[AGÊNCIA DC NEWS]. O IPCA de janeiro veio abaixo do esperado e trouxe certo alívio, mas a expectativa é de que a pressão dos preços continue. A XP, por exemplo, avalia que a queda nos preços de energia será “revertida integralmente” na próxima divulgação do índice oficial de inflação. Esse item passaria de -14,2%, no primeiro mês do ano, para +17% em fevereiro. Segundo o IBGE, que divulgou o IPCA na terça-feira (11), a energia elétrica residencial foi o item com maior impacto negativo no mês: -0,55 ponto percentual. Com isso, o grupo Habitação variou -3,08%, com impacto de -0,46 ponto. A queda de janeiro foi influenciada pelo chamado Bônus de Itaipu, que prevê transformação de parte da receita em crédito nas contas.
Assim, o IPCA de janeiro ficou em 0,16%, na menor variação para o mês desde a implementação do Plano Real, em julho de 1994. Os principais impactos vieram dos grupos Transportes (alta de 1,30% e 0,27 ponto percentual) e Alimentação e Bebidas (0,96% e 0,21 p.p.). Em 12 meses, o índice está acumulado em 4,56%. A projeção do mercado é de que atinja 5,58% neste ano, segundo o Boletim Focus, do Banco Central. Essa projeção sobe há 17 semanas.
Em relatório, a XP destaca altas de alimentos in natura. A elevação mensal foi de 3,3%, “influenciada por eventos climáticos como chuvas excessivas em determinas regiões do país”. De acordo com o IBGE, entre os aumentos do mês, destacam-se os da cenoura (36,14%), do tomate (20,27%) e do café moído (8,56%). Na outra ponta, caíram os preços da batata inglesa (-9,12%) e do leite longa vida (-1,53%). “Vale destacar que, além de fatores que vem impactando a oferta de alimentos no país – em particular, eventos climáticos – a demanda aquecida observada na economia ao longo do último ano também contribui para a elevação dos preços”, afirmou a XP. “Dito isso, o início do ano costuma ser marcado por altas de preços dos alimentos, justamente como reflexo de fatores como chuvas e calor excessivos.” Além disso, a corretora ressalta a inflação dos serviços: o IPCA do setor mostra alta de 0,78% em janeiro e de 5,57% em 12 meses.
“Vale lembrar que o comportamento dos preços de serviços é essencial para análise do cenário de inflação prospectiva no país”, disse ainda a XP, em relatório assinado pelo economista Alexandre Maluf e pela estrategista de investimentos Rachel de Sá. “Em outras palavras, o que apontam preços como de cabelereiros, médicos e cinemas pode sinalizar mais sobre o que esperar da inflação do que se imagina.” Nos dados do IPCA, o item cabeleireiro/barbeiro sobe 0,77% em janeiro, serviços médicos e dentários têm alta de 1,30% e cinema, teatro e concertos, 0,41%. A maior alta mensal foi de passagens aéreas (10,42%), item mais volátil. A XP observa que a inflação de serviços reflete mais “a dinâmica de salários e do nível de demanda na economia – em um processo que se retroalimenta”.
PREÇOS&JUROS – No cenário interno, a economia ainda aquecida e o mercado de trabalho em alta seguem pressionando os preços, mesmo que em menor magnitude do que em 2024. Com isso, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central continuará elevando os juros. A XP projeta Taxa Selic em 15,50% até junho. “Apenas no começo de 2026 vemos um potencial espaço para o início de um novo ciclo de quedas. Porém, como destacamos, riscos seguem no radar tanto no Brasil quanto no mundo.”
Já o C6 Bank avalia que o cenário aponta, por enquanto, novo aumento de 1 ponto percentual na taxa básica na próxima reunião do Copom, em 18 e 19 de março. “Depois disso, o futuro da política monetária está indefinido, o que abre a possibilidade para um novo cenário, em que o Copom não elevaria a Selic até o patamar esperado por analistas de mercado”, afirmou a equipe econômica do banco. “Por ora, acreditamos que a Selic subirá até 15% e permanecerá nesse patamar até o final de 2025.” No Focus, a aposta se mantém em 15% há cinco semanas. No final de janeiro, o Copom elevou a Selic em 13,25% ao ano, na quarta alta seguida.
Ao citar a questão da energia, pressões sobre a gasolina e aumentos sazonais na edução, o UBS BB avalia que o IPCA de fevereiro poderá subir para 1,3%. Em 12 meses, atingir 5,1%. “Projetamos o pico em abril, em torno de 5,5%”, disse o banco. “Para o final do ano, continuamos prevendo 5%, abaixo do consenso de 5,6%.” Em relação aos juros, o UBS BB acredita que, além do já previsto aumento de março, o Copom eleve os juros em mais 1 ponto na reunião seguinte (6 e 7 de maio). Assim, a taxa básica ficaria em 15,25% até o final do ano.
Nos Estados Unidos, o CPI (Índice de Preços ao Consumidor) subiu 0,5% em janeiro, atingindo 3% na variação anual, acima do esperado, ante 2,9% no mês anterior. O resultado foi divulgado nesta quarta (12) pelo Bureau of Labor Statistics (BLS). O núcleo do índice, que exclui preços de alimentos e energia, mais voláteis, teve altas de 0,4% e 3,3%, respectivamente, também acima das expectativas dos economistas. Foi o maior aumento nos preços básicos desde abril de 2023. A inflação vem caindo desde 2022, quando chegou a 9,1% (junho). Mas com o resultado divulgado nesta quarta-feira (12), a aposta é de que o Federal Reserve adie – de junho para setembro – o corte nos juros. Segundo o CPI, os alimentos subiram 0,4%, ante 0,3% em dezembro (2,5% em 12 meses), com destaque para alimentos no domicílio (de 0,3% para 0,5%, acumulando 1,9%). Fora do domicílio, o índice passou de 0,3% para 0,2% (3,4% em 12 meses).
“As pressões sobre os preços persistem num momento de extrema incerteza sobre as perspectivas para a economia, poucas semanas após o início do segundo mandato do presidente Trump na Casa Branca”, disse The New York Times. “Prevê-se que as tarifas, as deportações, reduções de impostos e a desregulamentação tenham um impacto econômico, mas a combinação final de políticas determinará se os economistas e os gestores políticos estarão mais atentos ao risco de uma inflação que ressurge ou de um abrandamento inesperado do crescimento.”