Estela Brunhara, Future Brand: "Consumidor abandona marcas em tempos de inflação. Oferecer vantagem é saída"
"É comum nesses momentos de crise as pessoas conhecerem marcas que antes não estavam abertas a conhecer." Oferecer vantagem para reter consumidor é uma saída
Especialista acredita que pequenos varejistas conseguem colocar em prática planos de retenção de forma mais rápida. "Operacionalizar é menos complexo"
Por Bruna Lencioni
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[AGÊNCIA DC NEWS]. Em momentos como o de agora, com combinação de inflação elevada (5,53% nos últimos 12 meses até abril), queda no poder de compra e juros altos (14,75%), é comum que o consumidor brasileiro reveja suas decisões de consumo, mudando hábitos e rompendo vínculos com marcas. A avaliação é de Estela Brunhara, diretora de Comportamento de Consumo e Estratégia da Future Brand, agência de marketing global que tem uma frente em inteligência (análise de dados de consumo é um foco), presente em 17 países, entre eles o Brasil. “Em momentos de crise, consumidor descobre marcas novas e abandona antigas”, disse em entrevista ao DC NEWS TALKS. O ponto crucial é: como reter este cliente. “Oferecer vantagem.” O videocast também trouxe, neste episódio, a análise macroeconômica de Isabela Tavares, economista-sênior da Tendências Consultoria, que confirmou essa inclinação. “As pessoas estão pensando mais no que vão consumir. O orçamento está apertado.”
As mudanças no comportamento de compra significam a quebra de lealdade à marcas, como explicou Estela Brunhara. “É muito comum nesses momentos de crise as pessoas conhecerem marcas que antes não estavam abertas a conhecer.” Por outro lado, ela reforçou que há um componente emocional, do cliente, com determinados rótulos. “Essa camada emocional também faz muito parte de toda a dinâmica de consumo.” Nesse sentido, marcas que pensam além do preço podem retê-lo. “A pessoa quer se sentir saindo com alguma vantagem.” O cashback é um exemplo, que pode valer para grandes e pequenos varejistas. E os menores conseguem fazer aplicabilidade de forma mais rápida. “Operacionalizar em empresas menores é mais rápido, é menos complexo.” A economista-sênior da Tendências Consultoria, Isabela Tavares, lembrou que o impacto dessa conjuntura sobre o varejo não é uniforme, mas observou que a decisão sobre o consumo naturalmente muda quando preços são elevados.
Isabela avaliou que os segmentos mais vulneráveis são os de bens duráveis, como eletrodomésticos e vestuário, cuja demanda tende a cair devido às condições financeiras mais apertadas e ao crédito caro. “O varejo de bem durável vai sentir esse cenário um pouco mais negativo.” Para enfrentar esse ambiente adverso, as especialistas afirmaram que as empresas precisam ajustar suas estratégias, e compreender o que as análises de economia e dados de inteligência de mercado estão dizendo. Estela destacou a importância de compreender as novas motivações do consumidor, que vão além do preço. “No passado, a gente falava muito: “‘O consumidor é fiel às marcas.'” Talvez hoje em dia isso não exista da mesma forma. “A lealdade não é a melhor forma de definir essa relação.” E reforçou o pensamento sobre obtenção de vantagem.
De acordo com Estela, muitas companhias têm investido em versões menores de seus produtos e embalagens econômicas – é o caso das maquiagens. Maior presença em marketplaces e canais digitais é outro ponto de atenção, válido para os mais diversos segmentos. “Uma maneira de encontrar essas alternativas, é pensar que tipo de produto eu posso passar a oferecer, às vezes até em termos de formato, de embalagem”, disse Estela. A transformação digital e a ascensão de novas plataformas também têm acelerado as mudanças no comportamento de consumo. O avanço do comércio eletrônico é um fato – as compras online superaram a marca dos R$ 200 bilhões no Brasil em 2024, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCOMM).
A chegada do TikTok Shop, conforme comentaram as especialistas, promete alterar ainda mais o cenário competitivo. “Se não estão preocupados, deveriam”, afirmou Estela. Na análise dela, o Brasil, como um todo, é muito assíduo de redes sociais. É um consumo mais fácil, de impulso. “Grandes varejistas e marketplaces vão precisar pensar melhores formas de responder a isso [Tik Tok Shop].” “As jornadas de compra precisam ser fluidas e sem barreiras [no físico e digital], para evitar perder consumidores para experiências mais ágeis”, disse Estela. Entender contexto econômico e tendência, e o papel daquela categoria, daquela marca dentro da lógica daquele público-alvo, é relevante para o varejista conseguir navegar de uma forma mais estratégica diante do cenário econômico, segundo a diretora de maketing.
Para Isabela, economista-sênior da Tendências, apesar dos desafios, ainda há espaço para performar. “É um cenário desafiador, mas ainda assim é de previsão de crescimento, talvez com margens menores.” A combinação entre análise de dados, escuta ativa do consumidor e adaptação ágil pode ser o diferencial que garantirá a sobrevivência e o sucesso das marcas em tempos de crise, como reforçaram as especialistas no DC NEWS TALKS. Confira a entrevista.
Isabela Tavares (à esquerda) e Etela Brunhara (Andre Lessa / Agência DC News)