Alexander Stubb (Finlândia), e os premiês Keir Starmer (Reino Unido) e Giorgia Meloni (Itália).

Também esteve no encontro o secretário-geral da Otan, o holandês Mark Rutte, próximo de Trump. Nawrocki disse que foi convidado pelo americano, embora inicialmente era prevista a participação do premiê Donald Tusk, seu rival.

Tanto Macron quanto Merz disseram que as concessões territoriais defendidas por Trump não foram debatidas.

Segundo Starmer, foram repassados para Trump os pedidos de Kiev: trégua seguida de negociações e o pedido por garantias de segurança, que no passado foram aventadas como uma força de paz europeia que Moscou rejeita. O comunicado conjunto voltou a falar e tais salvaguardas, sem detalhar.

RÚSSIA DESDENHA DA REUNIÃO

A Rússia desdenhou do encontro. O porta-voz diplomático Alexei Fadeev afirmou que Trump e Putin irão “discutir todas as questões acumuladas” na relação bilateral entre seus países, que não veem uma cúpula de seus líderes desde 2021. “As consultas com os europeus são insignificantes”, disse.

Fadeev afirmou que os objetivos de guerra de Putin seguem imutáveis desde que foram enunciados pelo presidente em junho de 2024: a conquista total das quatro regiões que anexou ilegalmente, a neutralidade militar de Kiev e o desarmamento do vizinho.

A esse cardápio ele incorporou outras exigências, como o fim da ajuda militar ocidental e até a realização de eleições, num memorando entregue neste ano na segunda das três rodadas de conversas diretas russo-ucranianas, promovidas por pressão de Trump. Zelenski não topou nenhuma, e pede o cessar-fogo para daí conversar, posição que não agrada a Casa Branca.

O temor central de Kiev e da Europa é que Zelenski tenha sua posição vendida pelo republicano, na ânsia de dizer que conseguiu uma trégua no conflito que se arrasta desde que Putin invadiu o vizinho em 2022. O americano insiste no que chama de troca de territórios, na prática cessão pela Ucrânia.

Integrantes do governo americano afirmaram ao site Axios que isso não irá ocorrer, e que a volta de Trump a uma posição percebida como russófila é só tática negocial. Pode ser, mas desde que voltou à Casa Branca, a maior proximidade com o Kremlin favoreceu Putin em campo.

Foi só com a aplicação da guerra tarifária como instrumento de pressão, ameaçando países compradores de petróleo e derivados russos de sobretaxas de importação e usando a Índia como exemplo prático, que Trump mostrou os dentes.

Deu certo, e a cúpula de Anchorage está sendo organizada às pressas, com Bessent relembrando a plateia de que as sanções secundárias estarão no cardápio.

Zelenski diz que isso é só manobra para a Rússia ganhar tempo, e viu no campo de batalha o pior início de semana desde que as defesas em torno da capital homônima de Donetsk foram rompidas pelos russos, no começo do ano passado em Avdiivka.

SITUAÇÃO NO LESTE DA UCRÂNIA SE AGRAVA

As forças de Putin avançaram de forma surpreendente junto a Dobropillia, no setor norte da frente de Donetsk, e alcançaram a rodovia T0514, que liga a cidade à capital regional provisória de Kramatorsk, ainda nas mãos de Kiev.

Isso ameaça cortar o suprimento ao principal centro administrativo ucraniano no leste, além de colocar a importante Pokrovsk, mais a leste, sob risco de capitulação final. Nesta quarta, mais dois vilarejos foram tomados, segundo Moscou.

O cenário geral é de colapso das defesas de Kiev na região, mas alguns analistas locais e o Exército de Zelenski dizem que a situação ainda está sob controle.

Donetsk é a mais importante das quatro regiões anexadas por Putin em 2022, e hoje os russos controlam 70% de seu território. Nas especulações acerca do que será dito no Alasca, os russos estariam dispostos a, em troca desses 30%, manter as fronteiras atuais que têm nas áreas invadidas ao sul, Kherson e Zaporíjia.

Lá, o domínio de Putin também é de 70%, e suficiente para manter uma ponte terrestre ligando a Rússia continental à península da Crimeia, passando por Donetsk e Lugansk —que está controlada por Moscou. Facilitando o acordo, a anexação ilegal não demarcou fronteiras, que são arbitrárias da divisão oficial da Ucrânia.

Em troca, o Kremlin sairia dos pedaços marginais que ocupa em Sumi e Kharkiv (norte), além de se comprometer a não mais atacar. Nada disso é visto como seguro por Kiev, que argumenta que um acordo do tipo plantaria as sementes de um futuro conflito.

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