[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS].
Fundada em 2002, a Petz tornou-se companhia de capital aberto em setembro de 2020 (PETZ3). É a maior rede do varejo pet no país, com 262 lojas (Cobasi vem atrás com 240 lojas), mais de 20 mil SKUs e presença em 24 unidades da federação – 64% na região Sudeste, 14% no Sul, 10% no Nordeste, 9% no Centro-Oeste e 2% no Norte. “A primeira loja deu breakeven em nove meses, e depois eu montei a segunda, a terceira e foi indo”, disse Sergio Zimerman, fundador e CEO da companhia em entrevista ao DC NEWS TALKS, o videocast da Agência DC NEWS. Desde a pandemia, no entanto, o mercado vem mudando, segundo ele. “O segmento tem crescido mais do que a gente. Nós crescemos em torno de 8% [2024]”, disse. O motivo: o avanço dos marketplaces. A solução: fundir Petz com Cobasi. O problema: a Petlove não gostou e reagiu oficialmente. “A Petlove diz que a fusão com a Cobasi vai aumentar preços. Não tem sentido”, afirmou o CEO. “A ideia é oposta por uma questão óbvia, baixar custo e, por consequência, preço.”
Apesar da robustez do segmento, a desaceleração, que vinha sendo percebida pelo executivo pós a pandemia, o levou à decisão de buscar o M&A com a Cobasi. Em agosto do ano passado, foi protocolada a intenção de fusão no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Em 2 de junho de 2025, a Superintendência-Geral do Cade aprovou a operação “sem restrições”, mas a Petlove recorreu e o caso aguarda julgamento final no Tribunal do Cade. Em nota, o Cade informou que: “o prazo para a análise do caso, atendendo à legislação vigente, se encerra no início de janeiro. Até dezembro, o Cade tem a previsão de três sessões de julgamento: 12 e 26 de novembro e 10 de dezembro”. Em sua petição, que é pública, assim como todo o processo de M&A, a Petlove afirma que “a operação compromete a concorrência e pode resultar em aumento de preços ao consumidor final”. A Petlove foi procurada, mas não se manifestou até o fechamento da reportagem.
Zimerman diz que a fusão é legítima porque não haverá monopólio de mercado. “Seria o primeiro monopólio do mundo de dez por cento”, afirmou. “Se a gente dominasse o mercado, não teria crescido menos que o próprio mercado.” O avanço da Petz, relatado em sua história institucional, acompanha a expansão do setor pet, que, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), alcançou R$ 75,4 bilhões em faturamento em 2024, aumento de 9,6% em relação a 2023. Os números da Petz, na prática, vem oscilando por razões como aquisições e ajustes em contas a pagar. Do lado positivo, cresce o canal digital e marcas próprias.
No último relatório aos investidores, do 2T25, a empresa reporta ao mercado lucro líquido de R$ 23,8 milhões, ou seja, variação de 2.820,3% sobre o 2T24 (R$ 818 mil). Em 2024, a receita bruta cresceu 5,3% a/a, alcançando R$ 4 bilhões, diz o RI. No acumulado do ano, no entanto, no que tange ao lucro líquido, a empresa registrou resultado negativo de R$ 27,5 milhões, após ter lucrado R$ 35,9 milhões em 2023. No 4T24, a Petz ficou negativa também, em R$ 43,1 milhões sobre o lucro líquido de R$ 5,15 milhões no mesmo período do ano anterior. A companhia justifica que os prejuízos se explicam, em parte, pelo ajuste de valor do swap cambial referente à linha de crédito 4131 em dólar, que impactou o resultado contábil. Aquisições de empresas também impactaram, aponta o relatório.
De acordo com documento, no 4T24, a receita bruta foi de R$ 1,1 bilhão, crescimento de 7,4% a/a, impulsionada pelo forte crescimento das vendas B2C, que avançou 9% a/a nesse trimestre.
O digital vem com força também – mesmo para quem tem DNA de varejo físico – não há escapatória. As vendas no canal digital da Petz totalizaram R$ 449,1 milhões no 4T24, crescimento de 6,4% a/a. Assim, a penetração digital atingiu 42,5% da receita bruta (2024). “Somos multicanal, entregamos em duas horas, mas ainda assim perdemos espaço aos marketplaces.” Sobre os resultados deste ano, o executivo disse que estão em linha com o que era esperado. “Devemos fechar o ano no mesmo patamar do ano passado, ou seja, não avançamos.”
De acordo com o calendário corporativo, o próximo balanço contábil de companhia será divulgado em 05 de novembro, referente ao 3T25. Zimerman afirmou que o foco é retomar margens e competitividade com produtividade e controle de custos. “Fundir com a Cobasi será bom para o mercado como um todo. Vamos melhorar eficiência. O consumidor vai ganhar”, disse. A progressão dos marketplaces no país tem preocupado Zimerman. “A gente concorre com produto roubado e pirateado nas plataformas”, afirmou. “O dono da plataforma não tem nenhuma responsabilidade sobre isso, nenhuma responsabilização concreta.”
Ele não menciona, durante a entrevista, uma plataforma em específico. “É um problema estrutural. Não vou nominar.” Para o executivo, os marketplaces contribuem para a perda de rentabilidade das empresas formais. “As leis precisam ser atualizadas e estamos atrasados nisso.” Zimerman atribui a necessidade de fusão à pressão dos marketplaces, que, segundo ele, distorcem a concorrência no varejo.
ECONOMIA – Ao falar sobre a conjuntura econômica, Zimerman destacou que o custo do capital e os juros altos são entraves diretos à expansão do varejo. “Nada justifica o Brasil ter 10% de juros reais [15% de taxa Selic], isso está asfixiando o varejo”, afirmou. “Temos mesmo de perseguir meta de 3% de inflação? Não poderíamos arrefecer isso para baixar juros?” Para ele, a retomada do consumo depende de crédito mais acessível e de estabilidade nas condições macroeconômicas. “Manter a economia estrangulada não faz sentido e inibe aceleração de investimentos”, disse. O executivo defende que a redução dos juros e a modernização regulatória caminhem juntas para que o setor volte a crescer de forma sustentável. Confira a entrevista.