Especial Metrô-SP 50 anos. Acidentes também marcaram história em São Paulo. No mais grave, sete pessoas morreram

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Estação Pinheiros teve o pior acidnte da história do metrô, com sete mortes
Crédito: Divulgação/Alesp
  • Primeiro descarrilamento durante a operação comercial foi registrado em 1999 – 25 anos depois de os trens começarem a circular
  • Em fevereiro deste ano, Justiça condenou seis pessoas e sete empresas por responsabilidade no acidente de 2007 nas obras da estação Pinheiros
Por Vitor Nuzzi

Há 50 anos, em 16 de setembro de 1974, os primeiros paulistanos faziam suas viagens inaugurais no metrô. Havia apenas uma linha (a atual 1-Azul) e sete estações (da Vila Mariana até o Jabaquara). Hoje estão em operação 91 estações ao longo de 104km de linhas. Para marcar este meio século do sistema – decisivo não apenas para a mobilidade da metrópole, mas igualmente em sua transformação econômica –, a agência DC NEWS iniciou a série Metrô-SP 50 Anos. Pelos próximos dias, veicularemos reportagens para narrar suas melhores histórias e seus maiores desafios. Na de hoje, os acidentes ao longo do tempo.

Reportagem 4. Acidentes e incidentes.

Manhã de 19 de outubro de 1999, terça-feira, 9h40. Os passageiros do Metrô levaram um susto quando um vagão descarrilou ao deixar a estação Santana, na Zona Norte de São Paulo. O trem chegou a se chocar com a passarela de apoio, que ficou parcialmente destruída. Ninguém ficou ferido, mas o acidente provocou interdição da Linha Norte-Sul (atual Linha 1-Azul) durante horas. Foi o primeiro descarrilamento registrado na operação comercial, que havia começado em 1974.

Desde então, a Companhia do Metropolitano vem registrado ocorrências, tanto em obras como na operação. O registro mais recente é de março do ano passado: trens da Linha 15-Prata (monotrilho) colidiram duas vezes seguidas, nos dias 8 e 9, entre as estações Sapopemba e Jardim Planalto, na Zona Leste. Eram as mesmas composições. Em ambos os casos, antes do início das operações. Dois operadores tiveram ferimentos leves.

Outros dois descarrilamentos foram registrados no Metrô paulistano. Em 5 de agosto de 2013, uma segunda-feira, final da manhã, um trem descarrilou perto da estação Palmeiras-Barra Funda, na Zona Oeste (Linha 3-Vermelha, antiga Leste-Oeste, a mais movimentada do sistema). Todos os passageiros foram retirados pela passarela de emergência. Três anos e meio depois, em 7 de fevereiro de 2017, por volta das 15h, um descarrilamento interrompeu a circulação de trens entre as movimentadas estações Artur Alvim e Corinthians-Itaquera, na Zona Leste (também Linha 3). Mais uma vez, passageiros foram desembarcados pelas passarelas de emergência. Uma mulher teve ferimentos no pulso. Na ocasião, o Sindicato dos Metroviários de São Paulo informou que o maquinista relatou uma trepidação antes do acidente – e a empresa havia determinado o recolhimento do trem na próxima estação. “Se não fosse a grade de proteção, o trem teria caído na avenida”, disse Alex Fernandes, coordenador do sindicato.

Até hoje, o acidente mais grave no Metrô aconteceu em 12 de janeiro de 2007, nas obras da estação Pinheiros, da Linha 4-Amarela. Uma cratera de 80m de diâmetro e quase 40m de profundidade se abriu, causando sete mortes por soterramento: um funcionário do Consórcio Via Amarela, dois pedestres (uma aposentada e um office-boy) e quatro ocupantes de um micro-ônibus, que passava pela rua Capri. Além das sete pessoas soterradas, sete casas tiveram de ser demolidas, mais de 60 foram interditadas e 90 imóveis (comerciais e residenciais) sofreram alguma intervenção do poder público. Duzentas pessoas ficaram desalojadas. O micro-ônibus (reduzido a uma sucata de 60cm de altura), seis caminhões e dois carros foram engolidos pela cratera. O consórcio que realizava a obra era formado pelas empresas Odebrecht-CBPO Engenharia, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Alstom.

CONDENAÇÃO – Um mês e meio depois, em depoimento à Comissão Parlamentar na Assembleia Legislativa, o geólogo Osvaldo Souza Sampaio, assistente técnico da obra, disse não ter notado sinais anteriores que apontassem risco de desabamento. Porém, em 8 de janeiro – ou seja, quatro dias antes do acidente –, ele observou comportamento diferente do maciço, mas com movimentações consideradas normais. Ainda assim, sugeriu ao Consórcio Via Amarela uma reunião para avaliar se alguma providência deveria ser adotada.

Dezessete anos depois do acidente, em fevereiro deste ano, o juiz Marcos de Lima Porta, da 5ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, condenou seis pessoas, incluindo o presidente do Metrô na época, Luiz Carlos Frayze David, e sete empresas. A Justiça fixou multas que, somadas, chegam a R$ 240 milhões, a maior parte por danos morais coletivos. Ação de improbidade administrativa havia sido instaurada em 2010 pela Promotoria do Patrimônio Público e Social, do Ministério Público. O juiz afirmou na sentença que as perfurações “foram executadas no local já fragilizado, e os suportes de sustentação previstos não foram colocados de imediato”, em conduta de risco. Como é decisão de primeira instância, cabe recurso. A estação Pinheiros foi inaugurada em 16 de maio de 2011, seis anos após o início das obras.

Outros acidentes, ocorridos em 2014 e 2019 em obras na Linha 17-Ouro (monotrilho), mataram dois operários. Além disso, em fevereiro de 2022 foi registrado um desmoronamento em obras da Linha 6-Laranja, na Marginal Tietê, abrindo outra cratera. No ano anterior, um guindaste tombou perto da estação Vila Prudente, na Linha 15-Prata. Já em setembro de 2010, uma pane paralisou 18 estações da Linha 3-Vermelha durante duas horas. E há ainda os acidentes cotidianos.

De acordo com levantamento do telejornal SP1, da TV Globo, com base na Lei de Acesso à Informação (LAI), 550 pessoas sofreram acidentes de janeiro a maio deste ano – são três por dia, em média. Pouco mais de dois terços (67%) foram registrados em escadas, rolantes e fixas. Mas os dados mostram redução desde 2018. Para o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), por um lado falta atenção dos usuários, mas o Metrô também poderia sinalizar melhor esses locais.

Todas as reportagens do Especial Metrô-SP 50 Anos.

1. Os vários nascimentos do metrô de São Paulo

2. Implosões abrem caminho para o Centro

3. Estação da Luz

4. Acidentes e incidentes

5. Extensão do sistema deveria quase triplicar

6. Achados & Perdidos

7. Metrôs mais profundos