[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Mesmo com a desaceleração global do setor de luxo, o Brasil mantém ritmo próprio. As vendas de produtos premium cresceram 7,2% em junho, contra 4,2% da média da América Latina, aponta pesquisa da Worldpanel by Numerator. O desempenho reflete a entrada de novos consumidores e a expansão da oferta de experiências sofisticadas. Esse movimento também foi sentido no mais recente estudo da KPMG, O Luxo em Transformação. Em entrevista à AGÊNCIA DC NEWS, Adriana Stecca, sócia-diretora e especialista em luxo da KPMG no Brasil, o valor percebido (e não apenas o preço) tem guiado o consumo no país. “O luxo é exclusivo, mas não é inacessível”, disse.
O bom momento das vendas no Brasil foi fortalecido também pela instabilidade em mercados consolidados, em especial nos países europeus, onde os desafios econômicos inibiram a demanda por artigos de luxo. A expectativa da Comissão Europeia é de um crescimento de 1,1% no PIB da região em 2025, enquanto o Banco Mundial estima incremento de 2,3% na média da América Latina e Caribe este ano. Além do motor econômico, há também uma mudança no entendimento do luxo que pode afetar as grifes. Segundo Stecca, tem havido um interesse pelo chamado quiet luxury – consumo de marcas de grife tradicionais de forma discreta, sem ostentação, diminuindo o apelo midiático do consumo e reduzindo o interesse do consumidor.
Conforme o relatório, após período de crescimento exponencial, a indústria global do luxo passa por uma fase de “turbulência”, com queda nas vendas de artigos de luxo em 2024 pela primeira vez desde a pandemia. Este momento de desaceleração é visto como uma transição – oportunidade para as marcas fortalecerem sua resiliência e repensarem fundamentos. Inclusive com novos mercados. “O que a gente vê é que há uma preocupação com a inclusão de um novo público”, disse Stecca. Segundo ela, o mercado de luxo também tem se voltado à criação de experiências sofisticadas e memoráveis. Essa tendência se manifesta na entrada de grandes marcas em setores como hotelaria e gastronomia, visando gerar maior valor para o consumidor.
De acordo com a executiva, a ideia moderna da exclusividade não é deixar mercados de fora, mas criar uma aproximação com as marcas em todos os lugares onde atua. A pesquisa Efeito High-Low dos consumidores latino-americanos, da Worldpanel, joga luz às decisões das marcas de luxo quando olham para mercados emergentes. A expansão do público consumidor não substitui o cliente tradicional, mas adiciona novas gerações e camadas de consumo. A categoria que mais cresceu nesse intervalo foi a de personal care ou cuidados pessoais, com incremento de 6,5%.
Para Stecca, as marcas de luxo estão investindo em categorias de entrada, como acessórios, para facilitar o acesso e criar um senso de pertencimento entre os novos clientes. “[As empresas] estão procurando chegar em regiões com potencial fora de São Paulo, como Minas Gerais”, afirmou a executiva. O atendimento do público também tem se reestruturado. Segundo ela, o luxo precisa de um ecossistema de lojas que vá além do e-commerce. “Isso também é um efeito muito [específico do] Brasil.”
Parte deste processo tem sido influenciada pelo que a sócia da KPMG chama de “tendência de personalização” cada vez maior. “Algumas marcas já estão criando ambientes fechados, às vezes temporários, que não têm uma fachada de loja, mas são exclusivos.” Além disso, a tecnologia e a inteligência artificial têm se mostrado fundamentais para aumentar a eficiência operacional, aprimorar a personalização das ofertas e alinhar a produção à demanda real dos consumidores. “Com automação, você consegue personalizar mais a sua oferta por um número muito maior de diversidade desses consumidores”, disse. A aposta do segmento no uso da tecnologia está em operações de CRM, gestão de fornecedores e logística. Entre tropeços e saltos, ela reforça que o mercado de luxo não perderá a forte relação entre qualidade e produção quase integralmente artesanal.
Adriana Stecca, sócia-diretora da KPMG
