Biblioteca Municipal celebra centenário, mira novos públicos e realiza sua 1ª virada literária

Uma image de notas de 20 reais
Guilherme Borba: traçar o perfil do usuário é crucial para planejar o futuro da biblioteca
(Andre Lessa/Agência DC News)
  • Com 2,5 milhões de visitantes nos dez últimos anos, a 'Mário', como é conhecida, terá festival comemorativo em outubro
  • Borba: “Faz tempo que as bibliotecas não são depósitos de livros. São centros de conhecimento e têm programação cultural”
Por Vitor Nuzzi Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

[AGÊNCIA DC NEWS]. Quase 2,5 milhões de pessoas passaram pela Biblioteca Mário de Andrade (BMA) nos dez últimos anos. Mas não existe levantamento sobre o perfil desses visitantes. É um desafio claro para o diretor da casa, o “geógrafo, urbanista, gestor e artista” – como se apresenta no Instagram – Guilherme Galuppo Borba, 42 anos, que assumiu o cargo há pouco mais de quatro meses, em 20 de janeiro. Coletar, avaliar e processar dados para diferenciar o público que consome o próprio acervo da instituição, o que vai lá simplesmente para ler ou estudar (com material próprio), o que procura coleções específicas para pesquisa. E até quem entra no prédio na região central inaugurado em 1942 (e tombado em 1992) em busca de um abrigo. A biblioteca veio bem antes do edifício: completa 100 anos neste 2025, com nova edição do Festival Mário de Andrade, em outubro, e outros projetos em gestação.

Inicialmente chamada de Biblioteca Municipal de São Paulo, com acervo original vindo da Câmara, ganhou o nome do escritor apenas em 1960. E é chamada pelos funcionários de ‘a Mário’. Guilherme Borba diz que é essencial conjugar duas visões para definir o papel e a imagem das bibliotecas. Ser tanto um lugar para sair do caos da cidade, quanto uma instituição para debater, ver e sentir. “Faz tempo que as bibliotecas não são depósitos de livros. É um centro de conhecimento e tem uma programação cultural.” O novo diretor cita a recente experiência que teve em quatro anos à frente do Arquivo Histórico Municipal, no bairro do Bom Retiro. Fala em “abrir o território” para o entorno da instituição. O que inclui certo viés de assistência social, “além das especificidades de uma biblioteca”. Um local “inclusivo e acessível”.

A biblioteca é de livre acesso e apenas algumas áreas exigem agendamento. A carteirinha é necessária para quem for solicitar empréstimo – é preciso levar documento com foto e comprovante de endereço recente (até três meses). Das quase 196 mil pessoas que frequentaram a BMA no ano passado, 60 mil (31%) foram à Sala Circulante, onde ficam os 56 mil títulos disponíveis para empréstimo. E 50 mil (25%) prestigiaram a programação cultural, com destaque para o Festival Mário de Andrade, que teve a primeira edição em 2019. “O festival foi um ganho enorme para a biblioteca na paisagem cultural da cidade”, afirmou o diretor. “Permitiu visibilizar e expandir o conhecimento que as pessoas podem ter de que existe uma biblioteca como a Mário de Andrade.”

Escolhas do Editor

Naquele primeiro ano do evento, o número de visitantes saltou da faixa anual entre 200 mil e 300 mil para quase 600 mil. Em 2020, no entanto, veio a pandemia, que fez despencar a frequência (veja quadro abaixo). Mas essa métrica não é a mais decisiva e deve reduzir. Parte do acervo ainda não está no sistema. “Quando a gente tiver todos os livros digitalizados e disponíveis, talvez diminua o número de frequentadores.” Em fevereiro, a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) assinaram convênio para preservação e digitalização do acervo – o investimento será de R$ 4,4 milhões.

O ESPAÇO – A biblioteca é dividida em salas, a partir do Salão Principal, onde fica a escultura A Leitura, inspirada na deusa mitológica Minerva, estão a concorrida Sala Circulante, que recebe de 500 a 600 pessoas por dia, e a Sala Infantil. No primeiro andar, a Sala das Artes (chamada Sérgio Milliet, que foi diretor de 1943 a 1959), Sala São Paulo (com obras sobre o estado) e a de Obras Raras, apenas para pesquisadores. A sede tem ainda um auditório e um terraço com vista para a rua Doutor Bráulio Gomes, onde fica a Hemeroteca – os periódicos ficavam antes em três bibliotecas menores. Inaugurada em 2012, os prédios são separados pela arborizada praça Dom José Gaspar, com direito a um painel de Mário de Andrade na fachada da Hemeroteca.

Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa, a cidade tem 52 bibliotecas de bairro, além da Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, de 1936, que fica na rua General Jardim, 485, na Vila Buarque. Também há bibliotecas nos Centros Culturais – Penha (José Paulo Paes), da Juventude (Jayme Cortez) e São Paulo (Sérgio Milliet e Louis Braille), onde também fica a Gibiteca Henfil. Entre os vários eventos ligados à instituição, entre hoje e amanhã a BMA promove a 1ª Virada Cultural Literária (Virada Lusófona), das 18h do sábado (24) às 18h do domingo (25), na onda da Virada Cultural. A biblioteca também retomou sua Feira de Troca de Livros, programada para o último sábado de cada mês.

“Bibliotecas, centros de documentação, arquivos e museus são instituições congêneres”, disse Borba, que pensa em construir uma rede de apoio entre instituições que lidam com memória e leitura. “O pensamento científico por trás dessas quatro instituições é correlato.” O diretor se define como “muito ligado na tomada” desde pequeno. E curioso. “A literatura, para mim, sempre foi acesso à informação e à reflexão.” Requisitos que, na sua visão, ajudam a habilitá-lo a dirigir a Mário sem ser bibliotecário.

Borba tem graduação em geografia e mestrado e doutorado em arquitetura e urbanismo, sempre pela USP. Servidor de carreira, é analista de políticas públicas. Para ele, o grande aprendizado é a gestão de pessoas. “O conhecimento da gestão do equipamento público é muito mais complexo do que a disciplina em si”, disse. “Os gestores têm que ser pessoas interdisciplinares.” Guilherme Borba consome mais livros acadêmicos. Mas, instigado, cita Marcovaldo, “um lado B de Italo Calvino”. O escritor italiano, nascido em Cuba (1923-1985), publicou esse livro em 1963. Mostra “descolamento entre o ritmo da cidade e o ritmo humano”, na definição do diretor da BMA. “Ele é uma grande esponja do que é a cidade.”

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