BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O sistema GPS do avião da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi bloqueado durante voo de sua comitiva no domingo (31) para a Bulgária, afirmou um porta-voz da União Europeia nesta segunda-feira (1°). O jornal Financial Times havia antecipado a informação pouco antes.
“Podemos confirmar que houve bloqueio do GPS, mas o avião pousou em segurança. Recebemos informações das autoridades búlgaras de que elas suspeitam que isso tenha sido causado por uma interferência flagrante da Rússia”, disse o porta-voz.
Von der Leyen estava a bordo de um voo fretado, uma vez que os líderes das instituições da UE não têm aeronaves oficiais à sua disposição. O roteiro da viagem, que continua nesta segunda, não sofreu modificações.
Desde a sexta-feira (29), a presidente da Comissão Europeia faz um périplo pela “linha de frente”, os sete países que possuem fronteiras com Rússia e Belarus ou têm papel importante na estratégia do bloco de conter Moscou, como a Romênia. Nos diversos discursos que fez durante o fim de semana, a chefe da UE chamou Vladimir Putin de predador mais de uma vez, afirmando que o presidente russo não busca a paz.
“A guerra brutal da Rússia contra a Ucrânia está agora no seu quarto ano. Putin é um predador e seus representantes têm atingido nossas sociedades há anos com ataques híbridos, ciberataques e até a utilização de imigrantes como arma”, declarou na Estônia a política conservadora de 66 anos.
É a maior e mais ostensiva manobra diplomática de Von der Leyen contra o presidente da Rússia desde a invasão da Ucrânia, em 2022. A comissária também reiteradamente abordou as denúncias de ataques híbridos e sabotagens, como a que o governo búlgaro faz agora, supostamente ordenadas pelo Kremlin.
Segundo o Financial Times, o bloqueio do avião de Von der Leyen foi severo a ponto de os pilotos usarem mapas de papel para pousar em segurança no aeroporto de Plovdiv após cerca de uma hora no ar em busca de soluções. O problema teria ocorrido justamente quando o procedimento de pouso se iniciava.
De acordo com autoridades búlgaras, dispositivos em solo também ajudaram na operação. Desde o advento da guerra, em 2022, o país convive com interferências no GPS e em outros sistemas de comunicação, creditados na maioria das vezes a ataques híbridos e sabotagens patrocinadas pelo Kremlin.
Países do Báltico relatam problemas de natureza semelhante e denunciam, com frequência, que navios da chamada frota fantasma, que escoa petróleo russo pelo norte da Europa, muitas vezes desligam seus sistemas de rastreamento por receio de sanções. A Rússia nega as acusações.
O porta-voz da UE afirmou que o incidente reforça o “compromisso inabalável do bloco em aumentar as capacidades de defesa e o apoio à Ucrânia”. Um programa de financiamento para o setor de defesa de 150 bilhões (R$ 940,4 bilhões) teve adesão plena dos países-membros, disse Von der Leyen na sexta. A UE também propôs triplicar o orçamento para gastos com proteção de fronteiras.
Até a publicação desta reportagem, Moscou ainda não havia se manifestado oficialmente sobre a acusação. Ao Financial Times, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou que a informação obtida antecipadamente pelo jornal “é um erro”. No domingo, enquanto o avião de Von der Leyen enfrentava interferências, Peskov dizia em Moscou que o “partido europeu da guerra” estava atrapalhando os esforços de paz de EUA e Rússia.