Dia do Empreendedorismo Feminino: 66% têm independência financeira e 58% lideram seus lares

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Segundo levantamento, mais de 40% têm dificuldade de conciliar vida profissional e pessoal
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  • Quase 30% ainda não têm CNPJ, mas manifestam a intenção de formalizar seus negócios, enquanto 16% afirmam não ter planos de registrar sua empresa
  • Ramo de beleza, estética e bem-estar lidera entre os de atuação feminina (21,5%), seguido por alimentação/ gastronomia (19,1%) e vestuário/acessórios (15,6%)
Por Anna Scudeller e Bruna Galati

No Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, data criada pela ONU em 2014, um levantamento confirma que a atividade continua a ser importante caminho para a independência financeira das mulheres brasileiras. De acordo com o novo estudo da Rede Mulher Empreendedora (RME), que traçou o perfil das profissionais neste ano, 66,1% delas se declaram financeiramente independentes e 58,2% chefiam suas famílias. Esses números refletem uma transformação significativa captada pelo Censo Demográfico de 2022, do IBGE: 49,1% das 72,5 milhões de unidades domésticas no Brasil têm mulheres como responsáveis – em 2010, apenas 38,7% dos domicílios eram chefiados por mulheres. Além disso, o estudo da RME destaca que 73,1% das empreendedoras têm filhos – a maioria (68,4%) começou a empreender após a maternidade, enquanto 37% são mães solo.

Ao serem questionadas sobre impactos positivos de ter o próprio negócio em uma escala de 1 a 5, as mulheres atribuíram 4,8 pontos à possibilidade de ganhar dinheiro fazendo o que gostam, 4,7 pontos ao fortalecimento da autoestima e 4,6 à ampliação das perspectivas de um futuro melhor, reforçando os benefícios pessoais e profissionais do empreendedorismo. Em relação ao nível de satisfação com a vida profissional, as empreendedoras atribuíram pontuação 4. Pouco mais da metade (51%) têm ensino superior. A maioria tem de 40 a 49 anos (31,2%) e de 30 a 39 anos (28,6%).

Das 2.141 mulheres entrevistadas, 37,1% são Microempreendedoras Individuais (MEIs), enquanto 8,3% são Microempresárias (ME) e apenas 2,2% possuem o status de Empresa de Pequeno Porte (EPP). Por outro lado, 28,6% ainda não têm CNPJ, mas manifestam a intenção de formalizar seus negócios, enquanto 15,9% afirmam não ter planos de registrar sua empresa – os principais motivos para a informalidade são os altos impostos (40,9%) e a falta de interesse (31,6%). Há ainda 5,2% que se declaram Sociedade Limitada. A formalização é maior entre brancas (64,1%) do que entre pretas e pardas (48,9%), que também têm renda individual e familiar menor.

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A pesquisa ainda mostrou que o ramo de beleza, estética e bem-estar lidera entre os setores de atuação feminina (21,5%), seguido por alimentação e gastronomia (19,1%) e vestuário e acessórios (15,6%). Para Lina Useche, fundadora da ONG Aliança Empreendedora, o vínculo das mulheres com suas famílias e comunidades frequentemente impulsiona seus empreendimentos. “Esse olhar voltado para um empreendedorismo de impacto é algo mais característico das mulheres”, afirmou Lina, única latino-americana premiada entre as cinco mulheres reconhecidas pelo The WE Empower Challenge da ONU, iniciativa que celebra empreendedoras comprometidas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e com a transformação de suas comunidades.

Já em relação aos desafios das mulheres empreendedoras, o estudo mostrou que 43% delas têm dificuldade em conciliar vida pessoal e profissional. Outras barreiras incluem marketing e divulgação (40,7%), fidelização de clientes (32,8%) e gestão financeira (30,1%). “As mulheres são a base da economia do cuidado. Muitas vezes, abrem mão de seus próprios projetos por falta de uma rede de apoio, assumindo responsabilidades que vão além dos filhos, como cuidar de outros membros da família”, disse Lina.

DESAFIOS – Diante dos desafios citados, as empreendedoras destacaram o que poderia impulsionar o crescimento de seus negócios. O acesso a crédito lidera a lista de necessidades, citado por 52,9% das mulheres. Parcerias com outras empresas e pessoas aparecem em segundo lugar, sendo desejadas por 45,6% das entrevistadas. A capacitação é outro fator crucial: 39,9% afirmaram que a capacitação na área de atuação ajudaria a desenvolver melhor seus empreendimentos. Além disso, 37,2% consideram que aportes financeiros, como investidor-anjo ou capital semente, seriam fundamentais para alavancar suas atividades. Dois terços (66,4%) das empreendedoras não receberam auxílio financeiro para investir no negócio. 

O faturamento mensal também demonstra os desafios enfrentados no crescimento de seus negócios. De acordo com o levantamento, 43,1% das mulheres que empreendem têm receita mensal de até R$ 2 mil, enquanto 25,1% faturam entre R$ 2 mil e R$ 5 mil. Já 9,6% conseguem alcançar de R$ 5 mil e R$ 10 mil por mês, e apenas 2,9% registram faturamento mensal de até R$ 15 mil, 2,2% de R$ 15 mil a R$ 20 mil e 4% acima desse valor. “Muitas precisam de crédito para desenvolver suas empresas e aumentar o faturamento, enquanto equilibram ‘muitos pratos’ para lidar com suas múltiplas atividades”, afirmou a RME na conclusão do estudo. Essa sobrecarga tem impacto significativo no desempenho empresarial, avaliado em 7 pontos, em uma escala de 1 a 10, pelas próprias entrevistadas.

A gerente executiva do Instituto RME, Débora Monteiro, afirma que o futuro do empreendedorismo feminino no Brasil é promissor, impulsionado por iniciativas como a aprovação da Estratégia Nacional de Empreendedorismo Feminino – Estratégia Elas Empreendem, desenvolvida por dois ministérios (das Mulheres e do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte). Além disso, o aumento de projetos sociais voltados para mulheres, especialmente das periferias, tem desempenhado papel fundamental no desenvolvimento de pequenos negócios. Débora ressalta ainda o impacto positivo do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), que agora exige que 50% do crédito disponível seja direcionado obrigatoriamente a negócios liderados por mulheres. “Apesar das dificuldades, o empreendedorismo tem proporcionado independência financeira, tornando essas mulheres mais confiantes”, disse.

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