[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O empresário José Pinotti, que completa 64 anos neste mês, vendia limão na feira e foi engraxate quando criança. Filho de uma costureira e um técnico de refrigeradores para frigoríficos, conta que desde cedo aprendeu a ser honesto. Mais tarde, chegou a abrir uma padaria e um depósito para materiais de construção. Somente em 1990, com o caminhão que utilizava nesse depósito e ainda faz rodar pelas estradas, resolveu entrar de vez no ramo logístico. Nascia, então, A Correta, companhia especializada no transporte de cargas para shopping centers, mudanças de lojas e armazenamento, com sede no km 201 da rodovia Fernão Dias, em Guarulhos, e que atende a clientes do varejo têxtil, sobretudo grifes, fazendo entregas para todo o Brasil. “Nosso principal comprometimento é com o horário de entrega – e isso alavanca bem os negócios”, afirmou. No ano passado a empresa faturou R$ 6 milhões, e deve crescer acima de 40% este ano, com faturamento esperado de R$ 8,5 milhões.
O otimismo da empresa este ano se deve principalmente a um novo cliente, a varejista Alo Yoga. Grife americana com 130 lojas no mundo e valor estimado em US$ 2 bilhões, a empresa abriu sua primeira loja no Brasil em maio deste ano, no shopping JK Iguatemi. A segunda unidade foi no shopping DiamondMall, em Belo Horizonte, e a terceira no outro Iguatemi, também paulistano. Ainda há uma quarta unidade a ser inaugurada — A Correta realizou o transporte de todo o material necessário para as mudanças. “Essa marca agregou bastante valor”, afirmou Pinotti. Outra alavanca para os resultados, em 2025, é a Dolce & Gabbana, multinacional de origem italiana avaliada em 2 bilhões de euros, com mais de 300 lojas no mundo – sendo 12 delas no Brasil. A grife está abrindo mais duas unidades e reformando outras duas, com apoio logístico de A Correta, em Balneário Camboriú (SC), Salvador (BA), Goiânia (GO) e Curitiba (PR). “Quem fabrica os móveis para eles fica em Curitiba. A gente vai lá, coleta os móveis e entrega nas lojas.”
Apesar de ser o motor de crescimento da transportadora esse ano, o segmento de mudanças representa apenas cerca de 5% do seu faturamento. A maior parte da renda advém do transporte logístico, isto é, a entrega dos produtos nas lojas, seja a partir dos Centros de Distribuição ou entre as lojas de uma mesma empresa, para mantê-las abastecidas. O objetivo, segundo o empresário, é regular os estoques. “Aqui tem tantas peças de roupa, nessa outra loja não tem, então pega umas peças dessa, leva para lá.” Para isso, a empresa dispõe de uma frota com 15 veículos, entre caminhões, carretas e vans. O valor médio das cargas transportadas é de R$ 1 milhão por automóvel ou R$ 2 milhões por dia — são R$ 78 milhões em cargas transportadas por mês —, e a distância percorrida é de, em média, 10 mil quilômetros mensais. Os principais clientes são o Dorben Group, que reúne marcas de luxo como Carolina Herrera e Louis Vuitton, e a JHSF, dona dos shoppings Bela Vista e Cidade Jardim.
Algumas, como os perfumes, são mais valiosas que outras e nenhuma viagem é feita sem seguro. Neste ano, no Rio de Janeiro, um só caminhão chegou a transportar um lote de computadores estimado em R$ 7 milhões da empresa de cibersegurança Compugraf. A partir de R$ 500 mil, todas as cargas precisam ser rastreadas, explicou Pinotti exibindo uma “isca”: “Isso aqui a gente coloca no meio da carga, porque se roubarem, conseguimos localizar. É um rastreador.” Outra medida de segurança é que “só abre a porta do baú quando chega no local. Se tiver fora do ‘alvo’, não abre”. Para trabalhar com shopping centers, acrescenta o empresário, a pontualidade é fundamental. “Trabalhar no shopping, ou entrega antes de abrir ou depois que fecha.” Com seus bons (e fieis) clientes, A Correta ganhou o Prêmio Empresário de Valor 2025 da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na Distrital Nordeste.
Nas mudanças, uma coisa que A Correta não faz é desmontar a parte elétrica das lojas – de resto, a empresa faz praticamente o serviço completo, incluindo retirar paredes divisórias e todos os objetos no interior dos estabelecimentos. A companhia tem 22 funcionários, dos quais 12 são motoristas e os outros, ajudantes e auxiliares administrativos. No transporte logístico terrestre, os veículos da companhia não cobrem viagens até as regiões Norte e Nordeste. Alguns pontos do Sul também não são atendidos pela empresa via rodovias. Nesses casos, Pinotti prefere utilizar o frete aéreo, que representa algo entre 15% e 20% do lucro. O transporte é feito por meio de uma parceria com a Gol Linhas Aéreas, com cerca de um voo por semana. “Às vezes a despesa aérea é maior do que o frete que estamos cobrando do cliente, mas nunca deixamos de atendê-los”, disse.
Para armazenar estruturas de lojas, material de vitrine e produtos, a transportadora tem um pátio de armazenagem com 1,1 mil metros quadrados, além de um mezanino com 500 metros quadrados onde a Dolce & Gabbana confiou a estocagem dos seus produtos. “A JHSF vai reformar o shopping Cidade Jardim. Vou trazer para cá cinco ou seis lojas”, disse Pinotti. “E vai ficar guardado até a reinauguração.” Quanto às coisas que fazem parte de vitrines, por exemplo, de Natal, os materiais passam o ano inteiro armazenados no pátio, e só são retirados durante as datas comemorativas, quando o comércio costuma incrementar a parte de frente das lojas com manequins diferentes e enfeites. No total, A Correta armazena cerca de 60 mil metros cúbicos em sua área interna, ao lado do estacionamento dos caminhões.
Questionado sobre o valor do próprio trabalho, Pinotti afirma gostar muito do que faz. “Tudo o que você vai fazer, se fizer contrariado, não faz bem. E nos dedicamos muito ao cliente”, o diferencial da casa, segundo ele, é compromisso. Em um ramo que ele definiu como muito volátil, o executivo afirma que as oscilações da economia e do país afetam diretamente seu fluxo de negócio – e por isso a fidelização dos clientes se torna ainda mais relevante. Quando o dólar dispara, afirma ele, os importadores trazem menos produtos, e há menos demanda logística. “Aí você perde carga, perde movimento.” Há ainda as imposições trazidas pelo o ambiente de negócios no Brasil que, segundo Pinotti, é agravado pela alta incidência de impostos. “A única coisa que atrapalha mesmo é o governo: as tarifas são muito altas.” E de onde vem o nome A Correta? Bom, Pinotti responde: “A empresa se chama assim por ser correta mesmo”, disse.