Bolsa flerta com máxima histórica e dólar sobe após dados fortes dos EUA

Uma image de notas de 20 reais
Desde 2007, ano em que a Nota Fiscal Paulista foi criada, a iniciativa já devolveu cerca de R$ 19,1 bilhões aos participantes cadastrados
Crédito: Pixabay/Pexels

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,25% nesta quinta-feira (15), aos R$ 5,483, com a atividade econômica dos Estados Unidos mostrando mais força do que o esperado.

A sessão foi marcada por volatilidade na moeda norte-americana, que chegou a atingir a mínima de R$ 5,450 no meio da tarde, até reverter perdas perto do fechamento.

Já a Bolsa brasileira avançou 0,63%, aos 134.153 pontos, perto do recorde histórico de 134.193 pontos, registrado no fechamento de 27 de dezembro do ano passado. O Ibovespa chegou a atingir a máxima de 134.574 neste pregão, mas perdeu força ao longo do dia.

As negociações foram marcadas por novos números vindos dos Estados Unidos, que continuaram a elucidar o cenário da maior economia do mundo para os investidores.

Os pedidos de auxílio-desemprego, divulgados pela manhã, diminuíram para 227 mil na semana encerrada em 10 de agosto, ante expectativa de 235 mil de analistas consultados pela Reuters. Na semana anterior, haviam sido 234 mil pedidos, em dado revisado para cima.

Além disso, as vendas no varejo por lá cresceram 1% em julho, bem acima da projeção de 0,3% de economistas. Os dados de junho, antes em estabilidade, foram revisados para queda de 0,2%.

Na quarta-feira, o CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) ainda veio em alta modesta para julho, em 0,2%, depois de cair 0,1% em junho. Em 12 meses, ficou em 2,9%, ante 3,0% da leitura anterior.

O resultado mensal veio em linha com as projeções de analistas consultados pela Reuters; no comparativo anual, a expectativa era por 3,0%.

Os dados trouxeram ainda mais alívio aos temores de recessão que derrubaram Bolsas pelo mundo na semana passada. “Nós projetamos um pouso suave”, afirmou o economista-chefe Suno Research, Gustavo Sung.

A percepção de uma economia mais forte balizou as apostas sobre a política monetária norte-americana.

Agentes financeiros dão como certo que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) irá começar o ciclo de cortes de juros na próxima reunião, marcada para setembro, mas com uma redução mais branda do que o esperado por causa da resiliência econômica.

Antes, com os temores de uma desaceleração acentuada na economia, um corte de 0,50 ponto percentual na taxa de juros -atualmente na faixa de 5,25% e 5,50%- era a aposta majoritária, com especulações até de uma reunião extraordinária do Fed para adiantar o ciclo de afrouxamento.

Agora, uma redução inicial de 0,25 ponto se tornou a de maior probabilidade, com endosso de 76,5% dos investidores, segundo a ferramenta CME FedWatch.

A iminência do início dos cortes nos Estados Unidos tem levado investidores a ativos de risco, como o mercado acionário brasileiro. Isso, somado à temporada de balanços corporativos, tem dado fôlego ao Ibovespa, que acumula uma sequência de oito pregões no positivo.

Já o dólar costuma se depreciar à medida que o Fed reduz os juros. Em tese, ele se torna comparativamente menos atrativo em relação a outras moedas quando os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro, chamados de treasuries, caem.

A moeda norte-americana, no entanto, firmou em alta ao final da sessão desta quinta, estendendo ganhos da véspera após a divulgação do CPI.

“O que explica esse processo é a leitura de que o Fed deve fazer reduções mais moderadas na taxa, o que deixa o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos praticamente estável”, explica André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.

Os investidores se valem das diferenças entre taxas de juros para efetuar o chamado “carry trade”, ou seja, quando tomam empréstimos a taxas mais baixas e aplicam esses recursos na moeda de um país de juros maiores -uma operação que costuma favorecer o real.

“O que deu suporte à valorização da moeda brasileira nos últimos dias foi a fala de Gabriel Galípolo [diretor de política monetária do Banco Central] na segunda-feira sobre a possibilidade de aumentar a Selic. Com a leitura de que o Fed vai começar o afrouxamento de forma mais moderada, há menos ímpeto para investir no real do que antes.”

A percepção crescente de que o Banco Central deve manter a taxa Selic no atual patamar de 10,50% ao ano, ou até mesmo elevá-la antes do final de 2024, virou o foco da cena doméstica.

Favorito para assumir a presidência da autarquia ao fim do mandato de Roberto Campos Neto, Galípolo reforçou que um novo aperto na Selic está na mesa, em mensagem que já havia aparecido na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC).

“Talvez em algum momento, quando se colocou o cenário alternativo, foi lido como retirar da mesa a possibilidade de alta. E isso não é a realidade do diagnóstico do Copom. A alta está na mesa, sim, do Copom”, afirmou Galípolo.

No dia seguinte, em audiência pública na Câmara dos Deputados, Roberto Campos Neto afirmou que a autarquia tenta “manter a taxa de juros o mais baixa possível fazendo a inflação convergir para a meta”.

A autoridade monetária trabalha com a meta em 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Na leitura de julho do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o resultado anual veio em 4,5% -exatamente no limite da banda.

A taxa Selic, principal instrumento do BC para controle da inflação, é alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde antes mesmo do início do atual mandato.

Nesta quinta, ele afirmou que é preciso reduzir os juros para o que chamou de “patamar razoável” e que, caso o Fed de fato reduza a taxa norte-americana em setembro, o caminho para que o BC faça o mesmo será facilitado.

Lula falou ainda que as coisas vão mudar, mencionando a indicação do sucessor de Campos Neto no Banco Central, mas sem citar nomes.

“Estou trocando presidente do BC, vou ter que indicar agora porque será substituído no fim do ano. As coisas vão mudando. Não pode fazer nenhuma loucura. Economia não tem loucura, tem bom senso. Se eu fizer uma loucura e eu perder o controle, a gente vai levar o povo ao desastre. Não quero que inflação volte”, afirmou.

Na cena corporativa, a resseguradora IRB disparou 30,66% com resultado acima das expectativas no segundo trimestre.

Petrobras subiu 1,54%, em linha com a alta do petróleo Brent no exterior. Ambev (+3,74%) e o setor bancário ajudaram a dar mais fôlego ao Ibovespa.

Vale teve alta de 0,41%, mesmo com a desvalorização do minério de ferro na China.

Petz foi destaque na ponta negativa, com perdas de 9,69% após lucro abaixo do esperado por analistas.

Na quarta-feira (14), a moeda norte-americana fechou em alta de 0,37%, aos R$ 5,469, e a Bolsa brasileira avançou 0,69%, aos 133.317 pontos, o maior patamar desde 27 de dezembro do ano passado, quando atingiu a máxima histórica de 134.193 pontos.